A Triste “Justiça” À LA Carte…
Filipe Vaz Correia
Esta semana desabafo nesta SardinhaSemlata sobre um tema que me causou inquietação e indignação.
A justiça, essa feita de letra pequena, sem preocupações com a forma ou a substância, apenas entregue a jogos mediáticos para o dito e momentâneo contentamento popular.
Depois do fiasco com a fuga de João Rendeiro, a justiça Portuguesa resolveu rever as medidas de coacção de outros arguidos e condenados neste processo BPP...
E muito bem.
Assim, notificaram o antigo administrador Paulo Guichard e ordenaram a sua presença em tribunal na sexta-feira, sendo que este se encontrava no Brasil há dez anos, tendo de regressar propositadamente para este efeito.
O dito senhor, que faço questão de salientar não conheço de lado algum nem a ninguém de sua família, regressou assim a Portugal na última quinta-feira a tempo de se apresentar para aquilo que todos sabíamos, inclusive o próprio, iria ser a sua prisão.
Saído do avião, no aeroporto do Porto, tinha à sua espera a Policia Judiciária para o deter e levar para os calabouços da PJ.
Questões que me ocorreram:
Porquê?
O senhor estaria atrasado?
Não tinha sido notificado para se apresentar no dia seguinte?
Não sabemos...
Estavam com medo do perigo de fuga?
Ai deste é que tinham medo do perigo de fuga!
Será que têm a coragem de alegar o perigo de fuga para alguém que regressa do Brasil para Portugal sabendo o que o esperava?
"Isto é tão estúpido como pequeno, tão indigno como estapafúrdio." Apenas afirmação insistente que gritava pulmões a dentro num silencioso e gigante pensamento.
Esta tentativa de agradar à opinião pública, histericamente sedenta de sangue após a fuga de Rendeiro, leva a justiça ou melhor alguns juízes a serem capazes de tudo, numa incessante busca pela aparência de credibilidade.
O senhor Guichard não precisa que o defenda, aliás não o estou a fazer, não necessita que o desculpe pelos crimes que segundo o julgamento cometeu e por essa razão deve cumprir a pena que lhe foi decretada.
Agora transformar o acto de sua entrega, a legítima vontade de se entregar marcando a diferença para quem fugiu, num triste espetáculo de autoritarismo bacoco demonstra o quão podre está a nossa Justiça.
Infelizmente estes pecadilhos tornam tão indigno o acto de justiça como o acto de outros que ousaram fugir, pois confere uma certa legitimação da humilhação, dando sustentação àqueles que olhando para a Justiça Comezinha preferem expressar bem longe a sua desconfiança do sistema.
Por fim uma questão não me deixou de inquietar:
Não sei se vindo através dos serviços prisionais do Porto para Lisboa não terá, o senhor Guichard, chegado atrasado ao Campus de Justiça na sexta-feira.
Se calhar mais valia ter vindo de Alfa Pendular...
Filipe Vaz Correia