Judite Sousa: Dor E Amor...
Filipe Vaz Correia
Assisti à entrevista da Judite Sousa ao Daniel Oliveira no Alta Definição, neste fim de semana, num misto de curiosidade e de compreensão.
Uma hora de horror, de empatia, de asfixia e de um infinito amarrar de alma que não cala.
No meu caso, imaginava a minha mãe naquele lugar, ali sentada, desprotegida, entregue aos desmandos de outros, sem que eu pudesse intervir...
Outros imaginarão que o André fosse o seu filho, outros ainda que a Judite fosse a sua filha, e os restantes provavelmente nada imaginariam.
O que mais me revolta são aqueles que imaginando tudo o que descrevi, ousaram lucrar com esta morte, com os sórdidos detalhes de uma tragédia, com os pedaços vendidos de um jovem anónimo.
Juro que olhava para a Judite e imaginava...
E se fosse a minha Mãe?
E isso toldava a emoção, a capacidade de singelamente controlar as lágrimas, assim como, a incerteza deste novelo em que vivemos.
Uma mulher destroçada, sem reparação, sentada diante de um entrevistador, desnudada na dor, entregue a uma verdade que para si era mais importante do que a própria vida.
Reparar o bom nome do seu filho, resgatar o direito à sua dor, numa singela despedida da vida.
Foi o que esta entrevista me pareceu, uma despedida da Judite de Sousa de uma espécie de tabuleiro onde jamais voltará.
Qual será o nome deste tabuleiro?
Vida?
Deus queira que esteja enganado.
De uma coisa estou certo...
A vida é suficientemente efémera para que a possamos desperdiçar.
Filipe Vaz Correia