A intragável beleza da substituibilidade
Triptofano!
Quando deixamos de viver a nossa vida e ter tempo para a família, para o romance, para o animal de estimação ou para aquele livro acompanhado de um copo de vinho tinto, por causa do trabalho, então é altura de interiorizarmos que não há pessoas insubstituíveis.
Sei que a beleza singela da substituibilidade pode ser intragável para muitos, como uma ingestão excessiva de gorduras quando as enzimas pancreáticas entraram em greve, mas a verdade é que tão depressa como vamos também alguém vem para o nosso lugar.
Podemos deixar saudades, mas o mundo não para porque nós decidimos (ou alguém decidiu por nós) que o nosso mundo não era aquele.
Atenção, não estou a fazer uma ode ao deixa andar ou fazer o mínimo possível, mas sim ao criar limites que permitam que a vida que temos para viver seja mais do que a vida laboral.
O teletrabalho esbateu fronteiras entre a vida pessoa e a profissional, e cada vez fica mais fácil estarmos acessíveis para responder a um e-mail ou a um telefonema, a termos o computador ligado até a altas horas da noite ou adormecermos a fazer scroll nos e-mails que temos para responder.
Não nos faz bem. Nunca nos poderá fazer bem. O trabalho é para termos prazer e para nos dar prazer, ou no limite para no fim do dia nos conceder a possibilidade de obtermos e mantermos o prazer.
Vivermos para trabalhar, porque achamos que se não fizermos mais ninguém fará, é o maior erro de todos, porque todos somos substituíveis.
A única coisa que ninguém pode fazer por nós é viver a nossa vida. E a nossa vida é muito mais do que uma dimensão.