As eleições vistas à distância. Muito à distância.
Sarin
As eleições presidenciais já lá vão. Contrariamente ao que supunha, não se quedaram muito nas bocas do mundo, nem reflexos práticos nem reflexões profundas. Espanta-me.
E espanta-me porque há várias ilações que deveriam ser aprofundadas:
* A desnecessidade que um Presidente da República em funções sentiu de fazer campanha, desmerecendo a importância desta. Bom, também não acho que a campanha seja a melhor altura para fazer campanha e não vejo a utilidade de um dia de reflexão numa época prenhe de meios de comunicação - Marcelo, que a achou desnecessária, poderia ter aproveitado para lançar este debate. Mas não, nem isso.
* A "vitória" de Ana Gomes contra o fascismo. Houve quem ficasse eufórico porque conseguiu o segundo lugar. Segundo lugar de quê? A importância de um fascista ter ficado em terceiro com cerca de 50 mil votos menos pouco diferiria da de ter ficado em segundo. Não se travou o fascismo nas urnas nem o racismo no discurso. Ele aí continua, eles aí continuam, e o segundo lugar não garantiu qualquer entrada no Conselho de Estado ou a criação de uma Vice-Presidência, portanto, vitória nenhuma.
* A "vitória" de Ventura. Foi. Foi a vitória de todos os racistas que perderam o sentido de decência e foi a vitória de todos os fascistas que se escondiam desde 1974, alguns talvez nem nascidos então, mas criados no mito ou no esplendor do bem que se vivia e da grandeza do império. Dizia-me uma amiga ter sido esse [não o dela] voto de protesto, "porque todos falam em direitos iguais mas apenas o Ventura fala das desigualdades dos ciganos". Como?! Um democrata tinha 6 candidatos, os fascistas e racistas tinham apenas 1. Não é difícil perceber quem protestou e porquê.
Enfim, a esta distância posso dizer que, entre a abstenção, um Presidente que não acha importante fazer campanha eleitoral e os 500.000 fascistas e/ou racistas que se desnudaram, a nossa Democracia está moribunda.
E nós, vamos ficar a aguardar por uma IV República?
Eu sei que não vou.
Pensem nisso.
E fiquem bem. Desconfortáveis, sabendo que 500.000 concidadãos pretendem acabar com a democracia, mas fiquem bem. Eu volto mais logo.