Inspiração Ou O Dilema Do Vazio?
Filipe Vaz Correia
A inspiração...
Às vezes a sua falta impõe o silêncio, esse vazio tão esmagador que dói, se instala e esventra, desnudando a solitária e incisiva tristeza.
A folha em branco, desfiando o dito silêncio, o tic tac do relógio impondo o passar do incógnito tempo, numa angústia que alimenta o sofrimento...
O coração amargurado, a poética alma surda e muda, o arfar descompassado de um olhar esquecido, tantas e tantas viagens prometidas, canceladas esperanças de outrora, frases sem sentido nesse mar por navegar.
Valerá a pena, essa pena que se extingue, essa tinta seca que se recusa a escrevinhar, nessa gaguez que irrompe envergonhadamente?
Valerá a pena?
Inspiração, expiração, no bater de um texto, arregaçando as mangas soletradas de cada letra numa equação de cada sílaba versus o estranho desenho caligráfico.
Poetas e trovadores, cantores e declamadores, sentidos censores de perdidos amores na carta de um anjo...
E assim vai deslizando, por esse escorraçado e insano mundo, o rabiscado olhar escondendo esse adeus que a eternidade nos prometeu...
De quem amou.
Falta-me a inspiração...
Falta-me inspiração mas não me falta a vontade de voar, voar bem alto, entrelaçando cada pequeno pedaço de mim aos sonhos que se perderam.
Filipe Vaz Correia