António Costa: Uma Crise De Regime
Filipe Vaz Correia
Portugal viveu nesta semana um turbilhão sem comparação, com a demissão do Primeiro-ministro e do seu respectivo governo.
Tudo o que aconteceu, nesta semana, deixa um vasto conjunto de questões, um repertório de perguntas que nos assolam enquanto cidadãos.
Estamos perante um processo de corrupção sem evasão fiscal, o que facilmente se pode compreender como improvável, assim como, continuamos a sobreviver a estes processos fundamentados única e exclusivamente em escutas.
Não vou aqui discutir a culpabilidade de António Costa, vou aqui expressar a, minha cada vez mais certa, judicialização da política.
Vivemos num tempo em que a conversa de café é o mantra oficial da República, onde os comentários da internet são o pulsar da sociedade e isso acaba por se tornar incompatível com um escrutínio isento ou distante da realidade do dia a dia.
Neste processo e depois de analisar as escutas, e sem desprimor por quem venha a descobrir o contrário, não consigo encontrar nada que possa se encaixar em corrupção,, porém na costumeira acção do ministério público as escutas e outros enquadramentos do processo já estão no domínio público.
Continuo convicto de que a vontade do Ministério Público não é a de fazer justiça mas sim a de condicionar a opinião pública e de nos levar a um enfraquecimento do regime.
É a minha convicção.
Processos decididos em praça pública não são sinónimos de justiça mas sim de populismo e de justicialismo...
E tenho pavor destes processos e destas ideias.
Uma questão:
Quantos acusados pelo ministério público, nestes casos mediáticos e nestas últimas décadas, acabaram por ser condenados?
Quantos anos demoram a ser acusados?
Se calhar o único poder não escrutinado na nossa democracia é o do ministério público,num misto de tristeza e arrepio.
Estamos perante uma crise de regime, porém creio que essa crise advém de uma justiça mediática e populista na esperança de que o trigo seja misturado com o joio...
Todos os políticos são ladrões, todos os que se opõem são coniventes.
E verdadeiramente é disto que tenho medo.
Tenho medo de uma justiça política assim como de uma política que se amarra à justiça.
Filipe Vaz Correia