Durante este Sábado, assisti amiúde à descida do Partido Chega pela Avenida da Liberdade, num gesto de proclamação de inexistência de Racismo em Portugal...
Muito bem!
Não escrevo este texto preocupado com Racismo, Preconceito, Homofobia ou qualquer outro tipo de discriminação em concreto, não será esse o mote do meu desabafo.
O ponto exacto que perturbou o meu pensamento foi a constatação da "nossa" Parrachita nessa manifestação, a sua presença em destaque, o mais possível, nessa frente unida de gente Não Racista.
Adorei...
Se fosse singelamente comédia seria perfeita, no entanto, parece que não é.
A minha preocupação, atendendo às imagens, foi para com a saúde da querida Maria Vieira, sempre irrequieta e dinâmica, perseguida por aquela faixa que teimava em lhe tapar o rosto.
Imagino as dores na coluna que não deve ter sentido, a "pequenita" actriz, no fim da manifestação, com a faixa a subir e descer, sem poder erguer a sua mão bem alto, pois era imperioso se manter ao lado do seu querido líder...
De pescoço esticado ao lado do seu Ventura.
Reparem que é metro e meio de comédia mas daquela energicamente dramática.
Ainda por cima com a dita máscara, protecção essencial nos dias que correm, não poderíamos reconhecer com tamanha facilidade a "simpática" actriz, sem o habitual espumar de boca, actualmente demonstrado em suas crónicas e palavras.
Suas?
Talvez.
Ao observar aquele desfile de gente, aquela maresia de gente amigável, não pude deixar de imaginar um governo do jovem André, com a Cultura ali em destaque...
Maria Vieira como Regina Duarte, a Rainha daSucata, André Ventura como Bolsonaro.
Olha que ideia preciosa.
E de facto, talvez não andasse longe da verdade, pois quem com cultura, pelo menos um pedaço dela, poderia querer tal lugar?
Cada País tem a Regina Duarte que merece e a nossa é a Maria Vieira.
Com a imensa diferença de que por terras Lusas, Graças a Deus e com imensa esperança, acredito que jamais um populista e demagogo como Ventura chegará ao poder.
Mas isto sou eu que, por vezes, insisto em acreditar na Raça Humana...
Gosto das palavras, gosto da sua beleza, da sua melodia, daquelas que encantam o poema num dia de luar.As palavras têm o dom de nos fazer sonhar, quando largadas ao vento levam-nos para onde quisermos. As palavras vestem-se sempre de significados que apenascada um de nós as sabeinterpretar.
Contudo, existem palavras que nunca deviam ser pronunciadas, palavras que se vestem de dor, de solidão, de raiva, de desespero. Palavras sós que não se aconchegam, não se amam, não se ligam, palavras em turbilhão, tal qual aquelas que andam às voltas na fervura de qualquer receita.
Mas numa caldeirada, as palavras que compõem a melodia da receita devem ser cozinhadas em lume brando, para que fiquem apuradas, acrescentando-lhes harmonia. Tais como aquelas palavrasque se aconchegam ao caldo de mansinho, vestidas de esperança, de paz, de carinho, de compreensão e muitaafeição. Palavras afáveis que amam, que cuidam, que acolhem, que acariciam, palavras que amigam até ao fim da receita bem apuradinha.
Todavia, as palavras também têm memórias que o tempo se vai encarregando de as transportar, enquanto persegue o seu longo caminho. Algumas destas palavras seguem o vento para nunca mais regressarem, deixando apenas por terra a palavra saudade.Outras vestem-se de primavera, são palavras aromáticas, frescas que se renovam, palavras sábias que constituem inúmeras receitas: palavras para temperar o coração, para adoçaro chá da nossa essência, para apimentar o sentimento mais profundo...
Enfim, palavras melódicas, vestidas de felicidade que vêm dar cor esaboràcaldeiradada nossa vida.
Sempre se confirma. Não é anedota: uma Vieira, um Ventura e um Machado encontram-se numa avenida...
Curiosamente, a avenida onde eles se encontram, não se chama Avenida da Xenofobia. Chama-se Avenida da Liberdade. Liberdade essa que lhes permite fazerem a ridícula figura que irão fazer. Para deleite de alguns ressabiados e mentecaptos que os apreciam. Atenção: não digo que toda a gente que apoia esta 'manif' é ressabiada e mentecapta. Podem alternar. Acho que as pessoas razoavelmente inteligentes que os apoiam (mais que razoavelmente inteligente já não acredito) são os ressabiados. Existem também os mentecaptos (gente incapaz de raciocinar além do 'soundbite') e aqueles que acumulam ambas as características. Há também uma série de outras características comuns a estes apoiantes mas estas são as mais transversais aos meus olhos.
Se assim não for, alguém me explique. Qual o sentido, de um partido composto exclusivamente por caucasianos, acompanhado de uma atriz conhecida pelos polémicos post's xenófobos e ainda com o líder de um grupo neo-nazi irem fazer uma 'manif' a dizer 'Portugal não é racista'. Isto não é provavelmente a coisa mais estúpida de sempre? Alguém que não seja ressabiado ou mentecapto consegue defender isto? Se sim, que defenda nos comentários por favor que cá estarei para reconhecer que estou errado, se for caso disso.
Exaspera-me ver estas odes à estupidez e ver pessoas que em tempos considerei e tive respeito a defender estes anormais, (anormal no sentido figurado, infelizmente são mais normais do que eu gostaria) .
Uma coisa boa no meio disto tudo, estão identificados e não serão levados a sério. Pelo menos por mim (e espero que haja mais como eu). Três deles nunca foram (Maria Vieira, André Ventura e Mário Machado): a parrachita era actriz de comédia e teve o seu tempo de glória à conta de muitas pessoas que lhe deram a mão e a quem agora ela 'cospe no prato onde comeu'. Nunca a levei a sério, agora que lhe mudaram quem escreve os textos nem sequer tem graça. Ventura, outro palhaço mas ao contrário da parrachita é palhaço amador. Ficou conhecido por comentar futebol, ameaçar de porrada por email e acobardar-se ao vivo, prometer sob palavra de honra e não cumprir, dizer que abdicava disto e daquilo se fosse eleito e não abdicar: o típico 'Chico esperto', nunca enganou ninguém (que não seja mentecapto ou ressabiado, bem entendido). Finalmente e para compôr esta trindade, temos o Mário Machado. Alegado assassino e confesso neo-nazi. A ser verdade, a escumalha mais mal cheirosa da nossa sociedade. Quem se puser ao lado deles, está apresentado e faço já o meu diagnóstico selvagem. Mentecapto e\ou ressabiado que acha que os seus problemas e os do mundo são culpa dos outros. De preferência de minorias indefesas, ou pelo menos mais fracas. Toda a gente em Portugal percebe o absurdo disto, certo? Como dizia o Bruno Nogueira no "Tubo de Ensaio", isto é como se os taurinos fossem fazer uma 'manif' a dizer 'em Portugal não há carnívoros' , ou como se a Juve Leo, os No Name Boys e os Super Dragões se juntassem para dizer 'em Portugal não há claques'.
Parece que já estou a ver, algum ser humano inspirado por esta ideia: irá para uma biblioteca e quando as outras pessoas estiverem a ler ele começará a gritar ininterruptamente- AQUI HÁ SILÊNCIO! AQUI HÁ SILÊNCIO! Eu estarei ao lado da pessoa que lhe puser firmemente a mão no ombro e lhe disser:
- Só quando te calares, meu ganda estúpido.
JB
* adenda: imagem de Miguel A Lopes\Lusa adicionada a 27 de junho devido ao seu elevado valor simbólico.
Sorrisos de orelha a orelha. Festas. Milhares de likes no Instagram. Convites para estreias no cinema. Dezenas de cremes de oferta em casa. Casas. Carros. Presença assídua no pequeno ecrã. Capas de revista.
Não é por alguém ter tudo isto que tem de ser obrigatoriamente feliz.
O suicídio daqueles a quem supostamente não falta nada faz-nos questionar o furacão que vive dentro de quem por fora apenas exterioriza um mar sereno. E quando chega a fatídica hora os comentários dividem-se entre quem nunca de nada se apercebeu e os que tinham notado nos últimos dias um vazio que provavelmente sempre lá esteve, mais ou menos atenuado.
Não existem verdadeiramente culpados. Quem sofre durante anos aprende a fazê-lo em silêncio, a calar a angústia, a dar a mão e o braço aos outros quando na verdade precisava era de um abraço. E a bola de neve vai crescendo, cada vez com mais força, até que engole uma pessoa, não havendo noites de sono, nem garrafas de vinho, nem noitadas com os amigos que a possam salvar.
O maior erro de quem sofre é partir do princípio que os outros vão desvalorizar os seus problemas - apesar de não existirem problemas grandes ou pequenos, existem sim problemas - ou que não o vão perceber.
E muito provavelmente os outros não o vão perceber, mas não é esse o ponto de chegada que devem procurar, e sim em alguém que escute, que não julgue e que dê um abraço, mesmo que virtual, no fim de tudo. É como ser um balão prestes a rebentar, às vezes só precisamos que alguém nos dê uma folga para libertarmos todo aquele ar, antes que as nossas frágeis paredes de plástico rebentem para o vazio.
Há alguns anos atrás fui voluntário na Linha SOS Voz Amiga, uma linha de apoio emocional que me ensinou mais do que alguma vez achei que poderia aprender. Descobri que não vale a pena ouvir se não soubermos escutar. Que não vale a pena julgar o passado quando o mais importante é o presente e o futuro. E que ninguém, mas ninguém mesmo, quer morrer. Simplesmente querem viver de outra forma.
Ao ser voluntário na Linha SOS Voz Amiga recebi mais do que dei, combati os meus próprios demónios que continuam a viver nas sombras, hoje e certamente para sempre, compreendi que não é ser egoísta colocarmos-nos por vezes em primeiro lugar, mas sim uma forma de auto-preservação, e, mais importante que tudo, que por vezes uma chamada com um perfeito desconhecido consegue-nos tirar um peso no peito de uma forma totalmente inesperada.
Linha SOS Voz Amiga. Ligue-nos. Nós escutamos.
213 544 545 - 912 802 669 - 963 524 660 / Diariamente das 16h às 24h
Vivemos tempos muito estranhos. Não que alguma vez o não tenham sido, mas 2020 trouxe o paradoxo das mudanças drásticas para que tudo ficasse na mesma.
Esperei grandes mudanças. Nos indivíduos, nas sociedades, nas relações internacionais... acredito que alguns terão mudado hábitos quotidianos, mas as mudanças que esperava sucumbiram ao peso da humanidade que há em nós, animais. Somos animais de hábitos, e teremos talvez uma memória genética que nos transforma em algo parecido com pescadinhas de rabo na boca, mais século menos século e repetimos a história. A História.
O que mais me incomoda quando leio o que se vai escrevendo por blogues e jornais é verificar que a maioria que se propõe mudar comportamentos sociais, entre vizinhos ou nações, inicia o seu trajecto recorrendo a velhos hábitos sociais, os tais que nos relevam aos outros animais e nos submergem de humanidade: a manipulação, a acusação, o vilipêndio, a ofensa, a injúria... o espectáculo dos horrores, e quanto pior, melhor. Estou salvaguardada de outras redes, portanto, e confiando no que delas leio e ouço, esta minha perspectiva sobre muitos dos entusiastas candidatos-a-precursores das mudanças sociais pecará por defeito. Se não concordam, ouçam os debates na AR, atentem nos manifestantes, leiam os artigos de opinião - e refutem, se conseguirem.
Dizem os arautos do auto-conhecimento, do empoderamento (o quê?), do crescimento pessoal, que a viagem depende inteiramente de nós. Até concordo, mas aquilo do auto-conhecimento é parecido com o conhecimento - precisa de ferramentas, precisa de técnica e, quiçá, precisa de técnicos. Quanto mais não seja, para cada um perceber o que descobre na viagem, que bois olhando palácios seremos quase todos perante quase tudo se sem treino. E, com isto, viajo entre temas; mas dêem-me a mão nestas voltas, prometo tentar não vos perder.
A mudança interior parece fazer-se em sentido contrário à mudança social: se esta se edifica sobre acusações e injúrias, aquela avança com pensamento positivo, gratidão, aceitação e superação... Por vezes fico enjoada com tanto discurso positivo, confesso. Não exactamente pelo discurso, pois que, havendo alguns escabrosos de amadorismo e senso-comum, outros há belos e tecnicamente consistentes; fico enjoada pelo contraste, de um lado a acusação e do outro a gratidão, de um lado a manipulação do outro a superação, sentindo os mundos paralelos e nunca intersectados, ou sombra ou sol... e a Lua impávida, estação após estação olhando estes animaizinhos irrequietos.
Tenho como premissa que todas estas aversões e atracções giram em torno da comunicação, da capacidade e do treino que cada um tem nesta necessidade e da qual nem a morte nos liberta, que adorar os mortos e adornar-lhes o último leito são artes que se confundem no início dos tempos. Desta nossa espécie, pelo menos, tão pródiga em lamentar mortos que vivendo despreza.
Não me é recente o apelo ao bom uso da Língua Portuguesa. À correcção da gramática, sim, mas também à mensagem, porque a Língua Portuguesa apenas valerá se usada para cumprir o objectivo da sua criação, para cumprir o objectivo de qualquer língua: comunicar.
"Não é legítimo português quem não comunica em português" poderia ser uma excelente frase. Imodestamente aponto-vos a métrica, o recurso das palavras homónimas, o apelo patriota que ilumina cada letra... sim, poderia ser uma excelente frase - se não levantasse várias questões, desde esta mania que temos de pensar a Língua Portuguesa sem pensar a Língua Gestual Portuguesa, uma das três línguas oficiais fundamental para cerca de 120.000 cidadãos, até aquela de entender que a arte ou o saber da Língua Portuguesa pesa apenas no emissor, o receptor tão isento de obrigações que o primeiro terá de nivelar por baixo se quiser ser compreendido. Isto e muito mais, pontapeando pelo meio as defesas de não atribuição de nacionalidade a quem não fala Português, como se todos tivéssemos a mesma capacidade, a mesma personalidade, o mesmo acesso - e por todos leia-se nacionais e aspirantes.
O contexto da comunicação é fundamental, por contexto da comunicação referindo-me às circunstâncias em que ocorre: uma conversa de café não nos exige a mesma atenção que uma prelecção num palanque ou uma conversa entre cliente e fornecedor. Não exige, não merece, mas deveria merecer. Adaptar o léxico, sim, mas não ao ponto de nos descaracterizarmos, não ao ponto de descermos abaixo do que consideramos mínimo. E pensar o que dizemos, o como o dizemos - porque nos será censurável cometer um erro de conhecimento ou de raciocínio perante desconhecidos e apetecível ofender a inteligência dos nossos amigos? Porque estes nos perdoam? E se resolvermos deixar de nos perdoarmos, se decidirmos ser mais exigentes com os que nos são próximos?
A pressão dos pares é tramada, bem sei. Mas aquilo da gratidão, aceitação e superação terá mais horizonte do que a viagem interior, suponho. Porque tal viagem, nunca completa, só valerá se depois seguirmos rumos fora de nós e nos voltarmos a viajar, que para se nos terminar nas pontas dos dedos basta coçar a própria pele. Do cocuruto, como o macaquinho pensador.
Talvez seja esta falta de atenção na comunicação com os que nos são próximos que nos leva a desejar sangue na comunicação com os outros? A crítica destrutiva, a manipulação, a injúria... quantos lemos e ouvimos apresentando soluções? Quantos colocam o dedo na ferida para estancar o sangue ou apontar o curativo? Poucos, muito poucos. Porque quem os outros ouve não exige mais, antes lhes alimenta a vileza. E depois destes confinamento e desconfinamento em marcha-atrás, o que encontro no fim do arco-íris continua a ser o pote que pariu a maledicência. Continua a ser o escrever sem confirmar, o ecoar sem pensar, o reflectir como se espelhos e não animais pensantes que somos. Ou deveríamos ser.
Ontem pelo YouTube encontrei este vídeo sobre um treinador vocal, um profissional que ensina e treina o uso da voz como outros ensinam e treinam o uso da palavra. Além de ser um momento musical diferente, ilustra perfeitamente a mensagem que vos quero deixar. Porque política, trabalho ou lazer, redes sociais, televisão ou blogues, isto está mesmo tudo ligado. Pela comunicação. E não creio que se mudem indivíduos ou sociedades sem mudarmos a forma como comunicamos.
este é o meu último postal aqui no sardinhaSemlata. com muito prazer embarquei nesta aventura e é já com saudade a despedida... mas tenho de me ausentar. se não com um adeus, pelo menos com um até já de prazo indeterminado. agradeço o acolhimento e o entusiasmo dos que aqui publicaram, autores residentes e autores convidados. agradeço a atenção e a vitalidade dos que aqui me leram, dos que aqui comentaram e debateram, dos que aqui me procuraram. saí mais rica de cada encontro, e por todos vós saio do sardinhaSemlata com vontade de voltar.