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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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29.02.24

Política 3.0


UmAnónimo

 

Assisti ontem ao novo programa do Guilherme Geirinhas "pedro, és um bom partido". Confesso que gosto desta (nova) forma de estar e de fazer política. Gosto do Ricardo Araújo Pereira, gosto do "5 para a meia noite". Gosto desta forma de apresentar e conhecer os candidatos num formato menos tradicional e mais irreverente, sem que o tema seja só o programa eleitoral, mas permitindo conhecer um pouco os candidatos. Gosto das perguntas fora do padrão, e do gozo, muitas vezes consigo próprios. Num momento em que as eleições se transformaram mais numa partida de futebol com as suas claques e menos num espaço de análise de programas e decisões conscientes, estes programas trazem uma nova visão da política. Permitem conhecer a pessoa, para além do líder partidário.

Por vezes acho que vão longe demais. Que roçam a brejeirice. Mas continuo a gostar. Porque não basta debitar slogans e chavões. É preciso poder de encaixe e capacidade de brincar com algumas das suas características.

É óbvio que cada apresentador tem as suas tendências. Uns escondem-nas melhor do que os outros. Mas até isso é bom. Acontece o mesmo nos debates e nos programas televisivos mais a sério. Não é um monólogo, mas um diálogo. E um diálogo tem sempre dois ou mais participantes.

A política não tem que ser chata. Não tem que ser só para os velhos. Está na altura de perceber que nos afeta a todos. E todos temos que participar e ter voz ativa. E estes programas abrem a política a outra geração, a outros públicos.

Consigo aceitar que o método eleitoral esteja errado. Seja de Hondt ou outro. Seja por círculos uninominais, ou voto em bloco. Comece o voto aos 16, 18 ou 21 anos. Eleja-se diretamente o Primeiro Minstro ou não. Votação digital ou presencial. Voto obrigatório ou facultativo. São tudo discussões que se podem ter. Mas curiosamente, são discussões que estão sempre no tempo errado. Essa discussão deve ser tida, fora do período eleitoral, e não nesse período.

 

 

 

27.02.24

O Dia em que Abandonou a Polícia


Bruno

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Imagem: Bruno Nunes dos Santos 

 

Chi vive a contatto con il pericolo ha bisogno do comprendere il significato degli indizi apparentemente più irrilevanti, di interpretarli mediante un'opera costante di descodificazione. E questo vale per chiunque, poliziotto, masgistrato, criminale.

Vincenzo Ceruso (citando Giovanni Falcone), in "Le Due Stragi che Hanno Cambiato la Storia D'Italia - Falcone e Borsellino, Da Capaci a Via D'Amelio".

 

 

O acejo apoderava-se já de Lisboa, uma Lisboa ainda a preto e branco mas airosa nas suas casas de fado, nas tascas que tanto a caracterizavam - e que agora são alvo de ataque cerrado - nos sons que chegam do Tejo através das buzinas dos cacilheiros - Laranjas e brancos, lentos e seguidos por bandos de gaivotas em revoada anunciando a chegada destes ao cais. 

 

Lisboa, apesar de uma certa tristeza das suas gentes, aspirava voltar a ser o centro do mundo, todavia sem perder a sua identidade, os seus cheiros - nem sempre aprazíveis, é um facto - e a sua forma única de encarar o Tejo saudando-o na sua chega ao tenebroso Atlântico.

 

Nesse dia, os agentes percorriam a cidade apeados, como era habitual à época. A Polícia era respeitada, eram tempos de algum rigor e de peso institucional e as solicitações eram mais que muitas, normalmente de pequena monta. Deixavam agora o Cais do Sodré quando a noite já se apoderava da cidade - era uma noite em que até os oficiais andavam na rua e na esquadra sobravam para as burocracias dois ou três agentes.

 

O destino era a área envolvente ao Jardim da Estrela onde os lampiões já combatiam a escuridão que abarcava agora toda a cidade. Os bêbados do final do dia deixavam já as tabernas que fechavam com a noite, enquanto outros já preparavam a goela para aquelas que se preparavam para estarem abertas até de madrugada. As mais tardias gentes trabalhadoras regressavam a casa e o bulício era somente uma recordação de mais um dia soalheiro.

 

Já perto do jardim, na Rua da Estrela junto ao Cemitério Inglês, escuta-se um pequeno alvoroço. Uma viatura com a luz interior  ligada denuncia rapidamente a origem e nesse instante o ruído transforma-se em gritos de mulher. Os agentes aproximam-se rapidamente do veículo e percebem que aí se encontra uma jovem a ser sovada. Falamos de uma época em que, apesar de tudo, não era das coisas mais anormais que se poderiam ver, sendo que, na grande cidade estes casos já eram tratados com outra mentalidade.

 

Detido em flagrante delito, o flagicioso encara toda aquela situação com desdém pela autoridade e pela mulher que o acompanhava. Sorria e troçava da situação e de todos os envolvidos na mesma. Era um homem alto, “bem posto” e aparentava ser da alta sociedade lisboeta da época. Um bon vivant que delapidava o dinheiro da família e, à época como hoje, achava gozar de uma imunidade que lhe permitia fazer o que bem entendesse. 

 

- Vocês sabem quem eu sou? Proferiu em tom jocoso, enquanto era encostado à sua própria viatura para revista. Ignorando o discurso, os agentes procederam à detenção, não sem ouvirem as seguintes palavras:

 

- Os amigos vão ter problemas, se vão! 

 

A mulher encontrava-se claramente assustada - nem sempre um homem é um cavalheiro. Claramente alguém abaixo do estrato social do indivíduo que estaria a ser abusada ou a pagar caro o facto de não ceder a determinados caprichos.

 

Na verdade, nem houve lugar a prisão, apenas uma pequena passagem pela esquadra, um rol de indivíduos que acompanhou o advogado e a formalização de uma queixa, não sem antes um olhar de soslaio por parte do advogado para o agente e um “tem a certeza que quer avançar com isto?”.

 

Cansado de ver a autoridade ser posta em causa tantas e tantas vezes, estas ocorrências vinham agora a ser mais habituais, todavia, aquele rosto assustado, daquela bela inocente, de sorriso fácil, cabelo ondulado e olhos amendoados, nunca mais saiu da cabeça do agente. Não iria desistir.

 

No tempo que mediou entre a detenção e todo o processo já em tribunal, Lisboa pouco mudou. Na verdade, também todo o processo - testemunhas, provas e mais provas e o desfecho seria óbvio, sem bem que os sinais de que algum dia aquele criminoso pudesse acabar no alto do Parque Eduardo VII eram cada vez mas ténues. Até pelas presenças e “interferências” de alguns indivíduos.

 

Da boca do juiz não saíram as palavras “condenado a…” mas apenas uma repreensão à atuação das autoridades que terão assustado o indivíduo face àquela abordagem e consequentemente o terão deixado nervoso. Sobrou ainda tempo, qual filme de mafiosos, para à saída, após a leitura da sentença (ou falta dela) o patife, de fato, cachecol e gabardine, se virar para o agente que o deteve e ter proferido as seguintes palavras: “eu não lhe disse? Agora prepare-se para os problemas.” Proferidas com sorriso cáustico seguido de uma caminhada triunfante até à saída da sala de audiências onde o aguardava um grupo de biltres, alguns deles bem conhecidos da “Democracia”.

 

Foi também nesse dia, imediatamente após a audiência, que o agente se deslocou ao Comando e  apresentou demissão. Alegaria que havia integrado a Polícia para defender a Justiça e o povo. Que era esse o seu sonho e não o contrário pactuando com a opressão. Alegaria que aquele rosto aterrorizado havia sido a gota de água que faria transbordar um copo carregado de injustiças cuja Democracia parecia acentuar e não calar.

 

Já no Comando, honraram a sua pessoa e ainda o tentaram demover por múltiplas vezes até à passagem à vida civil. Contudo, aquela cabeça dura não mudou a opinião e com isso alterou a genética que acabaria também por influenciar aqueles que de si descenderiam, independentemente das consequências.

 

Essa genética hoje ainda vive. Essa genética que questionou que essa luta pela verdade ou até pela integridade em tudo poderia ter ido mais longe, mas na realidade, todos aqueles que conviveram com aquele militar, depois polícia e depois civil, nunca estiveram tristes ao seu lado, aliás, as gargalhadas estavam sempre presentes, mesmo nos momentos mais difíceis. Como era possível, alguns mesmo difíceis!

 

Tinha de ser assim, o “quanto mais dou mais tenho” teve impacto em todos aqueles que de si precisaram e isso foi o suficiente. Já passaram 24 anos desde que, ainda um miúdo, viu um cemitério cheio de gente que não conhecia de lado algum, afinal o “agente” não gostava de muitas agremiações (genética que também passou) pelo que não seria de esperar tamanho cortejo.

 

Passaram muitos mais anos desde aquele rosto aterrorizado… Passaram e continuam a passar muitos mais anos que ao não sermos Homens/Mulheres, vamos consentindo que muitos rostos aterrorizados, sejam mulheres ou homens, crianças ou adultos continuem aterrorizados. É verdade que não podemos prever actos, mas podemos exigir Justiça, podemos exigir Valores e podemos exigir Verdade.

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Para ler: de Miguel de Unamuno, "La tía Tula". E eis que finalmente o platonismo de Tula vai cair e Ramiro vai finalmente tomá-la em braços, mas... Um dos romances que mais aprecio do autor.

Para assistir: é já no Sábado que não vou perder Driss El Maloumi na Gulbenkian. O oud deste marroquino vai-nos deixar contagiados. Será que atingiremos com ele o tarab?

Para ouvir: ao lembrar-me de ir buscar o livro de Vincenzo Ceruso para passar ipsis verbis a citação que acompanha este texto, não me perguntem mas só me lembrei de um dos melhores filmes da minha vida e daquela festa em Roma que não deixou ninguém indiferente! A veterana Rafaella Carrà com Bob Sinclair. Um tema de 1976 (também de Carrà) que em 2013 ganhou um boost daqueles. Deixo "Far L 'Amore" como foi apresentada no filme de Sorrentino - naquela festa inesquecível.

Para comer e beber: pode soar a um certo pretensiosismo, mas no seguimento de algumas menções a Itália, não posso deixar de recomendar a "Trattoria Al Faro" em Sciacca. Um dia falarei desta terra que é pequeno retiro que tenho na Sicília. A trattoria é um hino ao peixe fresco onde aqueles estufados com massa, uma coisa daquelas. Simpatia e sabor verdadeiramente italiano e sem turistas. E para beber, nada como acompanhar um bom jantar com um outro produto daquela terra: um "Cantine Sciacca Caucinum - Falerno del Massico Primitivo" merece bem a pena lá ir ou na impossibilidade de, mandar vir. Um dia, talvez fale de Sciacca, quiçá.

26.02.24

Pedro Abrunhosa e Bloco de Esquerda: O Plágio...


Filipe Vaz Correia



 

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Toda a gente que aqui me acompanha sabe o quanto gosto de Pedro Abrunhosa, o apreço que sinto pelo artista e pelo homem, o quão importante é o seu reportório na minha vida...

Abrunhosa é na minha visão um génio, um pedaço de idílico no panorama cultural português, no entanto, diante desta nova polémica que o envolve com o Bloco de Esquerda tenho que balancear os meus ímpetos,,,

A frase "fazer o que ainda não foi feito" faz parte de um álbum de Pedro Abrunhosa, porém não se pode levar o plágio ao limite do absurdo, de um patamar onde o anormal se torne normal.

Percebo que um autor, um artista vocal, se indigne que uma canção sua seja usurpada por uma campanha política do seu desagrado, que nos usurpem parte da nossa inspiração para algo que nos é abjecto, mas isso não pode ser confundido com a liberdade linguística, por exemplo:

"Born in The USA" de Bruce Springsteen, na sua excelência autoral ser aproveitada por uma campanha política que conspurque o ideal da música e autoria, porém jamais poderemos sequestrar as palavras ou frases dessa genialidade autoral como se de um todo se tratasse.

Se alguém plagia o poema, a letra, a música, que seja processado, no entanto, se alguém se cingir à frase Born In The USA, esse pormenor, que será um pormaior, não deve, na minha opinião, ser cerceado, amputado no seu direito de criar.

Esta polémica é para mim estéril, desprovida de conteúdo, amarrada a um olhar histericamente populista que abraça uma certa elite cultural que nos circunda, senhora dos seus direitos mas impotente aquando se acerca a latitude maior de um cenário abrangente neste mundo que nos serve de casa.

O Bloco escreve o que quiser e usará o que quiser e se plagiar Van Gogh que seja processado, no entanto, se usar orelhas amputadas, isso por si só não tem de ser plágio.

Parece difícil?

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

26.02.24

Pedro Abrunhosa e õ Bloco de Esquerda: O Plágio...


Filipe Vaz Correia

 

 

Toda a gente que aqui me acompanha sabe o quanto gosto de Pedro Abrunhosa, o apreço que sinto pelo artista e pelo homem, o quão importante é o seu reportório na minha vida...

Abrunhosa é na minha visão um génio, um pedaço de idílico no panorama cultural português, no entanto, diante desta nova polémica que o envolve com o Bloco de Esquerda tenho que balancear os meus ímpetos,,,

A frase "fazer o que ainda não foi feito" faz parte de um álbum de Pedro Abrunhosa, porém não se pode levar o plágio ao limite do absurdo, de um patamar onde o anormal se torne normal.

Percebo que um autor, um artista vocal, se indigne que uma canção sua seja usurpada por uma campanha política do seu desagrado, que nos usurpem parte da nossa inspiração para algo que nos é abjecto, mas isso não pode ser confundido com a liberdade linguística, por exemplo:

"Born in The USA" de Bruce Springsteen, na sua excelência autoral ser aproveitada por uma campanha política que conspurque o ideal da música e autoria, porém jamais poderemos sequestrar a palavras ou frases dessa genialidade autoral como se de um todo se tratasse.

Se alguém plagia o poema, a letra, a música, que seja processado, no entanto, se alguém se cingir à frase Born In The USA, esse pormenor, que será um pormaior, não deve, na minha opinião, ser cerceado, amputado no seu direito de criar.

Esta polémica é para mim estéril, desprovida de conteúdo, amarrada a um olhar histericamente populista que abraça uma certa elite cultural que nos circunda, senhora dos seus direitos mas impotente aquando se acerca a latitude maior de um cenário abrangente neste mundo que nos serve de casa.

o Bloco escreve o que quiser e usará o que quiser e se plagiar Van Gogh que seja processado, no entanto, se usar orelhas amputadas, isso por si só não tem de ser plágio.

Parece difícil?

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

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