In Cerca di Quel Rumore a Procida...
Bruno
Imagens: ©Bruno Nunes dos Santos
Mario - Don Pablo, vi devo parlare, è importante... mi sono innamorato!
Pablo Neruda- Ah meno male, non è grave c'è rimedio.
Mario - No no! Che rimedio, io voglio stare malato...
Diálogo entre Mário Ruoppolo e Pablo Neruda, in "Il Postino"
O sol decidiu esperar a nossa chegada para lançar a sua primeira luz sobre os barcos ainda atracados no pequeno porto de Procida. Nesse momento, já a vizinha Ischia se apresenta em toda a sua grandeza com uma certa vontade de intimidar a companheira mais pequena, mas sem dúvida mais bela.
Sonhamos com uma Lingue di Procida, pois o Kimbo no Molle Beverello apenas permitiu aguentar a viagem ainda de madrugada pelo Golfo de Nápoles. E não fosse o espectáculo matinal logo após o desembarque, imediatamente o teríamos feito, mas… O nascer do sol, junto a um pequeno areal perto do porto torna-se prioritário quando o Tirreno saúda cá de baixo as primeiras aves, os primeiros raios solares e aquela estranha personagem que deambulava pela pequena praia num convívio harmonioso com as gaivotas e outras aves que entretanto alimentava.
Caminha-se e respira-se o ar marítimo agora da areia e sem os fumos do ferry. Abrem-se os ouvidos, mas ainda não. Ainda não é aquele som inigualável que nos faria de imediato lembrar a abertura do filme e de uma banda sonora inesquecível. Terá de ficar para depois daquela lingue de sabor alimonado, até porque é preciso carregar baterias para fazer a ilha a pé, uma tarefa que nos desaconselharam.
Subimos, e tempo haverá para falar do centro mais turístico e tão belo da ilha. Passamos pela velha prisão, e só na companhia de um habitante que andava pela área, violamos o perímetro privado e entramos numa parte da mesma. A entrada fez-me lembrar o filme “Papillon”, mas rapidamente me desiludi ao lembrar-me que havia sido filmado em Espanha e na Jamaica, e além disso não sentia a aura de Dustin Hoffman e muito menos de Steve McQueen como, mais tarde, viria a sentir da parte de dois outros gigantes do cinema.
Despedimo-nos do nosso anfitrião de ocasião que não nos deixa partir sem conhecermos a família e nos deixar um convite para almoçar. Prometemos voltar com um Moscatel de Setúbal de forma a patrocinarmos uma batalha entre este e um Limoncello.
Depois de uma vista panorâmica sobre Procida e Ischia, focamo-nos no local do nosso almoço, uma taberna na Marina Corricella. Estamos ansiosos por conhecer a Senhora Beatrice Russo e o Sr. Mario Ruoppolo. E também de sermos corridos pela Donna Rosa como fomos por Pablo Neruda em Salina, nas Isole Eolie ao largo da Sicília. Mas também, apesar da beleza de Pollara, não foi em Salina que escutamos aquele som…
Voltamos atrás e registamos um casal à varanda e fazemos com que desçam para podermos partilhar esse registo. Acabamos numa pequena taberna, com mais um café e que depois de ter falado no robalo ao sal, nos sugeriram o típico luvero al sale para o almoço, um pagello ou em português uma espécie de pargo vermelho.
É nesse momento que começamos a perceber que vamos ficar por ali toda a manhã à conversa e lá sei vai o objetivo número um para aquele dia. Até porque o Nuncio, o rebelde da prisão de “Papillon” nos vê e se junta à festa não hesitando em cravar um copo de uma bebida que connosco partilhou e convenhamos… deve ser guardada para horas mais tardias. E chegado aqui, começo a identificar-me como Javier Cercas que nos dizia que "somos jovens quando não temos recordações e somos velhos quando por trás de cada recordação encontramos uma nova recordação". Não poderia estar mais certo o autor...
Continua…___________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Para ver: porque não? "Il Postino" de Michael Radford, baseado na obra ("Ardente Paciencia") do chileno Antonio Skármeta. Troisi é um senhor e o filme tem uma certa maldição pelo que se seguiu. Uma nota também para a personagem de Neruda, o brilhante Philippe Noiret. Deveria ser de visualização obrigatória nas escolas.
Para ouvir: também de escuta obrigatória deveria ser a banda sonora do filme, da autoria de Luis Bacalov - um senhor. Penso que até já a partilhei aqui, embora não faltem infinitas versões da mesma. Ouvi o tema pela milésima vez no albúm "In cerca di cibo" quando ainda hoje me acompanhou ao volante(a versão que partilho é do albúm "La Bottega"). Gianluigi Trovesi e Gianni Coscia confirmam a minha tese de que o clarinete e o acordeão unidos são capazes de coisas que o mundo ainda não descobriu. Vão por mim que já tive a honra de fazer um dueto com o clarinete.
Para apreciar: quem andar por Procida, pode passar pela "La Locanda del Postino", embora só encontre semelhanças com o filme no exterior. E como se está na Campania, mesmo do lado direito para quem está voltado para o mar, um dos melhores Spritz que irão algum dia beber, com umas azeitonas gigantescas e claro... a praga de Taralli. Estou em dívida com o dono do bar em relação a umas Tortas de Azeitão que conto pagar muito em breve, fora da época turística, e mesmo junto ao pequeno porto entre as redes e as embarcações.
(Sugestões um pouco pedantes, não? Ninguém é perfeito, ora...)