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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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15.05.21

Caldeirada Com Todos... “Pedro Neves”


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As duas palavras mais temidas por qualquer escrevinhador desinspirado, parcialmente alheado da atualidade e focado no desconfinamento: “tema livre”. Ainda pensei em alguns temas, mas as palavras simplesmente não saíam. Virei-me, por isso, para a fotografia, o meu desbloqueador preferido de textos.

 

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Não foi preciso remexer muito na pasta de fotografias para encontrar uma que pudesse servir de base para este texto. Uma das mais recentes, feita no passado fim-de-semana, reteve-me a atenção. Não mostra nada de espetacular, apenas dois bancos de madeira no jardim da Avenida Luísa Todi, em Setúbal.


O que me chamou a atenção, ao vivo e depois ao passar os olhos pelas fotografias desse dia, foi mesmo a diferença no comprimento dos dois bancos, ambos de aspeto já antigo. Assim a olho, diria que o maior é quase três vezes mais comprido que o outro, de tamanho convencional, praticamente idêntico aos bancos de madeira que vemos espalhados pelas ruas das cidades portuguesas. O banco mais comprido não é um acidente ali, já que, ao longo da avenida, existem vários destes bancos em tamanho “extra grande”.


É difícil dizer se teria reparado nestes bancos noutras circunstâncias, mas a verdade é que hoje, aos olhos de um visitante, aqueles bancos parecem monumentos a uma outra era da convivialidade (mesmo que já estivesse em declínio antes do último ano).


Só posso especular o que poderá ter passado pela mente de quem especificou o tamanho daqueles bancos, mas, entre outras coisas, o seu comprimento reflete uma surpreendente e salutar dose de otimismo no poder do encontro e da cavaqueira. Aos olhos de um citadino habituado a ver duas, vá, no máximo três, pessoas sentadas num banco de jardim, aqueles bancos parecem ter sido feitos a pensar em famílias ou cliques inteiras.


Vistos assim, lado a lado com os seus congéneres mais pequenos, estes bancos parecem autênticas dilatações do espaço, como se uma mão invisível os tivesse esticado a seu bel-prazer. Um olhar mais cínico poderia dizer que aqueles bancos extra-compridos foram concebidos à frente do seu verdadeiro tempo, aquele em que vivemos hoje, sob o signo do distanciamento social. Prefiro um olhar mais bem-humorado, aquele que nos permite afirmar, com todas as cautelas da DGS, que em nenhuma outra avenida portuguesa é mais seguro a dois amigos sentarem-se num banco de jardim a conversarem, cada um na sua ponta. (Quase que consigo imaginar a primeira coisa que dirão: “Ouves-me daí?”)


No contexto do momento que vivemos, em que começamos gradualmente a sair das nossas casas e a retomar a vida cá fora, estes bancos recordam-nos dos tempos que foram e que ainda podem voltar, marcados pela alegria do encontro e pelo conforto da companhia. Parecem dizer “venham sentar-se aqui, cabem todos”. São uma das bonitas ideias que encontrei em Setúbal — bancos que se alongam no passeio e na imaginação.

 

 

Pedro Neves

 

 

 

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