Caldeirada Com Todos... “Óscar Cabral”
sardinhaSemlata
Eu que me ocupo das artes culinárias e da mesa, tenho vindo a evangelizar gregos e troianos sobre o perfil sexy da nossa Cozinha. Muitos o fizeram antes de mim e muitos o continuarão a fazer. Não estamos a conseguir vingar. É por demais evidente, sobretudo nos centros urbanos, que os restaurantes de Cozinha Portuguesa (que se adensam) ficam sempre relegados a última escolha quando alguém coloca a já costumeira "Onde vamos jantar?".
E porque será que tal sucede? Na minha visão, já foi sexy ser Português e dizer-se cozinheiro Português. Não recuando muitos anos, nomes como o de Hélio Loureiro, Mestre Silva, Mestre João Ribeiro (ou se quisermos recuar ainda mais podemos aqui incluir Domingos Rodrigues) contribuíram para a formação de uma matriz de identidade, reconhecimento da variedade e um corpo de conhecimento que podemos associar à Cozinha Portuguesa, mais ou menos Popular, que se acabou por (mais ou menos) fixar no nosso ideário.
Sempre fomos o país da subsistência. Da agricultura, à culinária e à indústria (ou assim desejámos). E a Cozinha, tão nossa, teve sempre um papel trivial na afirmação da identidade portuguesa (ao contrário, por exemplo, da gastronomia japonesa, italiana ou peruana que fruto de muito investimento estatal veio a tornar-se um dos melhores passaportes destes países). Ou até que surgisse o Nando's e o irritante Peri-Peri Chicken.
Mas, depois de tantos anos a cozinhar e a comer Português, com uma Dieta reconhecida pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, a cozinha Portuguesa atualizou-se (?). Conhecemos agora uma geração de jovens cozinheiros (Chefs! porque tal como um pintor será um Mestre da Pintura o Chef é Mestre da Cozinha e se Escoffier estava certo, agora há que atualizar a definição e Chef não é apenas o que comanda uma equipa mas o que aplica e sabe da arte de cozinhar) que são capazes de pegar neste corpo de conhecimento e de lhe dar a transformação necessária para que esta Cozinha seja uma décima mais sexy.
Responsáveis por fazer avançar esta tradição, pergunto-me quando e como haverá transferência do novo conhecimento para a sociedade e como é que a nova culinária - chamo-lhe a cozinha Portuguesa 3.0 - chegará a casa das pessoas, com novos métodos e técnicas para voltar a ser, de novo, popular.
Por agora, resta-me apreciar a Cozinha Portuguesa, nova ou antiga, do Norte, do Sul e das Ilhas. Há um mundo para descobrir. E nós, enquanto comemos da comida que nos fez crescer mas pela qual não queremos pagar em Restaurantes, parecemos uma banda sinfónica descoordenada à procura do Maestro que nos alinhe e afine para promover o que de melhor temos.