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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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09.12.24

O Centenário De Mário Soares


Filipe Vaz Correia



 

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Nunca na minha vida imaginei escrever este texto ou mesmo expressar esta conclusão que aqui me presto a escrevinhar...

Comemorou-se nesta semana o centenário do nascimento de Mário Soares, com actos solenes nas Assembleia da Republica, por entre, vários programas, entrevistas e documentários.

Venho de um berço onde Soares era personna maldita, non grata, podendo mesmo dizer que se arrepiavam os alicerces da família sempre que tal figura ou Cunhal eram mencionados, por isso posso mesmo expressar que cresci com total repugnância pela historia deste personagem e o que ela consigo aportava.

Não vou aqui aprofundar o rascunho das razoões para tamanha aversão mas posso afiançar que eram figadais e enraizadas em todos os membros da minha família.

Feita a declaração de interesse convém salientar que mesmo por entre este encanitado ódio de estimação, sempre me disseram que a sua intervenção contra o PCP na altura do pós 25 de Abril foi fundamental para que não caíssemos num cenário de ditadura comunista em Portugal...

Ou seja, mesmo entre inimigos deveria existir um código de conduta que nos obrigasse a respeitar a verdade, foi o que aprendi destas palavras de meu Pai, ou seja, a verdade mesmo que esta possa elogiar e destacar alguém que nós detestamos.

Deste tempo até ao de hoje muito mudou, o mundo mudou, o meu pensamento também...

Olho para a política nacional, mesmo a global, e não encontro pessoas da dimensão de Mário Soares, com a cultura, a elevação no trato, o pensamento político, a visão de um futuro que transforme positivamente a sociedade.

Soares sonhou com um País em liberdade e podemos dizer que o conseguiu, sonhou com um País integrado numa construção Europeia e podemos dizer que o conseguiu...

Soares assim como Sá Carneiro, Álvaro Cunhal ou Freitas do Amaral, eram homens de uma dimensão intelectual acima da média, impregnados de cultura e inteligência, superiormente souberam discutir e debater violentamente, sem que isso os fizesse baixar o nível, de se manterem num padrão de elevação que beneficiou a construção de um Portugal democrático.

Esse nível, essa elevação, perdeu-se...

Soares não era um homem do povo, muito menos um populista, era mesmo um elitista, mas sabia como poucos chegar às pessoas, dançar com uma varina, beber uma ginginha, descer as ruas numa arruada, sem que para isso tivesse de fazer da chicana política a sua casa, sem que tivesse de usar de expedientes de baixo carácter para sobressair na política.

Sinceramente e olhando para os actores políticos de hoje penso que perdemos qualidade, estando reféns de uma mediocridade que assustadoramente parece fazer escola.

A minha primeira memoria política provem da eleição de 1986 entre Soares e Freitas, foi aí que ganhei noções políticas do nós versus eles, abominando os que achavam que Soares era fixe, sonhando com a vitoria de Freitas para podermos resgatar Portugal das mãos da esquerda e dos perigos dessa gente...

A eleição foi debatida violentamente, feroz e disputada mas sinceramente se atentarmos aos dias de hoje podemos visualizar dois homens superiores, com imensas divergências, representando duas metades de um Pais mas no fim da linha, no descerrar do pano, souberam colocar Portugal à frente das suas ambições, dos seus desejos.

Foi o que fez Freitas ao perder, foi o que jamais, por exemplo, Trump fez nos Estados Unidos após perder com Biden.

Enfim tenho imensas diferenças com Mário Soares e o seu legado, a descolonização será talvez a maior delas, no entanto, não posso deixar de neste texto salientar a viva voz...

Mário Soares foi um dos nossos maiores.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

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