A D. Aida anda desgostosa com o seu querido manjerico. Acha que o pobre está a chegar ao fim e questiona-o, retirando o dedo molhado do pratinho de Sacavém onde o tem depositado: - Então? Lembro-me de há umas semanas beberes duas vezes por dia e agora, só bebes de dois em dois dias? O que é que tu me estás a tramar? 

Teme perder o companheiro que todas as manhãs a cumprimenta da janela da cozinha.
Recorda-se bem dos momentos que passou com o manjerico, mas é incapaz de recordar o nosso nome ou identificar a associação a que pertencemos. 
O Sr. Raul, que tem 98 anos e se reformou antes do 25 de Abril, agradeceu os livros que lhe dei e contou que tinha gostado muito do ‘O Cavaleiro da Dinamarca’ que diz ser de ‘grande beleza literária’. Também não se recorda dos nossos nomes, mas sabe o código Morse de cor e é capaz de formular frases inteiras cantarolando os pontos e traços como aprendeu quando, ainda antes da tropa, começou a trabalhar nos correios.

O vaso de incenso que a Maria me deu, está muito bonito mas às vezes esqueço-me de o regar. 

Espero regressar antes do Natal.

ilustração de Armando Alves para o conto O Cavaleiro da Dinamarca de Sophia de Mello Breyner Andresen, edição Figueirinhas