O bom gigante
JB
Desde pequeno que me lembro de ouvir falar de um tal de 'bom gigante'. Mais do que um personagem específico, esta expressão caracteriza um certo tipo de pessoas. Imagino alguém grande, forte e com uma personalidade afável. Desde há uns anos para cá que essa expressão me remete para uma pessoa específica.
Conheci-o há 36 anos atrás. Poucos dias depois de nascer já tinha passado por mais sofrimento e dificuldades do que muitos têm que passar numa vida inteira. Sem qualquer culpa nem responsabilidade este bom gigante resistiu e perserverou perante todas as complicações. Complicações que lhe deixaram marcas no corpo, mas não lhe tocaram no espírito.
Nunca o ouvi queixar-se de absolutamente nada, relativamente à sua má sorte. Antes pelo contrário. É quase sempre alegre, justo e genuínamente bom. Tem uma fé inabalável em Deus, que tenta praticar com graus variados de sucesso. Está longe de ser perfeito, já o vi a ter comportamentos desanconselháveis: -insultou familiares de árbitros que marcam faltas contra o Sporting, gosta demasiado de sangria, é forreta com as contas, entre outros de gravidade semelhante.
Hoje com 36 anos este bom gigante, o Duca como é mais conhecido, é um matulão. Gosta de comer bem, de brincar com os sobrinhos, de festejar os golos do seu amor, e de nos brindar com palavras simples e carregadas de sabedoria.
Há três dias lá estava ele, o nosso Duca, deitado nas areias da praia da foz com um sobrinho pequeno que se divertia a saltar para cima da sua barriga de joelhos.
Adorei a imagem: um gigante na areia, com um pequeno liliputiano furiosamente a tentar derrotá-lo e ele a rir-se com cócegas na barriga.
Ainda não vos disse mas este bom gigante é meu primo. A nossa avó materna sempre teve o hábito de reunir a nossa grande família para rezar. Durante a oração havia sempre uma altura em que cada um pedia uma intenção. As únicas que ainda hoje me lembro são as do Duca. Poucas palavras que nos diziam muito a todos; sempre eloquentes, simples e profundas. Carregadas de bondade e altruísmo genuíno. Não vou estar a enumerar nenhuma porque não tenho essa capacidade e não lhe faria justiça. Há coisas que ficam só para quem as presencia e repara nelas.
Bem sei que toda a gente se acha especial, também sei que quase toda a gente está enganada. O Duca não, o Duca é uma daquelas pessoas que torna melhores todos os que o rodeiam. É um talento raro, que eu invejo e admiro.
Parabéns meu querido, mereces tudo.
JB