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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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17.12.20

O almoço da véspera do dia da ceia de Natal


Triptofano!

“Não é obrigatório que o Natal se comemore na ceia de Natal. Pode comemorar-se, por um momento de excepção, num almoço de Natal, na véspera do dia de Natal. Não há nada que o impeça”

Esta afirmação poderia muito bem ter saído de um daqueles livros de enigmas, onde uma pessoa tem de descobrir o que é que o homem da camisa amarela estava a beber sabendo que o homem que tinha um cão como animal de estimação estava sentado entre o homem de calças verdes e o que bebia um mazagran.

Mas não, foi Rui Portugal, sub-director geral da Saúde, que numa conferência de imprensa lançou esta charada natalícia aos Portugueses. 

Se é verdade que a imagem da DGS estava demasiado colada à de Graça Freitas, chegando a um ponto em que muitos já confundiam a instituição com a pessoa e a pessoa com a instituição, e era preciso outros actores tomarem o palco para os portugueses compreenderem que estamos perante um organismo pluricelular, Rui Portugal não precisava de ter feito uma entrada a pés juntos para ficar imortalizado nas recordações desta época festiva.

Podia ter começado discretamente, a usar uma gravata diferente todos os dias, ou a tentar abrir uma garrafa de água sem tocar na mesma que nunca se sabe onde é que o Covid anda (por falar nisso desejo as rápidas melhoras a Graça Freitas), mas não, lançou logo o pânico sobre o dia em que uma pessoa é suposto trocar prendas, o que para nós Portugueses ainda é mais dramático, visto sermos conhecidos por deixar tudo para a última.

Abordando o assunto prendas, espero sinceramente que Rui Portugal nunca me calhe como amigo secreto, porque ninguém merece receber uma compota no Natal. E não me venham com a história do amor e da família e bla bla bla... Uma pessoa chega a esta altura do ano e quer receber alguma coisa de jeito, não uma compota arremessada para o quintal do vizinho para ter a certeza que as distâncias de segurança são cumpridas. 

É que se ainda tivesse havido vacinas da gripe para toda a gente uma pessoa até que equacionava ir para o jardim dos familiares, fazer uma serenata improvisada com os últimos êxitos da Rebeca ou da Claudisabel, e prestar-se a ficar molhada até aos ossos para receber um boiãozinho repleto de fruta esmagada e açúcar. Agora assim tenho a dizer que esta troca de prendas criativa pode ser extremamente perigosa, nem que seja pelo risco de não conseguirmos defender a compota e levarmos com ela na testa.

Bem sei que muitos bimbólicos e bimbólicas deste país ouviram as palavras da DGS como se de um chamamento do Além se tratasse, dando-lhes o poder institucional de correrem o agregado familiar a compotas e chutneys e azeites aromatizados e sabonetes com restos do cozido de domingo, tudo feito na máquina que promete tornar o acto de cozinhar divertido.

Revelação estrondosa: cozinhar só se torna divertido quando temos um empregado que o faça por nós. Revelação estrondosa número 2: aquela conversa de que a intenção é que conta é uma mentira criada para fazer sentir melhor as pessoas que acham que dar prendas artesanais é o melhor que pode haver. Não é!

É verdade que talvez esteja a ser injusto com Rui Portugal, porque apesar das ideias menos convencionais que apresentou a este país profundamente religioso - qualquer dia ainda vai dizer que pessoas do mesmo sexo podem casar-se o maluco - mostrou que é um homem avançado no seu tempo, que acredita na igualdade familiar e na divisão das tarefas domésticas.

Tudo isto porque afirmou convictamente que a cozinha era o local de maior perigo nesta época, não pelo risco de rebentar uma bilha de gás ou de uma pessoa decepar um dedo ao tentar cortar o peru, mas por ser o espaço onde há mais aglomeração de pessoas.

Claro que isto seria verdade num mundo onde toda a gente ajuda na cozinha, seja a preparar as iguarias ou a lavar os utensílios utilizados na preparação da mesma, mas talvez não se aplique numa sociedade onde há uma escrava acordada desde as cinco da manhã toda descabelada a cozinhar e três ou quatro marmanj@s na sala agarrados ao telemóvel e a enfardarem pastéis de bacalhau.

Um conselho de amigo aos canais de televisão deste maravilhoso país: este ano em vez de repetirem pela 54484258º vez o Sozinho em Casa, coloquem um apanhado dos melhores momentos dos Comunicados da DGS. Vai ser um record de audiências.

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