Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

06.07.20

A Pobreza Ou O Reflexo De Uma Realidade Pandémica?


Filipe Vaz Correia

E1B879DD-3447-4376-B7FB-3E49091D9F28.jpeg

 

 

No centro de Lisboa, onde moro, tenho notado um aumento de sem abrigo, uma percentagem maior de gente a pedir, na sua maioria gente jovem, de ar adoentado, diria mesmo, drogados.

Se aglomeram à porta de supermercados, nas esplanadas de restaurantes...

Uma consequência do Covid e dessa ausência de pessoas em alguns pontos mais turísticos da capital.

Muitos que arrumavam carros ou se dedicavam a pedir pelos pontos mais turísticos de Lisboa, não têm agora pessoas para o seu "peditório", formas de alimentar a sua fome ou seu vício...

Não defino a motivação, pois se alguns o fazem para "matar" o seu vicio, estou certo que em muitos casos encontramos pessoas desafortunadas que apenas precisam de uma refeição.

Enfim...

Num destes dias, à porta de um desses supermercados, um desses jovens pedintes se aproximou de uma senhora que saía daquele local, enquanto eu por ali passava, num rápido gesto lhe apontou o copo das esmolas...

A senhora rapidamente disparou:

- Hoje não pode ser! Esta resposta logo indicava que deveria ser alguém que por norma contribuía para o mesmo rapaz.

Diante destas palavras, este agressivamente respondeu:

- Então por hoje não te apetecer, eu tenho de passar fome?

Fiquei boquiaberto, enquanto, o mesmo rapaz partiu em perseguição da senhora, rua a fora, insistindo para que esta lhe desse dinheiro.

Fiquei a pensar...

Isto valha-nos Deus!

Uma das maiores preocupações que subiste em mim, tem a ver com a hecatombe económica que se aproxima deste nosso País, do Mundo, e que poderá fazer resvalar a nossa sociedade para um radicalismo absolutamente indescritível.

As imagens do Drº Jivago, na Moscovo e São Petersburgo de 1917, nunca me abandonaram desde o dia em que pela primeira vez vi este magnífico filme, protagonizado por Omar Sharif.

As ruas pejadas de miseráveis, ao frio, na neve, com fome...

Os salões de baile a tocar, a nobreza a celebrar, faustosamente, sem se aperceberem que os seus algozes acumulavam desespero e raiva, por entre, a faminta existência de suas almas.

Neste caso, que vivi, sobrou em mim a estupefacção perante a arrogância de tal "pedinte", o receio e fuga da senhora quase obrigada a dar, aquilo que não sabemos se teria para dar...

E neste absurdo pandémico, carregado de desnorte e receio, vivemos todos, cada lojista, cada casa, em cada família.

Esta incerta certeza do que nos espera como País e Sociedade.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

2 comentários

  • Imagem de perfil

    Filipe Vaz Correia 06.07.2020

    Meu querido Robinson Kanes...
    “Em Portugal, ninguém morre de fome.”
    Concordo com o meu caro amigo, não tendo a absoluta certeza disso, julgo que parece evidente que não temos um problema de fome como a Somália.
    Quanto a outras afirmações, faço fé nas suas palavras, sendo que a minha incerteza advém do desconhecimento dessa situação.
    Admito que não fazia ideia que em Santa Apolónia os sem abrigo poderiam escolher menus, naquilo que descreve como um verdadeiro manjar.
    Volto a fazer fé na sua descrição...

    Desconheço ainda a paroquia de Alcochete e o seu faustoso cabaz, como também a inexistência de falta de apoios para quem vive na rua.
    Sinceramente espero que o meu querido amigo esteja correcto, que essa seja a realidade dos nossos tempos, pois se por algum acaso a situação for a que temo, a do Drº Jivago, e estivermos trancados num dos salões do Reino, sem nos apercebermos, será certamente muito pior para todos nós.
    Um abraço
    .
  • Comentar:

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.