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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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17.04.20

Carneiros, leões e oportunistas


JB

 

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  Sou dum tempo em que não havia internet, tínhamos dois canais de televisão e eu tinha uma genuína pena dos meus pais, porque eles tinham crescido e vivido grande parte da vida sem televisão e na minha cabeça (naquela altura) isso era quase uma tortura que eles tinham tido que suportar (hoje imagino que sejam os meus filhos a ter pena de mim, porque cresci sem internet). A informação que tinha era da escola, da família e do meu querido avô Pedro,  que tinha aquilo que de mais próximo havia com o google: uma enciclopédia cheia de apontamentos.

  Fui estudando e crescendo, cheio de certezas absolutas, cada vez mais cimentadas. Religiosas, sociais, políticas etc. Até ao dia. 
 Na verdade, não foi um dia concreto, foi algo que aconteceu aos poucos. À medida que o mundo se ia modernizando eu ia crescendo. Ouvi muitas ideias diferentes e as minhas certezas absolutas passaram a dúvidas absolutas. Sentia-me a expandir horizontes cada vez que um dos meus alicerces era destruído. Acredito na frase 'uma pessoa é tão velha como a última vez que mudou de ideias' e gosto muito de mudar de opinião. Acredito que somos muitos assim. Infelizmente, temo que sejamos cada vez menos. 
   Lembro-me da primeira vez que ouvi o Christopher Hitchens, que espetáculo, fiquei fã e achei que o único problema do mundo era que ainda pouca gente o teria ouvido, não apenas ao Hitchens como se de um messias se tratasse, mas os seus debates que era principalmente isso que eu via. Os seus interlocutores e as vezes que ele ganhou e perdeu os debates (perdeu um com o George Galloway que ficou conhecido como "the greatest debate of the decade"). Apreciava a maneira como o Hitch defendia as suas ideias, e os fóruns que escolhia. Feroz sem limites nos argumentos, de uma educação britânica exemplar, cuidadoso com a lógica e as regras da argumentação e claro, um sentido de humor ácido e oportuno. Achei que a humanidade estava no bom caminho, com mais informação haveriam mais Hitchens na vida, mais debates interessantes, mais gente destemida que tenta defender as suas ideias de peito aberto e de forma honesta. Íamos melhorar certamente!

  Lá rejuvenesci novamente, obrigaram-me a mudar de ideias.


  Menos Hitchens, mais Trumps. Foi isso que o futuro trouxe e por isso, mais carneirada. Pessoas que usam as falácias mais conhecidas e estudadas na filosofia, mas que enganam os adultos do nosso tempo. Não têm respeito nenhum por quem os ouve e confia neles e são recompensados por isso. 
Dei por mim a pensar, será que estamos numa fase semelhante à da Grécia antiga e dos seus filósofos? Depois disso, intelectualmente, foi sempre a descer durante muito tempo, o que nos reserva o futuro? Alguém arrisca? 

Dicas úteis para não ser enganado contra a sua vontade  (sim, porque penso que a maioria gosta de ser enganada):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Falácias_lógicas

 

JB

 

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