Preta
JB
Um jornalista da agência Lusa, Hugo Godinho, recentemente publicou a seguinte nota nas redes sociais para identificar os deputados que integram a Comissão Parlamentar da Revisão Institucional:
Como todos notamos (entre parêntesis)* está escrita a palavra "Preta" à frente do nome da deputada do PS Romualda Fernandes. Invariavelmente, as redes sociais pegaram fogo. As críticas choviam de todos os lados. A Lusa disse que foi um "erro" que "lamenta profundamente" , pediram desculpas em primeiro lugar à deputada do PS e depois a todos os seus "clientes e leitores". Aparentemente o seu editor de política José Pedro Santos pediu demissão e o jornalista Hugo Pinheiro está a ser alvo de "um processo de averiguações a fim de apurar a circunstância em que a notícia foi elaborada".
Infelizmente, tudo isto aconteceu depois desta nota ser partilhada por vários jornais supostamente credíveis, que por falta de meios ou profissionalismo não lêem as notícias que lhes chegam e simplesmente retransmitem-nas sem revisão.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo deveria ser melhor.
Não tenho problemas com nada do que acabei de descrever.
Acho que o Sr. Hugo Pinheiro provavelmente não tinha intenção de publicar aquilo (ou então é muito burro), foi um erro mas foi um erro com consequências públicas e graves. Acho que ele é racista mas tem direito de o ser. As redes sociais e a própria deputada têm o direito de se indignar e pedir satisfações à Lusa. A Lusa tem o direito de despedir quem quiser.
Até aqui tudo bem.
Ò meu problema é o do costume... Os ressabiados.
Vou exemplificar:
Aqui tudo mal.
Agora, para os novos detentores da moral e bons costumes (há sempre quem se comporte como tal), os factos já estão apreciados, as consequências estão decididas. Quem não as fizer cumprir ou discordar delas é uma pessoa de um grupo inimigo, os maus contra os bons, "nós contra eles". Não basta o pedido de desculpas nem as prováveis demissões. Para eles, o castigo tem que ser total e impiedoso. Sem emprego, sem carteira profissional e já agora com uma tatuagem no braço para nunca mais poder arranjar emprego.
Sou só eu que acho que isto de superioridade moral não tem nada?
Acho que a Fernanda Câncio (assim como a Maria Vieira já agora) tem todo o direito de dizer o que entender nas redes sociais.
Eu estou a exercer o meu direito de dizer que:
- espero que tanto uma como a outra nunca sejam levadas a sério
- alguém que se julga melhor do que os outros e que se comporta de maneira tão ou mais deplorável do que eles é um hipócrita ressabiado e moralista.
- "Discordo do que dizes mas defenderei até à morte o teu direito de o dizer". Não fui eu que o disse, nem sequer foi Voltaire (foi Evelyn Beatrice Hall, biógrafa de Voltaire). Mas é mais ou menos isso, para além de justo é útil como ouvi o Ricardo Araújo Pereira dizer uma vez: "uma espécie de guizo para estúpidos que nunca identificaríamos se não pudessem falar".
JB
*Sempre quis escrever a expressão entre parêntesis entre parêntesis.