Dezembro de 2020
Sarin
Os Médicos sem Fronteiras pedem a partilha das fórmulas e da tecnologia das vacinas da covid19, para agilizar a sua produção e as vacinas chegarem mais cedo a mais gente.
Os MSF fazem o seu papel.
E as farmacêuticas pegam nele e limpam o rabinho.
Porque não interessa a saúde pública, apenas o privado lucro. Mesmo que grande parte da investigação tenha sido desenvolvida, como quase sempre, nas universidades, e os laboratórios admitam ser insuficientes para responder às necessidades de produção.
Entretanto, esta semana, começaram a ser negociados os futuros sobre a água na Bolsa de Nova Iorque. A água é um bem essencial e os futuros são contratos de compromisso de compra ou venda de uma determinada quantidade de um bem, a um determinado preço, dentro de um prazo acordado.
Dizem que não, que estes serão uns futuros diferentes pois o bem - a água - não será transaccionado e a aposta (a bolsa é sempre uma aposta) visa estabelecer e garantir os preços da água para os maiores consumidores, enquanto serve também de indicador de escassez da mesma.
Que a água seja vendida a preços distintos na torneira de cada cidadão de um mesmo país, já é uma iniquidade - mas especular com o seu preço?
E qual a distância que percorreremos entre estes futuros serem apenas garantia de preço e passarem a ser direito sobre o bem?
O acesso à água é um direito humano básico e incontornável. E, no entanto, não deixam de inventar maneiras de o contornar...
... enquanto 1/4 da humanidade vive sem água potável e 1/2 enfrenta os problemas da falta de saneamento.
E as empresas que nos engarrafam a água e negoceiam os futuros são as mesmas que recebem medalhas e muita publicidade por oferecerem casas-de-banho a uma escola num país muito pobre e muito longínquo deste ocidental modo de transaccionar o que é de todos.
Temo que Dezembro de 2020 não traga o Natal, mas o Armagedão.