Era uma vez uma menina.
Era a segunda filha muito querida dos soberanos de um reino à beira mar.
Chamava-se Diana: um nome de outra princesa, de Raínha Amazona, que inspira poder e confiança. A nossa Diana não era assim, era uma menina nova e insegura. As feições belas e finas da sua cara denunciavam a sua origem nobre, os seus magníficos olhos verdes estavam sempre para baixo. Não gostava de olhar as pessoas nos olhos e preferia passar despercebida. Apesar do seu nome de guerreira de destaque, a Di (como todos lhe chamavam, a começar pelo Rei seu pai) preferia ficar a sós com os seus pensamentos, longe da ribalta.
Certa manhã Di acordou com a notícia que iriam fazer uma caçada a cavalo nas terras do reino.
Preparou-se rapidamente e dirigiu-se aos estábulos.
Quando chegou viu que estava o Rei seu pai e a sua irmã impecavelmente vestidos e já prontos para a aventura; avisam-na de que o Rei e príncipe do reino vizinho iriam juntar-se a eles.
Sem perceber bem porquê o coração da Di começou a bater um bocadinho mais depressa e um inesperado e muito tímido sorriso começou a formar-se na sua cara.
Nesse momento o outro Rei e o príncipe chegaram.
Os seus bonitos olhos verdes levantaram-se para olhar para o príncipe que nesse momento fixa o olhar no seu, enche um bocadinho o peito e diz-lhes:
-Bom dia princesas. Está uma manhã fresca e muito nevoeiro, não me parece que estejam as condições reunidas para uma grande caçada.
-Ainda vai abrir. - responde Di baixinho quase como se estivesse a falar para si mesma.
O príncipe, sem perceber sequer que a Di tinha falado, continua num grande discurso sobre os seus feitos heróicos em batalha e em como a sua constituição poderosa lhe permite beber mais que os outros guerreiros antes de ficar indisposto, parecia ter muito orgulho nesse facto. Nem Di, nem a irmã ficam impressionadas.
A viagem continua pela floresta até que começam a entrar numa zona mais densa e com árvores mais altas. Estava muito nevoeiro e já tinham saído da estrada principal há muito. A neblina agora era estranha e parecia ter um cheiro desagradável a fumo. A visibilidade era pouca e Di reparou que já não estava a ouvir o barulho dos animais à sua volta, percebeu que se aproximavam de uma zona que todos diziam ser muito perigosa e de onde muitos não voltaram. Ninguém sabia porquê. Apenas o Rei.
-Para trás. Estamos a chegar à zona interdita, onde vivem os dragões. Nem sequer eu, que sou o Rei, entro aqui.
Di apercebe-se subitamente de algo que a deixa aterrorizada: a misteriosa neblina era a respiração de um gigantesco animal, um dragão!
Antes sequer que alguém pudesse reagir, todos ouvem um som inesperado que os paralisa: um som que parecia vir das profundezas de uma caverna, um rugido breve de aviso, muito perto deles . Era um assustador e enorme dragão, que olhava na sua direção, erguendo-se majestoso enquanto fumegava das narinas.
-Ninguém se mexe, acalmem os vossos cavalos, ainda não estamos na zona deles, não nos vai atacar. Calma. - Sussurra o Rei para os restantes ouvirem. Di está nervosa, muito nervosa, é a mais nova do grupo e sente-se quase a entrar em pânico.
O dragão estende os seus membros e mostra toda a sua imensa envergadura fixando o olhar nos céus. As sombras das suas asas a levantar voo, assim como o barulho e o vento, assusta os cavalos que não se apercebem que o perigo passou. Todos conseguem controlar os cavalos, menos a Di.
Talvez por sentir a sua cavaleira menos serena, o cavalo de Di arranca em pânico, num galope desenfreado em direção à terra dos dragões, de onde ninguém volta.
O seu pai dá um grito de desespero e arranca atrás dela; liderando o grupo que o segue em socorro da donzela em apuros.
Todos tentam salvar a princesa, mas o seu cavalo está demasiado assustado e é demasiado rápido, ninguém chegaria a tempo.
Di nem pensa nestas coisas, tenta acalmar o cavalo e percebe que não vai conseguir. Sem sequer lhe passar pela cabeça esperar ou desejar que alguém a salve, a Di quase que desmonta do cavalo galopante mantendo os braços agarrados à sela, como se estivesse a correr ao lado do cavalo mas com os pés ainda sem tocar no chão. Ninguém acreditava no que estava a ver. Muito menos quando Di, aproveitando uma altura em que o seu cavalo desacelera para se desviar de uma árvore, começa a correr ao seu lado e larga as mãos da sela com toda a segurança, sacode as mãos e avança tímida, em direção ao grupo ansioso.
O seu pai abraçou-a e todos a olharam com respeito e admiração.
O príncipe chegou mesmo a pensar :"Fogo, quem me dera que isto tivesse sido comigo e eu tivesse reagido assim! Era uma grande história.".
A Di continuou a mesma, aos seus próprios olhos, nada tinha mudado.
Caiu de pé e digna, como sempre.
Mas aos olhos de todos os outros a Di, passou a ser:
Diana,
a princesa amazona dos olhos verdes.
JB
PS (Se alguém quiser dizer o título deste post e não conseguir dizer os érres, em vez de "Cair de pé" pode dizer "Cauí de pé" que continua a fazer sentido. Não perguntem).