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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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31.08.20

John McCain... Ser De Direita Em Tempos De Populismo!


Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

A Direita...

Aquela que me ensinaram desde pequena idade, aquela que aprendi a reconhecer como minha, está moribunda, adormecida por entre os populismos vigentes que parecem ter tomado conta deste panorama político.

Será que mudou tanto assim?

Parece que sim.

Quando há mais de uma década atrás surgiu o Tea Party no Partido Republicano, logo aí, cresceu em mim uma preocupação imensa, uma inquietude que me fazia despertar esse receio maior do bacoco populismo.

Hoje aqui estamos, confrontados com discursos esquizofrénicos e divisionistas, assentes em figuras sinistras, indiferentes à realidade, de mãos dadas com uma doentia forma de estar.

Este tipo de populismo demagogo vem entrelaçado com um escondido "ressabianço" de alguns que sentem ser este o momento para "saírem do armário".

Não importa mais, para alguma direita conservadora "chique", o que anteriormente importava, ou seja, as maneiras, a forma de estar, aqueles princípios que durante anos se ouviam serem os diferenciadores das "pessoas de bem".

O que agora importa é que digam algumas verdades, mesmo que essas verdades sejam hipócritas mentiras.

Cazuza um dia escreveu:

"Mentiras sinceras me interessam" 

Estas verdades populistas têm pouco de sinceras.

Mas o que importa?

Vivemos num tempo de clivagens, de batalhas ideológicas irracionais, onde este tipo de "Partidos" se comportam como claques de futebol...

O que diriam, há uns anos, algumas pessoas de "bem" sobre claques de futebol?

Hoje são eles a comportarem-se como Holligans em noites de Klu Klux Klan.

Ao observar o que se passa nos Estados Unidos, o que sobrou depois de quatro anos de Presidência Trump, sobra em mim este medo maior desta diatribe de Extrema-Direita que ameaça esse futuro da Direita conservadora de antigamente.

Onde se poderiam encaixar Adriano Moreira, José Hermano Saraiva, Maria José Nogueira Pinto ou até o Professor Salazar, se  fossem confrontados com os Venturas, as Marias Vieiras, os Mários Machados?

Este tipo de discurso populista é hoje aceite por alguns como um mal menor nesta luta contra a Esquerda, sendo que essa Esquerda está tão alargada que já abrange todos aqueles que simplesmente não concordam com eles.

Catalogar o Partido Democrata Americano, para os padrões Europeus, de Esquerda é mais do que populismo...

É simplesmente ignorância.

Enfim...

Olhando para o resultado dessa Direita, Extrema-Direita, nos Estados Unidos ou no Brasil, sinto que se torna imperiosa a necessidade de exclamar...

Não!

Não aceito que se confundam os valores de Direita com os tiques "Nazistas" de algumas aVenturas de percurso.

Acredito ser ainda mais imperiosa essa posição se fores de Direita, se cresceste na base de valores que jamais poderão ser misturados com este tipo de ideais.

Porque ser de Direita, pelo menos dessa Direita onde fui forjado, é precisamente o oposto deste tipo de populismos "popularuchos" que nos vão invadindo o quotidiano com a sua pestilenta demagogia.

Não me esqueço de John McCain, Senador Americano do Partido Republicano e Herói do Vietname, que tendo reconhecido o seu erro ao convidar Sarah Palin para sua Vice-presidente, sempre pautou a sua vida pela higiénica decência da verdade.

Quando questionado por uma sua eleitora, num comício, que acusava Obama de ser Muçulmano e não ter nascido nos Estados Unidos, lhe arrancou o microfone das mãos e o defendeu...

Imaginam Trump a fazer isto?

Não!

Porque o que separava McCain de Obama eram as políticas, os ideais, nunca a decência...

E isso faz imensa diferença.

Parafraseando o grande Marco António Villa, Historiador Brasileiro, para expressar esta experiência Bolsonaro:

"Não verás País nenhum!"

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

29.08.20

Caldeirada Com Todos... “Charneca Em Flor”


sardinhaSemlata

 

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Primeiro que tudo quero dizer que me senti muito honrada com o convite para participar na vossa rubrica “Caldeirada com todos". Declaro já que caldeirada é um prato que aprecio muito. Tal como tantos outros pratos da cozinha tradicional portuguesa. A história que vos quero contar passou-se, precisamente, num restaurante regional e chegou acompanhada por sopas de cação e ensopado de borrego.

No último fim-de-semana fiz uma viagem até ao Algarve, mais precisamente à zona de Castro Marim. Na volta para casa, parei em Mértola para jantar. As refeições em restaurantes têm sido muito poucas e, sempre que possível, opto por ficar na esplanada. E foi o que aconteceu. A maioria das mesas da esplanada estava ocupada e assim fiquei na primeira mesa junto ao passeio. Quando a sopa de cação já estava à minha frente, chegou um grupo de 6 pessoas de meia-idade. Assim que apareceram percebi logo que eram turbulentas. Nenhum deles usava máscara. A maneira como falaram com o empregado dava logo a entender que tinham a mania que eram importantes tal era a insistência em obter uma mesa. Sempre que saia alguém, iam falar com o empregado. Será que não ocorreu a nenhuma destas pessoas que talvez fosse melhor reservar mesa em vez de se irem “plantar" à porta do restaurante? Se os estabelecimentos cumprirem as regras de distância entre as mesas, presumo que terão menos lugares disponíveis logo é mais difícil chegar ao restaurante e ter logo lugar. Mas isso nem foi o pior. Qual não é a minha surpresa quando vejo uma das senhoras a menos de 50 cm de mim, junto à mesa. Relembro que ela não tinha máscara e eu também não tinha porque já estava a comer. Felizmente nem foi preciso dizer nada. Só comecei a levantar a cabeça para lhe lançar o meu “olhar matador" e uma das outras senhoras chamou-lhe a atenção para a distância, embora com um tom de algum desdém como se desse pouca importância às regras de distanciamento. Pelo menos foi eficaz. Creio que, na era pré-Covid, já era falta de educação ficar quase em cima das pessoas que estão a jantar mas, actualmente, manter a distância é uma medida essencial de saúde pública.

O que eu concluo com esta situação é que as pessoas não sabem viver em sociedade. A pandemia veio acrescentar novas regras de convivência entre as pessoas que ainda não estão completamente interiorizadas. Ou então, há quem ache que está acima dos outros. Lembram-se de quando se dizia que a pandemia ia fazer de nós pessoas melhores? Eu nunca acreditei muito nessa teoria apesar de me considerar ingénua em alguns aspectos. Ou então é a vida que me tem vindo a tornar cada vez pragmática.

Cada vez tenho mais a certeza de uma frase que tenho utilizado muito nos últimos meses, “as pessoas não sabem estar".

 

 

Charneca Em Flor

 

 

28.08.20

Tiroteio no Estados Unidos. Where else?


JB

   Jacob Blake, cidadão afro-americano, foi alvejado sete vezes nas costas, por um polícia. Aconteceu no passado dia 23 de agosto no Wisconsin, Estados Unidos. Dito assim, parece mais um caso claro de racismo, mais uma brutalidade chocante, que infelizmente, já é habitual nos Estados Unidos.

  As manifestações de protesto começaram (também elas habituais) e já duas pessoas morreram por isso mesmo. Entretanto, Trump tem a sua convenção republicana (nunca o termo 'sua convenção' fez tanto sentido, uma vez que a maioria dos oradores tem apelido Trump ou é casado com alguém que tenha). Os Estados Unidos a ferro e fogo, amarrados a um ciclo vicioso sem fim à vista. Tudo isto nos relembra o caso de George Floyd, alguns jogadores de futebol americano voltaram aos seus protestos e não existem sinais das coisas arrefecerem em breve.
  Sempre ouvi dizer:  'as pessoas são inteligentes, as multidões são estúpidas', cada vez concordo mais. É conveniente por isso cada um pensar pela própria cabeça e procurar entender a realidade em vez de confirmar as suas convicções. Hoje em dia  temos sempre informação disponível e em abundância, mais ou menos objectiva (impossível ser 100% objectivo) mais ou menos credível (há sites para tudo). Aqui há a primeira grande distinção a fazer, uma questão que todos nos podemos perguntar: que tipo de pessoa sou eu? Leão ou carneiro? Os Leões usam a informação para poderem formar a sua própria opinião, ver outros pontos de vista e idealmente até mudar de ideias se for caso disso; já os carneiros procuram apenas confirmar o que já pensam (ou lhes disseram para pensar).

  Eu sou Leão.

  Seria fácil confirmar o que já escrevi sobre os Estados Unidos e os seus tiques racistas. Esta notícia do Jacob Blake não deixa margem para dúvidas 'homem negro atingido 7 vezes pelas costas enquanto estava cercado por três polícias e à frente dos próprios filhos'. Ou será que deixa?

  Vi as imagens, são absolutamente chocantes. Não é um caso de racismo óbvio e acho que não tem absolutamente nada a ver com o caso do George Floyd. Na altura que escrevi sobre o GF falei em empatia e em como acho que ela é importante. Vou tentar demonstrar a sua relevância neste mesmo caso; mais concretamente para salientar as diferenças entre os dois casos  i.e. Blake e Floyd.

  Floyd estava algemado no chão com um joelho a pressionar o pescoço, chamava pela mãe e dizia que não conseguia respirar enquanto era sufocado até à morte.

  Blake estava a afastar-se dos polícias e a dirigir-se ao seu próprio carro enquanto ignorava as ordens dos mesmos.

  Logo aqui é mais espontâneo e natural (em humanos não psicopatas) sentir uma empatia maior por George Floyd. Vejamos agora o comportamento dos polícias.

  O polícia que matou Floyd permaneceu 9 minutos impávido e sereno, enquanto outros assistiam e filmavam, a esmagar o pescoço de um ser humano que lhe pedia para respirar.

 O polícia que alvejou Blake disparou 7 vezes em poucos segundos, enquanto este se dirigia para o carro e afastava-se do sítio onde estavam ignorando as ordens de permanecer no mesmo sítio. 

  Não acho possível sentir empatia nenhuma pelo polícia no caso do GF, nem concebo tal situação. Estar 9 minutos, em cima de outro ser humano algemado, a sufocá-lo até à morte?  Não consigo.

  No caso do polícia do Blake é diferente, consigo imaginar. Um polícia, mal treinado certamente (será possível haver um 'bom' treino para situações de vida ou morte?) mas que na sua própria cabeça se convenceu que o suspeito ia buscar uma arma. Algum circuito no seu cérebro lhe disse que estava em risco de vida e como tal, o seu cérebro americano desatou a disparar a arma. A expressão 'cérebro americano' aqui tem duplo sentido, por um lado alguém que gosta de armas e cowboys (vulgo 'trigger happy') e por outro alguém que vê o tom de pele como uma ameaça em si mesmo, tem esse preconceito. Digo que não é um racismo óbvio porque acredito que esta crença já faça parte de uma espécie de inconsciente colectivo americano, acho que é um racismo mais obscuro. Consigo ter empatia por este polícia. Acima de tudo, consigo ver as diferenças entre os dois casos. 

  Vejo as notícias nos Estados Unidos e nada disto interessa. Temos os que acham que isto é claramente mais um caso de racismo institucional e como a polícia é uma desgraça que não merece receber fundos do governo (as manchetes da CNN são deploráveis e quase um incitamento ao ódio e à revolta); do lado oposto da barricada aqueles que dizem que o problema foi ele desobedecer à polícia e que algumas comunidades estão sempre é à procura de desculpas injustificadas para se vitimizarem. Nada que nos possa dar esperança de algum entendimento no horizonte.

  O polícia que assassinou George Floyd deve ser julgado e condenado como o assassino que é. O polícia que disparou sobre Jacob Blake deve ser julgado e condenado por ser um mau polícia que não soube reagir num momento de vida ou morte. 

  Importa ainda dizer que as duas pessoas que morreram em protestos foram atingidas por balas de um outro americano.  Kyle Rittenhouse, um miúdo de 17 anos, que se descreve a si mesmo como um 'admirador da polícia'. Kyle e alguns amigos juntaram-se, decidiram formar uma milícia, pegaram em armas e fizeram os cerca de 25km desde o local onde vivem até onde a manifestação iria acontecer. Dizem que foram proteger os negócios das pessoas honestas, aqueles que os manifestantes ameaçavam. Kyle acabou por matar duas pessoas. Apesar da quantidade de polícias que estavam presentes, Kyle não foi alvejado por ninguém. O Kyle é caucasiano.

 Não imagino a revolta que a família afro-americana deve sentir, infinitamente maior que a minha é certo. Uma revolta completamente justificada. Penso também que condenar este polícia específico, por mais do que ser um péssimo polícia não é justo, nem trará nada de bom. Importa atacar a doença e não os seus sintomas.

 

JB

 

 

 

 

 

 

27.08.20

Está Portugal preparado para os Portugueses?


Triptofano!

Este ano por causa do Covid as férias de Verão (e todas as outras convenhamos) tiveram de ser repensadas, sendo que os Varaderos e as Saidias desta vida ficaram fora do leque de opções daqueles que gostam de torrar e, muitas vezes, infernizar ao sol.

Ficando os portugueses privados de encontrar pechinchas lá fora para colocarem no Instagram mais uma bandeirinha quando na realidade não saíram sequer da praia do hotel, viraram-se para o seu próprio país e fizeram uma descoberta digna de um prémio Nobel: o turismo rural, essa entidade que sofreu duplamente com o vírus. Primeiramente com os três meses de entrada de capital nula, e depois com a entrada corporal em massa do cidadão lusitano.

O problema é que o tuga vai ser sempre tuga, e aquela costela (ou será costeleta?) de chico-espertice vai sempre dar de si, e se o turismo rural não é propriamente uma pechincha o português arranja forma de o tornar mais acessível.

Caso 1: Casal aluga um quarto, informando que vai trazer uma filha pequena. Filha pequena é na realidade uma adolescente que ainda por cima vem com uma amiga. Casal leva colchão insuflável para o quarto porque o turismo rural é um conceito estagnado há muito tempo então toca de fazermos um cruzamento com glamping. Senhora encarregue de fazer as limpezas da quinta queixa-se que fazer aquele quarto é um inferno, porque ainda por cima há um canídeo a compartilhar os 12 metros quadrados.

Caso 2: Família aluga casa da piscina noutro turismo rural e consegue enfiar num sítio para 8 pessoas 15 marmanjos. Desde tios, primos, avós, cabe tudo lá dentro, que o convívio para ser convívio tem que ser tudo bem juntinho. Por alugarem a casa da piscina acreditam que a piscina é só para eles, e os outros hóspedes que se protejam de mergulhos à canhão ou de autênticos campeonatos de voleibol aquático. Repouso é um conceito com interpretações claramente diferentes, porque enquanto o comum hóspede quer estar na espreguiçadeira em paz e sossego, esta família coloca uma kimzobada em altos berros, e a Soraia Sofia ainda grita para por mais alto que não consegue ouvir por causa da otite causada pela água da piscina.

Estes são dois casos mas haveriam muitos mais que mostram que Portugal não está preparado para os portugueses. Que o vírus desapareça rapidamente porque se continuar por cá não há turismo que aguente.

Nota: Obviamente que o texto é uma sátira e que não representa a realidade no seu todo do turista português. Afinal eu não ia falar mal de mim mesmo não acham?

 

 

26.08.20

Faina


ó menina

Há na estação uma livraria. Fins de coleção, livros manuseados, velhos, caros, baratos... alinham-se em mesas e escaparates num pavilhão ensolarado .Comprei "Os Pescadores" do Raul Brandão.

Apanhei um daqueles comboios alugados a Espanha. Os bancos estão encardidos e as paredes das carruagens também, nem a mais profunda limpeza com jatos de água as deixaria brancas. As portas automáticas, matreiras para os incautos, parecem incompreensíveis para os mais velhos que ficam ali a tentar forçar a entrada no compartimento. A senhora das pulseiras e fios de contas largas e coloridas bem tentou forçar passagem mas o corpo já não encontrava o ponto de equilíbrio necessário para abrir caminho. Demovi-lhe o gesto, dei-lhe passagem e no momento da saída ensinei-lhe o truque do botão vermelho.
'Obrigada, filha. Não estou habituada a estas andanças.' - disse-me.

'This side' 'This side' repeti, batendo com a mão na janela. Asiáticos, nórdicos, brasileiros todos queriam a melhor vista para o rio e eu que conhecia o comboio parecia-lhes a pessoa certa para os apresentar.

'Ei! Eu conheço isto!' Espantou-se o pequeno ao ver a localidade que normalmente só vê de carro. E, espantou-se outra vez quando o dia e a noite se alternaram ao atravessar o túnel, nove túneis.
'Olha os cruzeiros! Vamos deixá-los para trás, somos mais rápidos que os cruzeiros...'
'Este rio tem peixes?' - Perguntou o pequeno.
Disseram-lhe que sim.
'E os pescadores? Onde estão os pescadores?'

Confesso que os comprei mas não os tirei da mala.

Nota:

fai·na

substantivo feminino

1. Trabalho da tripulação de um navio.

2. [Por extensão]  Trabalho aturado; lida.

3. [Antigo]  Cortesia, mesura.

in Dicionário Priberam

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