Culpar os outros torna-nos menos culpados?
marta-omeucanto
No outro dia, uma pessoa que conheço foi bloqueada numa rede social, após ter feito um comentário, num vídeo em que um humano agredia um animal, por incitar à violência.
Não contente com o seu bloqueio temporário, que considerou injusto, denunciou o vídeo.
E foi mais longe: começou a procurar outras publicações, e outros comentários, para denunciar.
A ideia era um pouco ao género "se me bloqueiam a mim, porque é que os outros não são bloqueados também?".
Mas, pergunto-me eu, em que é que isso lhe resolve o problema?
Em que é que isso atenua a acção que teve?
Em que é que isso lhe elimina a responsabilidade?
É como um ladrão ficar chateado por ser apanhado, e começar a identificar todos os outros ladrões que conhece, para que sejam apanhados também. Mas isso não o torna menos ladrão! Não lhe retira o crime, nem apaga a culpa.
Ou como um condutor que, não contente por ter sido apanhado a cometer uma infracção, acusa outros de fazerem o mesmo, e escaparem impunes. Isso não invalida a sua infracção!
Ou seja, essa pessoa deveria, mal viu o vídeo, tê-lo denunciado, se achava que assim se justificava.
Mas não.
Viu, comentou, poderia até ter partilhado com outras pessoas, e tudo estaria bem, se não tivesse sido bloqueado.
Como foi, já o vídeo era mau para estar ali publicado.
Já sabemos como funcionam estas políticas das redes sociais.
Muitas vezes censuram o que não tem motivo para tal, e deixam passar outras coisas que deveriam ser censuradas.
E sim, o vídeo incitava à violência contra animais.
Mas, de mesma forma, o comentário incitava à violência ao humano que estava a agredir o animal.
Portanto, estavam os dois mal.
A questão é que, quanto aos outros, não se pode fazer nada.
Mas as nossas acções, e os nossos comentários, ainda podemos controlar.
Por isso, é evitar dizer a primeira coisa que vem à cabeça, sempre com aquela desculpa da liberdade de expressão, porque há muita coisa que é preferível não dizer.