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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

30.09.22

Parabéns Mãe


JB

Hoje não me levem a mal,

mas o postal,

é mais pessoal,

que o habitual.

 

 


O primeiro amor da minha vida faz hoje anos.

 Alguém que era maior do que o Universo quando eu nasci e que ainda hoje, depois destes anos todos continua a ser uma gigante.

 Uma força de leoa, uma energia imparável e um enorme sentido de missão, foi aquilo que sempre a caracterizou. 

 Lembro-me das visitas a presidiários, das actividades extra na Igreja e da conquista maior que ainda hoje ajuda milhares de pessoas por toda a região. Fundou o banco alimentar do Oeste.

 Hoje em dia, é uma avó dedicada e dona extremosa de um pequeno Jack Russel, o feroz Zaqueu.

 Gosta de passear na praia, de ir à missa e cantar salmos, e passa a maior parte do dia a preocupar-se com os outros. O resto do dia passa na Netflix.

 É a minha mãe, faz hoje anos e eu tenho muito orgulho nela.

 

Grande beijo de parabéns.

29.09.22

Otoño Porteño


The Travellight World

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A folha de plátano seca que (sobre)vive dentro de Ficções de Jorge Luis Borges, caiu quando folheei o livro.

Baixei-me para a apanhar e a minha memória voou veloz até aquela longínqua tarde de outono em que passeamos de mão dada por Buenos Aires.
O vento soprava suave, porém com força suficiente para derrubar as folhas secas das árvores altas que povoam o vibrante barrio de Palermo. Borges viveu ali e dizem que Che Guevara também.

Não sei se é porque nasci no outono, mas sou completamente apaixonada pela estação dos castanhos e dourados, amarelos e vermelhos. No outono, parece-me, as cores são mais intensas e as sombras mais longas… sonho e realidade esbatem-se e misturam-se como as tintas de uma aguarela.

Ainda as consigo ouvir… as folhas secas a estalar sob os nossos pés enquanto caminhávamos pelo Parque Três de Febrero. Se fechar os olhos consigo ver novamente a pérgula branca, o jardim do poeta e o rosedal. Regresso à esquina das Avenidas Figueroa Alcorta e Sarmiento, onde agora fica um planetário, mas em tempos existiu o Lo de Hansen, um dos salões de dança mais importantes da história do tango. O salão foi-se mas os bailarinos ainda lá estavam, agora cá fora no jardim, num show improvisado para os turistas.

Paramos um pouco para assistir, admirando a coreografia complexa e a paixão do casal.

O tango é um pensamento triste que se pode dançar" dizia Enrique Santos Discépolo, e tinha razão.
É uma dança dramática, cheia de sentimento, tristeza e uma certa agressividade. Mas também é sensual, sexual, tem movimentos que nos prendem o olhar e uma música que nos toca o coração (e outras partes do corpo).

Seguimos caminhando. Melancólicos.
As folhas continuavam a cair… peguei numa, cor de ouro, e guardei-a como lembrança na mala que trazia a tiracolo.

O céu imensamente azul, ganhara com o passar das horas uma nova cor. Primeiro ficou rosa, depois lilás. O ritmo da cidade também mudou. De repente as ruas pareceram ficar vazias, as casas e palacetes antigos, decadentes e abandonados...

O vento voltou a soprar, agora menos agradável.

Refugiamo-nos numa livraria. Que melhor lugar pode haver?

Chamava-se Libros del Pasage, e tinha enormes estantes de madeira carregadas de obras da literatura argentina, poesia e filosofia e tinha também escadas que iam do chão ao tecto.
Descobrimos um exemplar de Fervor de Buenos Aires, o primeiro livro de poesia de Jorge Luis Borges. Não resisti a comprar. O Ficções, foi-me oferecido.

Sentamo-nos no café da livraria com duas chávenas de chá a ler poemas e passagens dos livros. Ao fundo, baixinho, tocava o muito apropriado Otoño Porteño, de Astor Piazzolla.

“Coloca a folha de plátano no livro” — pediu-me, quando íamos a sair para a rua.

Eu assim o fiz e ela ali ficou. Até hoje, quando caiu, carregada de lembranças de uma bonita tarde de outono em Buenos Aires…

...Buenos Aires é a outra rua, a que nunca pisei, é o centro
secreto das quadras, os pátios últimos, é o que as
fachadas ocultam, é meu inimigo, se ele existir, é a
pessoa a quem meus versos desagradam (também
me desagradam),

é a modesta livraria em que talvez
tenhamos entrado e que esquecemos, é essa rajada
de milonga assoviada que não reconhecemos e que
nos toca, é o que se perdeu e o que será, é o ulterior,
o alheio, o lateral, o bairro que não é teu nem
é meu, o que ignoramos e amamos.

Jorge Luis Borges | "Poesia Completa", (Tradução: Josely Vianna Baptista)

 

Memórias de um outono em Buenos Aires, já antes publicadas no meu blog The Travellight World

27.09.22

O cúmulo da falta do que fazer!


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Garrafa de agua. dia internacional da água. água em uma garrafa de  plástico. estilo de desenho animado. ilustração vetorial. para design e  decoração. | Vetor Premium

 

Em semana forçada de pausa, e com os restantes membros da família a colaborarem para me deixar descansar, o cúmulo da falta do que fazer, e de querer fazer alguma coisa para não me sentir tão inútil, foi pegar na garrafa de sumo que estava na mesa, e arrumá-la no frigorífico.

E, depois, ter que voltar a tirá-la porque a minha filha nem tinha dado por isso, e queria mais sumo.

Fiz isto umas três vezes, até que a minha filha me disse: "Mãe, pára de me levar a garrafa, e deixa-a sossegada aqui em cima!"

E pronto, voltei a sentar-me, e a ficar sem nada para fazer.

O sonho de muitos, o pesadelo de outros!

26.09.22

Masha Amini: Até Quando Irão?


Filipe Vaz Correia

 

 

 

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No dia 13 de Setembro Masha Amini era detida no Irão, pela Polícia da Moral, por não usar devidamente o seu Hijab...

No dia 17 tinha entrado em coma e morria devido a várias fracturas cranianas resultantes dos "correctivos" dados pelos criminosos representantes de Alá.

Mulheres e Homens saíram às ruas de várias cidades Iranianas gritando morte ao ditador, o líder supremo Ali Khamenei, num gesto de bravura sem tamanho num país regido por uma férrea ditadura religiosa.

Este caso brutal sobre esta jovem de 22 anos emocionou-me, deixou uma parte de minha alma sem voz, triste e amargurada através do olhar de muitos que pediam no TikTok para que o mundo não se esquecesse deles...

Infelizmente não ouvi Biden ou Trudeau, Macron ou Marcelo, Truss ou Van Der Leyen a falar neste caso, nesta tortura constante que segue asfixiando o povo Iraniano, as meninas e mulheres que sofrem há décadas às mãos de frustrados e pervertidos em nome de um Deus que se deve de envergonhar por ter este tipo de escória humana a falar em seu nome.

Mais de trinta mortos, dos 10 aos 60 anos, resultaram dos protestos no Irão, desse movimento de gente que se levantou e enfrentou a tirania vigente mas infelizmente com este silêncio dos líderes mundiais julgo ser difícil que estas pessoas possam vislumbrar um mundo melhor para as suas oprimidas vidas.

Para cúmulo de tudo isto, o Presidente do Irão discursou por estes dias, em plena revolta popular, nas Nações Unidas em Nova Iorque, para falar entre outras coisas de Direitos Humanos...

Como é possível?

Como lhe foi permitido?

Na verdade torna-se difícil olhar para isto sem que um certo desespero bata em nós, sem que a indignação e frustração tome conta do momento.

Há muito que acredito que o Irão deveria ser expulso das Nações Unidas e que as sanções sobre o País devereiam se tornar absolutamente radicais, principalmente no que toca a contas bancárias de dirigentes e políticos no estrangeiro.

Enquanto o Ocidente permanecer complacente com este criminoso regime nada mudará e mais Aminis aparecerão.

Até quando Irão?

Repetidamente vem em meu pensamento o filme Rapto em Teerão com Sally Field...

Um verdadeiro sofrimento que permanece real nos tempos actuais.

Mais uma vez escrevo:

Até quando?

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

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