O medo de falhar
The Travellight World
Ninguém gosta de falhar.
O medo de fracassar faz parte da natureza humana e isso é absolutamente normal.
O problema é quando esse medo é tão forte que nos impede de tentar fazer algo novo; cria dúvidas constantes no nosso pensamento; perturba o nosso progresso ou leva-nos a fazer coisas que nada tem a ver connosco.
Muitas vezes este medo e a necessidade de ser perfeito desenvolve-se cedo. Começa na infância e piora à medida que o mundo pressiona cada vez mais as crianças para que sejam vencedoras e os pais para que tudo façam para isso acontecer.
Resultado? Crianças frustradas e infelizes que já aos 6 anos de idade sofrem de ansiedade e que depois se transformam em adolescentes inseguros e problemáticos e finalmente em adultos deprimidos.
Somos constantemente pressionados para ser perfeitos em todas as áreas. Sentimos que há algo de errado connosco se não tirarmos boas notas, se falharmos a entrada na universidade, se ainda formos solteiros depois de passar uma certa idade, se não tivermos filhos ou se tivermos filhos muito cedo, se não tivermos um emprego bem remunerado, se não nos comportarmos de determinada maneira (aquela que é tida como “normal”) e até se não tivermos seguidores nas redes sociais (alguém me dizia num comentário ao texto o algoritmo, que numa entrevista de emprego um candidato foi desconsiderado porque não tinha redes sociais e "é muito esquisito alguém não ter pegada digital").
Em muitas empresas reina a cultura da perfeição em que qualquer falha, por pequena que seja, é inaceitável.
Isso transforma o ambiente de trabalho numa selva implacável, onde não há solidariedade ou amizade. Reinam só a competição feroz e o stress. A mentira, a trapaça, a falsificação de dados, tudo vale para ocultar problemas… ou passá-los para um colega.
No meio de toda esta pressão muitas pessoas ficam frustradas, dececionadas. Acham que nada do que fazem é suficientemente bom ou interessante e mesmo quando alcançam o sucesso não se sentem felizes.
Porquê?
Talvez porque aquilo que achavam que eram os seus objetivos, nunca realmente partiram deles. Trabalham até à exaustão na esperança de se sentirem dignos. Baseiam a sua autoestima em realizações externas porque contam com a opinião dos outros para lhes dar uma noção do seu valor. Sentem que tem algo para provar o tempo todo. Acumulam emoções de culpa, esgotamento e por vezes ódio. Tentam “colorir sempre dentro das linhas” e depois batem-se com o chicote metafórico se por acaso cometem um erro.
A tolerância à falha ou à frustração é uma habilidade importante na vida. Devia ser ensinada desde cedo às crianças. É essencial para manter um certo equilíbrio mental e a criatividade a funcionar.
Quando paramos de desviar as nossas energias para as nossas ansiedades e necessidade obsessiva de perfecionismo, vemos o nosso nível de felicidade aumentar, assim como a nossa produtividade e criatividade. Se nos concentrarmos no que podemos aprender com uma experiência má, em vez de nos concentrarmos apenas no fracasso que daí resultou, podemos recalibrar as nossas respostas a todas as circunstâncias e ver as menos boas como momentos de oportunidade em vez de derrotas. Os fracassos podem ser fontes de educação e inspiração, em vez de humilhação.
Ouvimos falar muito sobre ser positivo. Isso é fundamental, claro, mas talvez também precisemos de reconhecer que as experiências más podem ser tão ou mais importantes quanto as boas, para o nosso desenvolvimento e sucesso.