Falácias Politicamente Ecológicas
Triptofano!
Numa primeira leitura poderiam pensar que o tema deste post seria sobre mentiras políticas com uma vertente ecológica.
Algo relacionado com o facto das revistas antigas da Maria afinal não deverem ser depositadas no ecoponto Azul mas sim no Rosa-Chiclete, ou com teorias da conspiração sobre como o buraco da camada de ozono está a matar o nosso folículo piloso e a deixar-nos carecas, tudo para potenciarmos o mercado do transplante e dos doces turcos.
Porém o título deste post é inspirado num termo bastante conhecido do mundo da epidemiologia: a falácia ecológica.
Só para contextualizar, no mundo da epidemiologia existem testes para tudo e mais alguma coisa. Uns transversais, outros experimentais, uns de caso-controlo e mesmo uns de coorte.
E existem os testes do tipo ecológico, onde se tentam fazer relações entre um efeito e uma causa tendo como base de investigação uma população.
Baralhados? Não se preocupem que eu explico melhor, havendo sempre a probabilidade de perceberem ainda menos que no início visto que depois de um dia de trabalho e de aulas os meus neurónios já terem entrado em estado vegetativo.
Imaginem que fazemos um estudo cujo foco é a população de Portugal. E no nosso estudo queremos perceber se existe uma relação entre comer pastéis de nata, daqueles quentinhos e estaladiços, com o aparecimento de varizes nas pernas, que nos obrigam a deixar dinheiro na farmácia em cremes e comprimidos que podiam ser mais bem gastos nos bons dos pastéis.
Depois de fazermos todas aquelas coisas que é preciso fazer nos estudos, descobrimos que existe uma relação entre o enfardanço dos pastéis e o aparecimento de varizes, sendo que os concelhos onde mais se pratica a nobre arte de comer o pastel é também onde as varizes aparecem em maior número.
Qual seria a primeira coisa que iriam pensar?
Que comer pastéis de nata é um factor de risco para desenvolver varizes, e aqui iríamos escorregar na falácia ecológica, que é quando assumimos que a globalidade reflecte o comportamento individual, quando na verdade se calhar uma pessoa até fica com varizes porque passa tempos infinitos em pé na fila para ferrar o dente na iguaria conventual.
No mundo da política existem muitas propagandas que usam a falácia ecológica, aproveitando-a para espalhar uma ideia do global que não reflecte a verdade de cada indivíduo.
Como quando dizem que todos os ciganos vivem à conta do Estado. Ou como quando afirmam que os africanos são todos traficantes de droga. Ou mesmo quando juram a pés juntos que todos os gays vibram com a Ana Malhoa ao mesmo tempo que andam com uma pistola no bolso que lança um raio laser e converte crianças heterossexuais em reféns da ideologia do género.
Este tipo de generalizações, muitas vezes ditas com toda a convicção do mundo quando não são mais que achismos revestidos de um lirismo podre, apenas são perpetuadas com o objectivo de solidificar preconceitos e estereótipos, em prol de uma campanha política que poderá ser tudo menos salutar.
Afinal quando toca à caça ao voto, uma falaciazinha nunca fez mal a ninguém...