Morte Morrida ou Morte Matada?
ó menina
Contabilizar vitimas da pandemia tornou-se um hábito diário. Todos os dias, os jornais fazem chamadas de última hora para os números do boletim da DGS. São números preocupantes e todos ansiamos o dia em que um redondo zero ocupe o balanço dos óbitos diários por Covid-19.
No entanto, há outras contas a fazer e responsabilidades a apurar.
Os cuidados de saúde continuam a concentrar-se na pandemia. Os cuidados suspensos tardam a ser repostos e enquanto isso há um aumento no número de mortes registado em unidades de saúde que importaria explicar. Por esta altura, tendo em conta a média dos anos anteriores (2014-2019) o número de óbitos diário devia rondar os 170 mas tem vindo a aumentar e no dia 20 de Julho registaram-se 230. Um aumento que o Covid-19 não explica.
Os números são do escritor, jornalista e economista Pedro Almeida Vieira que se tem dedicado a analisar-los e colocá-los em gráficos que os tornam mais claros, até para mim.
Todos os dados são explicados e as devidas fontes oficiais indicadas na sua página de Facebook e no blog Nos cornos da Covid, para onde remeto os que queiram compreender melhor o fenómeno.
A sua conclusão é que 'pelo forte contributo das decisões políticas na luta “obsessiva” contra a covid (adiamento de cirurgias, exames, consultas, e da fuga por pânico e medo das urgências hospitalares), o excesso de mortalidade foi assustador entre Março e Junho (e piorou mais em Julho). Considerando a média de 2009-2019, o excesso de óbitos entre Março e Junho este ano é de 4.182, com um intervalo de confiança (a 95%) entre 2.311 e 6.053 óbitos), o que torna a situação particularmente trágica."
Concordo e embora deva confessar que a minha percepção, acerca desta realidade, chegou antes por uma pontinha de inveja que comecei a sentir sempre que via uma publicação nova no facebook de um parente proprietário de uma agência funerária (que negócio!), também considero tudo isto trágico e pouco natural.
Uma morte que ocorre por falta de tratamento e socorro não é natural, alguém é responsável por ela.
Imagem via Pedro Almeida Vieira