Caldeirada Com Todos... “O Último Fecha a Porta”
sardinhaSemlata
Queria agradecer em primeiro lugar o simpático convite para escrever nesta “caldeirada” de boas ideias e textos.
Pertenço à geração catalogada como “Millenials”, nos sub 30. Cresci com o Game Boy e Dragon Ball. Na adolescência a massificação dos telemoveis e os Morangos com Açúcar. Na entrada da idade adulta as redes sociais. Posteriormente a massificação do “e-“ ecommerce, efatura,... e as fakes news.
A minha geração tem mais formação, mais acesso à informação e à conexão com os outros, muito por força das redes sociais. Porém será que é mais crítica? Será que consegue ser mais objetiva na construção de ideais e filosofias de vida? Será que é mais feliz nesta evolução?
Não estou otimista na resposta.
O papel foi abandonado. Se queremos saber alguma coisa perguntamos ao Dr. Google. Este reencaminha-nos para a Wikipédia cujo rigor deixa a desejar. Não conseguimos distinguir uma página de fake news (dando-lhe likes e indo atrás de discursos inflamados e muitas vezes infundados).
Ao nível da política, há um total alheamento. As exceções são os “jotas”. A maioria à procura do tacho nos orgãos públicos, sem qualquer experiência ou conhecimentos técnicos, mas que conseguem subir facilmente na vida em termos salariais e de influência nem que para isso vendam a alma ao Diabo (o padrinho certo ajuda). Há pouquíssimos tecnocratas em funções públicas de responsabilidade. O fator cunha prevalece e os melhores fogem.
A contribuir para este alheamento, está também a má imagem pública de governantes apanhados em teias de corrupção e num desprezo total pelos mais jovens (e pelos mais velhos, diga-se também). Porém o que mais me chocou foi um Primeiro Ministro incentivar os jovens com a minha idade a emigrar – para não serem “piegas”. Foi atroz ouvir isso.
Ao nível do emprego, vemos uma geração de contrastes. É normal numa sociedade mas não com tanto extremo. Um excesso de precariedade.
As consequências estão à vista: somos menos críticos. Vamos atrás das fake news e populistas que alimentam uma ilusão aos desencatados, qual canto da sereia. Fazemos (ou fazíamos) fila para a black Friday e para comprar o smartphone xpto, mas recusamo-nos a comprar um jornal.
Embandeiramos em lutas que não são nossas, ou por solidariedade aos coletes amarelos ou ao racismo nos EUA, mas não conseguimos criticar nem contestar a corrupção, a fraude e o conflito de interesses.
Preferimos estar a falar de estrelas da TV do que olhar para descargas ilegais de poluentes de rios que passam ao pé das nossas casas.
Nem tudo é desencatador. É uma geração com mais e melhor acesso à educação, mais sensível e preparada para a mudança e que começa a olhar para o tema da sustentabilidade. Pequenos passos que trazem otimismo.
Tudo isto apesar de termos redes sociais, mais informação e formação.