A Histórica Iniquidade de Genitálias
Triptofano!
Para quem possa estar a perguntar-se o que está representado na imagem, deixem que vos apresente um modelo 3D de um clitóris. Leitores do blog...clitóris. Clitóris...leitores do blog!
E porquê um clitóris? Depois de ver o documentário Como se Vive a Sexualidade, Hoje? do programa Fronteiras XXI, fiquei chocado ao descobrir que o mapeamento deste órgão apenas foi feito em 2009 por Helen O'Connell's.
Se o facto de termos conseguido por um homem na Lua 40 anos antes de descobrirmos de forma cientificamente detalhada como levar uma mulher à lua não é representativo da iniquidade de genitálias civilizacional, a aprovação do Viagra, o famoso comprimido azul, mais de 10 anos antes, é sem dúvida a machadada final. Afinal é mais importante tratar a disfunção eréctil do homem, do que compreender, perceber e actuar na disfunção sexual do casal. É que enfiar, dar duas bombadas, tirar e adormecer pode funcionar para alguns, mas certamente não para muitas.
Só consigo explicar este tamanho desinteresse pela principal fonte anatómica de prazer sexual da mulher pela concepção (ridícula) de que elas não são tão sexualmente interessadas como os homens. Que não tem tanta necessidade de procurar incessantemente o prazer e estão bem é em casa a cuidar dos filhos e a cozinhar e a lavar o chão e a terem orgasmos sempre que descobrem que o Continente tem um talão de 5 euros em cartão em compras superiores a 20. Que são um equilíbrio divino de vontade sexual, nem para menos, que dessa forma são pudicas, nem para mais, que aí já são putas.
As mulheres foram dotadas da capacidade de ter orgasmos múltiplos, sem haver cá período refractário pelo meio, mas mesmo assim são os homens que são os seres sexuais. A abono da verdade, aqui a minha pessoa já conseguiu ter dois orgasmos seguidos, qual maratonista da ejaculação, mas tinha menos 15 anos em cima e mesmo assim fiquei com uma dor de burro depois que estava a ver que não havia amanhã. As mulheres não tem esse problema, não há dores de burro nem cãibras testiculares que as parem...mas elas continuam paradas (ou será que é alguém que as para?).
Há mulheres que não sabem o que é ter um orgasmo. Mulheres que se sentem na obrigação de fingir orgasmos. Mulheres que sentem que é errado explorarem o seu próprio corpo para descobrirem como podem ter prazer, para também aí poderem ensinar a como lhes darem prazer - como se a masturbação fosse uma conquista dos homens e apenas a eles por direito pertencesse.
Muito mais haveria para dizer, mas a mensagem principal é que para o desenvolvimento de uma sexualidade saudável é necessário uma boa auto-estima sexual. Conhecer o corpo, chamar as coisas pelos nomes, não ter vergonha de se ser diferente dos padrões convencionados pela pornografia, e aceitar que a sexualidade e a vontade sexual não tem que ser padronizadas, nem avaliadas, nem sequer julgadas.
Não há putas nem pudicas. Há apenas pessoas com desejo, e nada é mais natural que o desejo!