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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

sardinhaSemlata

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25.12.20

(Des)Humanizar por aì


JB

 

 


  Bom Natal caros navegantes deste mar que é a net. Aqui pelas Sardinhas celebra-se o Natal mas o mundo não pára e existem sempre muitas coisas para falar, por isso vamos a isto.

 O Natal é sempre uma época muito especial, sei que falo apenas por mim (é o que acontece habitualmente quando cada pessoa fala) e que para muitas pessoas é uma altura problemática. Cada pessoa é diferente e interpreta as coisas à sua maneira, seja porque morreu alguém próximo nessa altura ou porque detesta os sogros... Existem muitos motivos compreensíveis para não se gostar do Natal. Este ano fiquei a conhecer mais um. Imaginem que iam passar uns dias a outro país, só para se divertirem e matarem a tiro cerca de 540 animais e de repente tinham fotografias vossas na internet por todo o lado, a dizer que eram uns assassinos. Estraga o Natal a qualquer pessoa não é? Se compreende aquilo que falo, se consegue imaginar facilmente o desconforto que acabei de descrever então adeus e até à próxima, o melhor é ficarmos por aqui porque eu estava a ser irónico. 
 Agora vou dizer o que realmente penso:
 Detesto a humanização de animais, existem primeiro as pessoas e depois os animais; há muitos anos atrás, os nossos antepassados decidiram que os animais estavam 'ao serviço' dos humanos e ainda não vi nenhum bom motivo para discordar. Ainda assim, é inegável que os animais têm características humanas, ou, na verdade, nós temos muitas características animais. Talvez por isso, eu que valorizo tanto a empatia, sinto-a mais por umas centenas de veados e javalis que estão encurralados num terreno aberto e murado a serem alvejados e a verem-se morrer, do que pelos outros animais que estão a disparar e a regojizarem-se com a matança. Tão limitados e alheios ao mundo que os rodeia que acham que este é composto por semelhantes que os vão elogiar e dar likes nas fotografias que documentam os fuzilamentos, onde eles pousam triunfantes sobre as carcaças cheias de chumbo. Dois dias a dar tiros a animais encurralados. Isto não é caça. Isto é outra coisa: é o prazer sádico de matar.

  Sei do que falo, eu próprio já matei moscas e sinto-me triunfante e poderoso. Mas nunca mais de 500 e muito menos em dois dias. 
  Este caso da matança interessou-me; no mundo de hoje em que se humaniza tanto os animais (muitas vezes de forma exagerada) este caso gerou revolta. Para além dos contornos chocantes que já expus, ainda existe o dinheiro que foi ganho com esta matança e os alegados motivos financeiros que lhe deram origem. Por tudo isto, o país demonstrou estar contra este tipo de 'actividade lúdica' e condenou publicamente os envolvidos.

  Considero adequada e justa a reação, no entanto, há algo que considero muito mais perigoso do que a humanização de animais: a desumanizaçao de humanos. Possivelmente não está relacionado com este tema e até estou a ser injusto com as pessoas que participaram na matança. Mesmo cometendo essa injustiça não consigo deixar de pensar: e se deixarmos de considerar "os outros", humanos? Provavelmente haverão também pessoas que conseguiriam disparar noutro tipo de 'animal' encurralado. Já aconteceu antes. Ao mesmo tempo vejo supostos líderes, aqui e no mundo inteiro a fazer um esforço concreto para desumanizar tantos grupos diferentes: Judeus, negros, mexicanos, ciganos... E porquê ficar pelas etnias? O fascista, o comuna, o emigrante, o banqueiro, o sportingado... Ou porque não alvos ainda mais fáceis? O criminoso, o violador, o drogado, o pedófilo... 

 Enfim talvez seja da minha cabeça, mas acho mesmo que esta mistura de sede de matar e demagogia populista não pode dar bom resultado. Fico contente que este caso tenha gerado a indignação que gerou. Também a senti. Espero que quem foi responsável não ganhe nenhum dinheiro com a matança mas a minha sede de justiça fica por aqui. Que aprendam a lição e não repitam. Não os considero homicidas nem nada que se pareça, apenas falei neles porque personificam de forma inequívoca e clara esse 'prazer sádico de matar', esse instinto primário que ainda habita em tanta gente, até em mim quando mato uma mosca. Quanto aos discursos de desumanização, esses são mais difíceis de resolver, são nesses que nos devemos focar e não dar tréguas. 

 Agora mudando completamente de assunto (ou talvez não): já viram "o contabilista de Auschwitz"? Um documentário na Netflix muitíssimo interessante. Recomendo o visionamento e ainda com Auschwitz no pensamento desejo a todos um bom natal e termino com um...

Nunca mais.

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JB

 


  

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