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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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30.07.21

O homem que salvou o mundo


JB

  Começo o texto de hoje inspirado em Sócrates, com umas perguntas:

  Se de facto existir alguém que salvou o mundo, devemos aprender com essa pessoa? Devemos tentar pelo menos? Temos essa obrigação?

 Se concordar comigo e achar que a resposta é sim, nesse caso agradeço uns minutos do seu tempo para lhe falar do nosso salvador e daquilo que podemos aprender com ele.

 Vasili Arkhipov nasceu a 30 de janeiro de 1926 na Rússia, perto de Moscovo. A sua família vivia da terra e com 14 anos já estava na escola naval do Mar Cáspio. Formou-se em 1947 e começou a servir em submarinos; percorreu o Mar do Norte, Negro e Báltico.
 
Em 1961 já era sub - comandante num submarino nuclear, um K-19. Um dos submarinos mais avançados na altura mas que funcionava a energia nuclear, algo muito perigoso como Vasili viria a perceber em breve. Em finais de julho desse ano, durante uns exercícios militares perto da Gronelândia, o reactor nuclear do submarino avariou. O comandante ordenou que os engenheiros presentes no submarino resolvessem o problema: sete deles foram repararar o reactor e ficaram expostos a uma enorme quantidade de radiação, resolveram o problema mas todos os que estiveram naquele submarino ficaram contaminados; os sete engenheiros e mais uma pessoa morreram poucas horas depois, Vasili assistiu a tudo. Todos os outros regressaram em segurança. 

  Em 1962 a guerra fria estava no seu auge, os Estados Unidos tinham mísseis preparados em Itália e na Turquia capazes de atingir a Rússia que, por sua vez andava a armar os comunistas de Cuba - para através disso - ter uma forma de retaliar contra os Estados Unidos. Kennedy acabava de anunciar publicamente que os Soviéticos estavam a armar Cuba com intenção de lançar mísseis nucleares, os Estados Unidos entraram pela primeira vez no estado de emergência DEFCON2 (não sei o que significa exatamente, mas percebe-se que é sério) e estavam a patrulhar todos os movimentos à volta de Cuba, Kennedy dizia que os Estados Unidos iriam impedir qualquer tentativa de fornecer armas a Cuba e que tal seria considerado um acto de guerra. Nikita Khrushov respondia dizendo que qualquer abordagem americana a uma embarcação russa seria encarado como um acto de pirataria.

  Dia 27 de outubro de 1962 o mundo esteve muito perto de acabar.
 Vasili Arkhipov encontrava-se na linha da frente, muito perto da Costa de Cuba. Num submarino a diesel desta vez (foi decidido que os nucleares eram demasiado arriscados) mas com a capacidade de lançar uma bomba nuclear equivalente à de Hiroshima. Não tinham contacto com Moscovo, sabiam o que se passava através do rádio, ouviam apenas o que os americanos diziam. Dia 27 de outubro, onze destroyers americanos (navios de guerra) vão patrulhar os mares de Cuba e um avião espião informa que detectou um submarino.

 Era o submarino de Vasili que estava a carregar as baterias à superfície, ia com 5% de carga quando o radar deu o alerta: -Um avião espião à vista! Submersão de emergência!

 Os apitos soaram, as luzes acenderam e todos se agarraram durante os 30 segundos que o submarino demorou a desaparecer por baixo das ondas na esperança de não ter sido tarde demais.

 Mas era, os americanos tinham visto o submarino e agora circundavam-no na superfície. Onze destroyers a lançar sonares que todos dentro do submarino ouviam nitidamente: Ping ... Ping ...  Ping ... incansáveis de 10 em 10 segundos. Bombas de profundidade que sacudiam tudo à volta e o tentavam forçar a vir à superfície.

 No fundo do mar, dentro do submarino, era o caos: as águas eram quentes, temperaturas muito altas, fechados num caixão de ferro com o som inequívoco do inimigo à porta. Para os três únicos oficiais presentes no submarino era pior: o cenário de guerra tinha sido previsto, eles não precisavam da autorização de Moscovo para lançar o míssil nuclear. As informações mais recentes dos Estados Unidos tinha, sido um discurso de Kennedy a ameaçar a Rússia e a notícia de um piloto americano que tinha sido abatido enquanto sobrevoava Cuba. Entretanto dentro do submarino as bombas aproximavam-se e o sonar continuava cada vez mais insuportável: Ping ... Ping ... O capitão do navio decidiu, vamos lançar o míssil nuclear. 
 Para o Capitão Valentin Grigorievitch Savitsky a guerra já tinha começado, era evidente. Outro dos oficiais do navio era o comissário político Ivan Semonovich Maslennikov que concordou com o capitão.

Vamos parar no tempo por um segundo e fazer uma pergunta:

O que teríamos feito no lugar de Vasili Arkhipov?

Felizmente para todos nós Vasili, terceiro e último oficial não concordou. Naquele momento, naquelas condições e com aquela pressão conseguiu manter a calma fazer aquilo que considerou correcto. 
 Para lançar o míssil nuclear eram necessárias três chaves, cada uma com um dos oficiais. Apenas se os três estivessem de acordo é que o ataque era feito. Dois estavam, um não. Não lançaram o míssil e foram obrigados a emergir, os americanos não os atacaram mais e indicaram-lhes o caminho de volta para a Rússia sem a mais pequena noção do perto que estiveram ( eles e o mundo) da terceira guerra mundial.

 Só recentemente soube da existência de Vasili Arkhipov e fascinou-me o percurso deste filho de camponeses até se tornar o salvador da humanidade. Estou a exagerar, dirão alguns. Provavelmente sim: aprecio o dramatismo confesso. Se quisesse ser menos dramático diria apenas que permitiu a todos os que nasceram pouco depois de 1962 existirem. Nenhum de nós cá estaria certamente se os Russos tivessem lançado uma bomba nuclear contra os Estados Unidos, dificilmente as coisas ficariam por aì, mas mesmo que ficassem o mundo de hoje seria outro, com outras pessoas.  

 Decidi por isso dar a conhecer este salvador de carne e osso, que devido à exposição prolongada à radiação morreu em 1998 e não ressuscitou. Mas deixou-nos algumas lições: Como pensar pela própria cabeça. Ter cautela, ponderação e a importância de estarmos bem informados.  O valor vital de ser racional e de dominar os instintos mais primários  mesmo quando parece não haver esperança. 
 Acima de tudo deixou-nos, a todos nós, um legado indiscutível:

 Este mundo em que vivemos.

 Obrigado

 

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* Vasili Arkhipov numa fotografia  do  jornal "the Guardian".

 


  JB

 

PS( alguém viu o filme "K-19" com o Harrison Ford? Eu vi há muito tempo mas sem fazer ideia que era inspirado nesta história real)

26.07.21

As Mãos De Uma Velha…


Filipe Vaz Correia

 

 

 

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Vi-te velhinha;

De mãos ao vento,

Vazias, calejadas, penduradas,

Contando o tormento,

E há muito abandonadas...

 

Sentada na porta de uma casa;

Com o desespero estampado no rosto,

À espera que a morte dê asa,

E lhe chame para o seu posto...

 

Nesse dia quem passar;

Não mais a irá ver,

Provavelmente sem notar,

Que a velha acabou de morrer...

 

Mas o que importa uma mulher;

Imunda, suja, desesperada,

O que importa querer ver,

Aquela alma cansada...

 

Esquecemos é que um dia;

A velha já foi gente,

Era nova e até sorria,

E tinha sonhos na mente...

 

Por partidas do destino;

Encontrou a solidão,

A tristeza levou-lhe o tino,

E a dor o coração...

 

Assim que Deus nos proteja;

De tamanha maldição,

E que longe o dia esteja,

De nos levarem ao caixão...

 

E vazia ficou a porta;

Mais limpa aquela rua,

Pois já não sofre a velha torta,

Nem a sua alma nua...

 

Aqui passou uma vida;

De lágrimas, desgostos, sofrimento,

Acabou coitada, perdida,

Por entre a chuva e o vento...

 

Adeus velho coração;

Que Deus a todos nos guarde,

E que nos evite a emoção,

De igual, destino cobarde!

 

 

 

 

23.07.21

As duas Joanas


JB

 

 Uma era bonita, filha de um prestigiado psicanalista e com uma característica na fala que todos ignoravam por causa dos seus belîssimos olhos verdes. Tinha uma estatura média e um upgrade cirúrgico (talvez dois vá) que tornam todo o seu conjunto muito aparatoso e diria mesmo: Espetacular. Foi deputada, comenta na televisão e influencia  no Instagram. É um bocadinho exibicionista e muito interessante. Eis Joana 1.
A outra era feinha, com uma cara bonita e amorosa é certo, mas desengonçada e sem upgrades cirúrgicos. Muito baixinha. Nunca foi deputada, fez uns programas na televisão e agora trabalha nas manhãs da renascença. Não influencia quase ninguém. É bastante reservada e com um sentido de humor fantástico. Eis Joana 2.

Noutros tempos, noutra vida quase, poderia eventualmente existir um determinado português (Mr. X) com uma admiração especial pela primeira das duas Joanas. Os motivos nem o próprio os sabia bem. Uns seriam certamente mais nobres (a sua inteligência, carisma, à-vontade, empatia, etc) outros seriam motivos mais infantis (prefiro não dar exemplos, usem a imaginação).  O que era certo, é que esse fascínio estava lá.
A pequenina Joana 2 nem existia no radar.

O tempo vai passando, Mr.X segue os programas da Joana 1, lê o que ela escreve, segue-a no Facebook e eventualmente até no instagram (vamos supôr), mas começa a reparar na outra, na  Joana 2, mais pequenina e desengonçada. Começa a ouvir o que ela diz e a ver o que ela faz. Fica encantado por mais uma Joana. 

Para Mr. X havia sempre a esperança que as duas se entendessem, que fosse possível conciliar duas personalidades diferentes numa só. Só que nas pessoas que admiramos, assim como na vida, às vezes somos obrigados a escolher um lado.

Só o nome elas partilhavam, eram demasiado diferentes e para Mr. X não fazia sentido ter essa admiração por duas Joanas que são o oposto uma da outra. Esta contradição estava a provocar um mal estar em Mr. X. Um caso muito particular de dissonância cognitiva que era urgente resolver.

É com enorme prazer que posso informar que está resolvido. Ao nível do espaço mediático o Mr. X já só tem olhos para uma Joana, a decisão foi tomada depois de ouvir isto: 

https://youtu.be/vXlT3kO2mqs

 e agora não tem a mais pequena dúvida. 

 

Joana 2 4ever!!!

 

JB

 

 

19.07.21

Cuba: O Grito Dos ETERNOS Abandonados…


Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

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Durante a última semana o povo Cubano saiu à rua para lutar pela sua sobrevivência, essa espécie de direitos tão garantidos nos ditos países civilizados e que numa férrea ditadura como a dos "manos" Castro parece utopia.

Pessoas presas, impedidas de expressar os seus direitos, desaparecidas, o menu habitual neste tipo de regime, ocorrendo tudo na "telinha" dos nossos televisores, tablets ou telemóveis.

Imagens que se repetiram, tão flagrantes como horripilantes, tão vergonhosas como angustiantes, passando por todo o mundo, sem que delas nada retirássemos.

Como é que pode ser possível que os mesmos que se levantaram contra Bolsonaro, Orban ou até Lukashenko, possam agora permanecer calados, sem pestanejar?

Terá a decência lado político, Direita ou Esquerda, continentes ou línguas?

Será a hipocrisia a matriz do envelhecido sistema?

Não vociferar, ou seja, compactuar com este tipo de regimes que durante décadas torturaram e cercearam vidas, não define o nosso lado político, apenas nos define como pessoas...

A oposição a este tipo de regime, obsoleto, poeirento e nefasto, apenas deveria definir a decência Humana que nos molda, demonstrar a evolução da nossa espécie, sem hesitações ou complacências.

Exige-se mais ao Presidente dos Estados Unidos, ao Conselho de Segurança da ONU, à U.E...

Se calhar, exige-se mais, a todos nós.

Da minha parte, nesta SardinhaSemlata, compete-me apenas gritar, com todas as letras, sem hesitações...

Que não se calem as vozes de Cuba!!!!!!

Que não os deixemos sós!!!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

16.07.21

Quando os rapazes…


JB

  E começou a pré-época! 
  O Sporting já joga, o Benfica está como está e do Porto ouve-se pouco.

  Há um ano por esta altura ninguém imaginava que quando a época começou cue o Sporting iria ser o campeão,   já se antecipava que ia ser um ano atípico mas nunca ninguém ousou sonhar tão alto.

 Hoje, este adepto campeão vem desejar boa sorte aos seus heróis. A começar pelo Porro, esperar que aquele 'toque' de ontem não tenha sido grave, e depois a toda a equipe liderada por Frederico Varandas.

 Será difícil repetir a quantidade épica de títulos em todas as modalidades da época passada mas para mim já chegava repetir o título de campeão nacional de futebol sénior. Sim, sou desses pouco ecléticos que só liga ao futebol, mea culpa. Sou do Sporting desde que nasci, antes de saber o que era uma bola já sabia que era do sporting, mas só quando a equipa de futebol sénior entra em campo é que as coisas ganham outra dimensão e importância. Não se explica porquê, é um sentimento irracional, todos sabemos. Ainda assim vou tentar:

 Talvez essa importância quase transcendente de um jogo esteja relacionada com memórias de infância. Só uma coisa realmente importante faria uma série de amigos juntarem-se num quarto de hotel com uma antena parabólica (juro que não inventei o nome, isto dantes existia e era espetacular!) para ver um jogo do Sporting na televisão. Bem sei que na altura não dava em nenhum canal português, bem sei que era com o Real Madrid para a liga dos campeões e bem sei que estávamos em 1994; mas era apenas um jogo, haveria necessidade tantos trabalhos? Não podiam esperar pelo resumo do domingo desportivo?

 "Claro que não! O sporting vai jogar! Temos que apoiá-los nem que seja à distância!" Diziam-me os mais velhos, para mim continuava a não fazer muito sentido mas era muito tímido e eles muito assertivos por isso optava por acenar afirmativamente com a cabeça. Depois o jogo começava:

Cada disputa de bola ganha era festejada, cada passe bem feito elogiado, cada decisão contrária do árbitro era violentamente e eloquentemente contestada e quando o Sporting marcava... Era a loucura, o êxtase, a alegria suprema. Estava convencido, apesar de no fim do jogo o resultado não ser o que mais queríamos tinha sido uma noite memorável e espetacular.

Ontem, quando a equipa entrou para jogar com o Belenenses lembrei-me desse jogo de 1994, dessas pessoas que lá estavam, da felicidade delas e das saudades que eu lhes tenho. Quando os rapazes de verde e branco entram em campo, muitas mais imagens de verde e branco materializam-se na minha memória.

"O futebol é o ópio do povo" é a "religião das massas", pois que seja, parece-me mais aconselhável que qualquer uma das propostas originais.

Vamos a eles leões.

 

JB

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