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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

25.01.22

Empatia & Sensibilidade


Ana Mestre

50 frases sobre empatia para espalhar altruísmo e compreensãoQuem me conhece sabe que sou assistente de callcenter , na área de comunicações!

Trato de reclamações e invariávelmente também tenho que reclamar, ás vezes, ou pedir ajuda para resolver algum tema.

Sabendo o que se passa do outro lado( do atendimento), sou o mais correta possivel e até agora tenho sido bem sucedida.

Hoje necessitei de falar com uma assistente da minha empresa de TV e NET , devido a problemas na minha faturação , e tive a experiência da minha vida, uma experiência 100% positiva. 

Sou cliente há vários anos, sempre me trataram bem, corretamente e sempre tentaram resolver as minhas situações da melhor maneira possivél, mas hoje superou as minhas expectativas.

A "miuda" que me atendeu era a empatia em pessoa, um doce (em forma de voz), fez tudo ao seu alcance para me resolver o problema e ainda me disse que se não fosse possivél resolver com ela, que me teria encaminhado para alguém que o pudesse fazer.

Mostrou-se tão disponivel que até me esqueci que estava a falar com uma linha de apoio (telefónicamente), parecia que estava a falar com a assistente cara a cara.

Quase no fim da conversa, quando o tema estava resolvido, perguntei-lhe se era assistente há muito tempo , ela riu-se e disse que não ...

Só lhe pedi que se mantivesse sempre assim, empática, preocupada, pondo-se no meu lugar e fazendo tudo o que estava ao seu alcance.

No fim agradeci fervorosamente, pedi que me desse um email para enviar um elogio a quem de direito, ela só me disse:

-Hoje, a senhora fez o meu dia!

E ela fez o meu !

 

Haja empatia !

 

Ana Mestre

 

 

24.01.22

3º Dose e Eleições: Reflexão De Um Cidadão


Filipe Vaz Correia



 

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Apanhei neste Domingo a 3ª dose da Vacina contra o COVID 19.

Demorei perto de 50 minutos, não sei se tanto, contando já com o tempo de recobro e posso dizer que foram todos de uma afabilidade sem palavras, desde o Bombeiro à entrada do Pavilhão da Fil até às senhoras dos saquinhos com o lanche, num processo bem definido e elaborado para que o cidadão seja de forma eficiente e rápida vacinado.

Tantas vezes gostamos de dizer mal do nosso País, acredito que somos profissionais nessa matéria, que nunca será demais elogiar o que de bom tem sido feito neste quesito da vacinação.

"Nas paredes panfletos alertando para táxis gratuitos para quem assim desejar desde que para efeitos da Vacinação..."

Dúvido que algum País tenha um sistema de Vacinação mais bem estruturado e executado que o nosso.

Parabéns por isso a quem de direito.

Deixando assim este texto sobre a minha vivência com a vacinação não quero deixar de notar que este será o meu derradeiro Post antes das eleições, ou seja, quando aqui voltar a escrever já teremos um novo Governo mesmo que não em funções.

Assim, espero que todos vão votar, sem medos ou hesitações, sem tabus ou fake news, tentando diminuir a abstenção que tantas vezes ajuda a corroer o sistema democrático.

Não votarmos é, na minha modesta opinião, um rastilho para a ascenção de populistas e demagogos que prometem tudo e o seu contrário aproveitando a revolta ou amargura de alguns para se apoderarem e destruírem a Democracia.

Tenho profunda esperança que depois de Bolsonaro e Trump possamos ter aprendido a Lição.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

23.01.22

As eleições legislativas


O ultimo fecha a porta

Hoje irei exercer o meu direito de voto já que aderi ao voto antecipado. 

Veremos o que nos reserva os próximos dias mas vou deixar um post polémico sobre como vejo os partidos à data de hoje.

Ponto prévio: Não sou mulitante nem adepto de nenhum partido.

 

PS

6 anos já é tempo suficiente para conduzir os destinos do país. Beneficiou da recuperação económica global pós troika e lidou bem com a pandemia. Apesar da comunicação confusa e deficiente, a coisa ficou controlada em Portugal.

Porém, associo esta governação à "cunha", às nomeações familiares em vez do mérito, ao desbaratar de dinheiros públicos no buraco "TAP" (a viagem via Raynair para os Açores nesta campanha é a bofetada de luva branca sobre o "interesse estratégico" da companhia) e ao ministro Cabrita, um dos piores que tenho memória nos meus curtos 33 anos.

 

PSD

Liderado por uma pessoa teimosa e arrogante, que não sabe bem o que quer. Coliga-se a radicais nos Açores, vai atrás dos mediatismo com Suzana Garcia, dá cobertura a autarcas com acusações de abusos de poder e fica a sensação que deixá-lo sozinho no poder é um perigo à solta pois é muito quadrado nas suas convicções. No seu programa e debates, não percebi o que verdadeiramente pretende para o país e quais as suas bandeiras.

Contraria as sondagens como se viu na eleição de Rio no Congresso e de Carlos Moedas em Lisboa.

 

CHEGA

Tem algumas coisas que concordo e muitas que me revoltam. Assusta-me a manta de retalhos que é o partido e sobretudo não saber quem faz parte das listas e está elegível para deputados. Não promete nada de inovador, tem ideias muito conservadoras e posições pouco inclusivas e muito extremadas. A colagem a movimentos negacionistas da covid 19 é ainda mais aterrador.

 

BLOCO DE ESQUERDA

É o grande causador desta instabilidade, quase como um amuo. A sua bandeira é a ... TAP. Não traz grandes inovações, nem promete estabilidade. Mais do mesmo...

 

INICIATIVA LIBERAL

Uma das surpresas, com bons quadros nas suas listas. Tem ideias inovadoras e trouxe um tema que valorizo: o IRS guloso que come aumentos salariais e desincentiva a progressão nas carreiras. Desiludiu-me na temática do ensino superior pago pelo estudante pelo estudante que é assumido pelo Estado ao fim de alguns anos. Uma proposta confusa e sem sentido. A desvalorização das alterações climáticas também não jogam a seu favor.

 

CDU

Existiu nesta campanha? Não gostei da cobardia de fugir aos debates dos canais por cabo e não sei o que traz de novo.... Praticamente não se ouviu e será mais do mesmo, com as caras de sempre. Deve ser salvo pelos resistentes sindicalistas da Zona Sul, mas parece que nem entra para as contas.

 

CDS

O seu líder surpreendeu com as jigajogas no seu Congresso com medo de perder para Nuno Melo. E isso levou à sua descredibilização como político. Um miúdo mimado e imaturo. Nos debates não gostei do seu estilo de grito seguindo o de André Ventura. Não é a defender as touradas contra o PAN que conquista pessoas. Salvou-se a sua ideia para a reforma do IRS, que passou despercebida no meio de tantas polémicas.

Não sei se sabiam... eu só soube estes dias, que FRS foi considerado um dos millenials mais promissores pela Forbes.

 

PAN

É dirigido por uma mulher e isso é bom (só há mais Catarina Martins e Renata Cambra). Admiro a flexibilidade de se juntar ao partido que vá de encontro aos seus ideais. O PAN tem as suas causas e não tem de se colar nem à Esquerda nem à Direita. Não concordo com essa crítica dos comentadores, sinceramente. Critica-se os políticos que muitas vezes são do contra só porque sim. Um diz que é flexível e é logo atacado.

Como ponto negativo, vejo o programa muito proibicionista e ausência de caras novas.

 

LIVRE

Depois do terramoto Joacine, limpou a imagem quando o líder pôs André Ventura "na linha" logo no primeiro debate. Os comentadores destrutivos vêm logo criticar que é um partido que é constantemente derrotado. Discordo desse bota-abaixo. Então, se uma pessoa tem umas ideias para o país e tem a coragem de fundar um partido, qual é o problema de seguir as suas convicções? Tem de eleger sempre para se sentir realizado? Como crítica, destaco a ignorância que dá ao resto do país, pois até recusou uma entrevista no Porto Canal.  Em vez de discutir a quinoa, devia discutir a coesão territorial.

 

Dos restantes partidos, uma professora da minha idade destacou-se no debate na RTP. Renata Cambra. A agência Lusa ajudou com a notícia dos "elogios" que recolheu no Twitter dando visibilidade. Um discurso diferente com uma causa: a carreira dos professores. Seria interessante vê-la no Parlamento.

21.01.22

Hoje trago Pessoa…


JB

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno — não concebo bem o quê —,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

 

Fernando Pessoa