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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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30.08.21

Guincho, Cataplana E Amigos… “Um Dia Inesquecível”


Filipe Vaz Correia

 

 

 

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Não sou grande admirador de praia ao Domingo, no entanto, a minha mulher resolveu me desafiar para irmos almoçar ao Guincho e passar a tarde na praia da Cresmina...

Assim foi.

E que dia...

O mar tranquilo, não é normal para o local, a ausência de vento que tornou o dia mais extraordinário, a pouca presença de Seres Humanos que pincelava o quadro com outro tipo de encanto e a água gelada a confirmar que estávamos no Guincho, aquela porta aberta para o Oceano Atlântico.

Que esplêndido dia.

Acabámos o dia na esplanada do Papo Cheio, noite perfeita, a jantar uma cataplana de Tamboril com Camarão, acompanhado por Arroz de Coentros...

O que pode desejar mais um comum mortal?

A companhia de um grupo de amigos, conversa solta e leve, whisky e sobremesas, vontade incessante de rir...

Escrevo este texto no rescaldo desta noite, depois de chegar a casa, com aquela sensação de que tudo fez sentido, sentindo esse querer maior de renovação, de que se repita indeterminadamente esse encontro, reencontro, de momentos, de gente, de tudo.

Respiro fundo e acendo o meu cachimbo enquanto me perco por entre estas letras que vos escrevo, na certeza porém de que existem momentos na vida que valem a pena serem vividos...

E este dia foi um deles.

 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

29.08.21

Um começo


O ultimo fecha a porta

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Para mim é uma honra ter oportunidade de escrever no SardinhaSemLata.

Aos autores agradeço o convite e espero estar à altura do desafio.

 

Os meus posts versarão sobre temas da atualidade ou coisas banais que acontecem no dia a dia que nos fazem refletir, e por isso dar uso às teclas. Vou também ilustrá-los com fotografias da minha autoria já que é das coisas que mais gosto de fazer.

Hoje em dia noto que há cada vez menos espaços de escrita. Deixamo-nos levar pela preguiça, pelas fotografias e pelas redes sociais com reações imediatas e barómetros fáceis de medir a popularidade. Deixamos de ler e interpretar, para clicar no like.

Apesar e termos mais informação, tendemos a estar cada vez menos formados.

 

Espero que acompanhem nesta aventura nos próximos tempos aos domingos e que não seja o último a fechar a porta. 

28.08.21

Improbbilidades


Rita PN

Dista-nos um quarteirão de luar
onde, na sombra, os detalhes se ensaiam,
os elementos se vestem de harmonia
e onde todas as ruas parecem regressar
ao segredo.
Há quem nos sorria,
entre frestas de portas
e mesas vazias,
quando o olhar frágil se demora
longo...
sobre o sopro na chávena de café
à esquina da rua.
Revelação, incompreensão e a certeza
de se estar demasiado perto
do peito...
sem jeito de afastar a cadeira e trocar
de lugar com um desconhecido.

Há uma flor a nascer na calçada,
e um quarteirão de luar distancia a cidade.
Eu bebo o primeiro café
e tu deves estar a chegar:
O que é improvável também acontece.

27.08.21

Efeitos secundários da vacina


JB

"Centenas de manifestantes acompanharam esta quarta-feira em frente da Procuradoria-Geral da República (PGR) a entrega, pelo juiz anticonfinamento Rui Fonseca e Castro, de uma denúncia contra o Presidente da República, o primeiro-ministro e o Governo por crimes contra a humanidade."

 

 Este é o título de uma notícia digital do Diário de Notícias de ontem que pode ver aqui.

 Rui Fonseca e Castro, o mesmo Sr. que desafiou um director da PSP para um combate de MMA, que é negacionista e durante muito tempo exerceu funções como juiz e acompanhado de umas quantas pessoas vestidas de preto, acusa as mais altas figuras do estado Português de tentar matar a própria população. Espero que nunca mais possa exercer funções; não acho que os negacionistas devam ser perseguidos pelas suas convicções sem fundamento mas uma coisa é ser negacionista e anti-vacinas, outra é acusar o António Costa e o Marcelo de crimes contra a humanidade. Se tivermos em conta que isto vem de uma pessoa que anda a ameaçar a polícia de porrada penso que até pode ser caso para um internamento compulsivo. Estamos a falar de uma pessoa que nem devia andar sozinha na rua, quanto mais exercer um cargo com aquela importância.

 Depois de ler esta notícia fiquei a pensar se esta aparente loucura do juiz sempre esteve presente e só agora começamos a reparar nela ou se foi algo súbito e inesperado.

 Se foi algo que apareceu de repente, talvez seja um vírus que anda a par do corona e já infectou muitos, provavelmente enquanto está a ler isto até já se lembrou de dois ou três conhecidos que também sofreram desta 'parvovirose' aguda. Eu conheço alguns, pessoas perfeitamente funcionais e que ao longe até aparentam ser bastante bem ajustadas mas que ultimamente, sem motivo aparente, deu-lhes para negar a ciência enquanto usam telemóveis; dizer que não aceitam que o estado decida o que é melhor para eles enquanto põem o cinto de segurança e que mesmo sabendo que o Papa e a Rainha de Inglaterra já tomaram a vacina, para suas excelências não chega e querem que seja mais testada. Só pode ser isso, um vírus paralelo de 'parvovirose' aguda, variante humana.

 Gostava de conseguir acreditar nisto mas infelizmente sou negacionista em relação a este meu hipotético vírus da parvoíce. Acredito que estas questões circunstanciais apenas servem para que as máscaras caiam. Todo este fel, este mal estar, este ressabiamento como eu lhe chamo, já existia, mas é feio e as pessoas sabiam isso. Sabiam, mas já não sabem porque agora vivem na sua bolha digital e social, convivem uns com os outros  e já nem reparam nas situações absurdas, impossíveis e ridículas em que se colocam.  E isso é bom para todos.

  Em primeiro lugar é bom porque são uma pequena minoria e mais concretamente é bom no caso deste juiz por exemplo, que acusa o primeiro ministro e o presidente da república de crimes como os de Hitler e Estaline. Agora sabemos que ele não é bom da cabeça e ninguém no seu perfeito juízo aceitaria ser julgado por ele.
  No fundo o texto de hoje serve para agradecer à vacina que para além de nos proteger do vírus, como efeito secundário ainda nos revela (como uma luz ultra violeta do CSI) aqueles que entre nós têm um gelado tatuado na testa; como o juiz Rui Fonseca e Castro, entre poucos outros.

 

JB

 

 

26.08.21

Street Photography


The Travellight World

Henri-Cartier-Bresson-selfiFoto: Henri Cartier-Bresson

A street photography ou fotografia de rua só se tornou reconhecida como um género no início dos anos 30 do século XX. Embora existissem precedentes e áreas de sobreposição com a fotografia documental e arquitetónica, este estilo tornou-se único por fazer da figura humana a sua característica mais vívida e definidora.

O seu sucesso dependia da habilidade do fotógrafo para se misturar com a multidão, observar e registar a vida quotidiana e captar a forma como o cidadão anónimo interagia com o seu ambiente.

Henri Cartier-Bresson, foi um dos primeiros a focar-se na ação humana nas ruas e a fotografar aquilo que chamava de “momento decisivo” — A ideia de que existe um momento “perfeito” para se fotografar uma cena que decorre na rua. Uma fração de segundo antes ou depois desse momento especial, diminuiria muito, no seu entender, o valor estético da fotografia.

É um conceito interessante, mas talvez demasiado restritivo, porque, o “momento” (ou fração de segundo) que apela ao meu gosto estético pode ser bem diferente daquele que apela ao gosto estético de quem está ao meu lado. Fotografia é arte e como tal, é difícil ser consensual.

O suíço-americano Robert Frank, marcou outra época e inspirou uma nova geração de fotógrafos com um livro chamado Les Américains, publicado em 1958, que continua a ser um dos mais populares e mais vendidos livros de fotografia de todos os tempos. As fotografias de Frank tinham uma qualidade crua e frequentemente aleatória, que desafiava o mundo da fotografia em geral. Eram instantes da vida.

Deu origem a muito do que hoje chamamos de fotografia de rua — momentos simples, cruéis, corajosos ou cândidos, de pessoas a fazer coisas mundanas do dia a dia.
Muitos dos fotógrafos de rua que mais tarde alcançaram a fama são herdeiros diretos do estilo de Frank. Pessoas como Joel Meyerowitz, que deu início ao uso do filme colorido na fotografia de rua e elevou o status da cor, até então considerada um tanto vulgar e inapropriada para os fotógrafos sérios e puristas que viam as imagens monocromáticas como superiores na transmissão da realidade.

A importância e relevância da fotografia de rua pode parecer diminuída nos dias de hoje. Afinal vivemos numa sociedade em que o imediatismo é aquilo que conta. A fotografia assim que é tirada, é publicada, de preferência acompanhada por cem hashtags para ter maior visibilidade. Dez segundos já é muito, o que dizer então de um dia ou mais para revelar um rolo.
A fotografia passou a ser um luxo garantido. Gratuito, tão comum quanto o ar que respiramos. Podemos tirar e ver fotos 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Será que de certa forma, isso pode diluir ou dessensibilizar o “momento” ?

A fotografia de rua, transformou-se num passatempo tão popular que o género agora produz centenas de milhares de imagens, muitas delas repetitivas e cheias de clichés. Parece que todos imitam todos, e a originalidade, espontaneidade e autenticidade desapareceu. Este tipo de imagem tem alguma relação com o trabalho de Cartier-Bresson, Walker Evans, Robert Frank, ou Diane Arbus? Tem ainda algum valor artístico ou é apenas algo para consumir e deitar fora?

Penso que o grande desafio reside na nossa capacidade de “separar o trigo do joio”.

Hoje, para ser um “fotógrafo de rua”, nem é preciso uma câmara fotográfica, basta um smartphone, e depois uma plataforma para publicar — como o Facebook, o Instagram ou um blog. As coisas não deviam ser tão fáceis nos tempos de Robert Frank, Garry Winogrand ou Lee Friedlander. Eles tiveram que investir (tempo e dinheiro) na ideia de fazer fotografia de rua, tiveram que submeter o seu trabalho a críticos e editores que, suponho seriam mais duros do que os atuais seguidores de Instagram.

Hoje, conta-se apenas com os “likes” e muitos aceitam isso como uma expressão do valor estético ou do valor artístico do trabalho. Mas de certa forma a fotografia tornou-se mais democrática. Não está nas mãos de uma meia dúzia de críticos e editores decidir o que é ou não suficientemente bom para ser visto e publicado. Todos podemos publicar e todos podemos ter acesso ao trabalho dos outros.

Às vezes penso quantos bons fotógrafos ficaram pelo caminho ou foram “apagados da história” porque não convenceram determinado critico ou editor. E será que no mundo atual, fotógrafos como Diane Arbus ou Lee Friedlander teriam vingado? É divertido imaginar uma página de Instagram de Henri Cartier-Bresson… como fotografaria ele hoje?
Talvez continuasse a ser um sucesso, afinal Joel Meyerowitz apesar dos seus 83 anos de idade, acompanhou os tempos e esta lenda viva da fotografia americana tem uma conta de Instagram com milhares de seguidores (podem ver aqui)

Como tudo na vida, a fotografia de rua evoluiu. Não é a mesma que era no século XX, nem poderia ser, essas circunstâncias nunca mais vão voltar. Mas isso não significa que o mundo em que vivemos agora não valha a pena documentar. É simplesmente documentado de uma maneira diferente.

Continuo a pensar que a fotografia de rua é, e continuará a ser sempre relevante, não apenas como arte, quando nos comove, cria empatia, nos faz rir ou chorar, mas por aquilo que nos pode mostrar da sociedade atual e aquilo que pode transmitir às gerações futuras. Principalmente quando assume uma vertente quase documental e se transforma numa janela aberta para outras realidades sociais e culturais. 

A fotografia de rua pode, consciente, ou inconscientemente, revelar injustiças, brutalidade e abusos de poder e nunca, como agora, a imagem teve tanta força.
Antes a imagem podia existir, mas não tinha onde ser divulgada. Os meios de comunicação clássicos, desvalorizavam ou propositadamente ignoravam imagens que não estavam de acordo com as regras estabelecidas. Agora porém, o fotógrafo pode partilhar as suas fotos com o mundo, premindo um simples botão.

É por isso que a fotografia de rua tem uma glória dentro dela que fotógrafos de todo o mundo como  Rui Palha, Alexandra GilJoshua K. Jackson, Dina Alfasi, Girma Berta, Anton Kawasaki, Navin Vatsa, Angelo FerriloMelissa O’ShaughnessyEfi Longinou e tantos outros, continuam a fazer brilhar.

 

"To take a photograph is to align the head, the eye and the heart. It's a way of life"
- Henri Cartier-Bresson

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