Caldeirada Com Todos... “David Gomes”
sardinhaSemlata
"O Azeitei Não É Todo Igual"
De norte a sul de Portugal, encontramos muitas variedades de uvas que com a mestria dos séculos, hábeis produtores, as combinam em sinfonias vínicas ímpares. Mas, se Portugal sabe tanto sobre vinhos, e da cultura que herda se destaca também um deus do vinho, nada é dito e nada é sabido na verdade sobre azeites e nem a eles está destinado uma figura mitológica.
Ainda em abono da verdade, se um já deu luz interior a intelectuais e camponeses, à volta de uma mesa de um café da moda ou dum rústico tampo com quatro pernas, o outro já alumiou caminhos de realeza a fazendeiros.
Maçanilha, Cobrançosa, Verdeal ou Galega, não são meras estirpes. São na verdade a origem deste néctar tão multifacetado. Com 7 DOPs é provavelmente o produto que mais maltratamos. De tempero a virgem extra, sempre e para qualquer ocasião escolho o segundo, os mistérios adensam-se quando falamos de acidez.
Esta que nada aproveita a ninguém, tem-se confundido como um critério de inqualificável importância, sabendo que dela não precisamos, nada nos diz, nem nada nos conta.
Olivais seculares produzem azeites de qualidade superior. De Trás-os-Montes chegam-nos azeites mais picantes, onde predomina a cor verde-tropa. Do Alentejo e Moura chegam-nos azeites mais doces, mais âmbar. Do Algarve chegam-nos azeites mais suaves, mais consensuais.
A ciência começa aqui. O terroir tão amplamente propalado nos vinhos é também ele uma marca identitária nos azeites. Chocolate, frutos secos, maracujá, maçãs, salsa, entre outros, são também palavras nas notas de prova de azeites. Porque no fim, um azeite, ao contrário do que muitos querem acreditar, não se resume nem se extingue a ser a gordura mais saudável que temos.
David Gomes