O clima do meu bairro.
JB
Esta semana o país foi palco de duas manifestações a acontecimentos muito diferentes.
Uma delas foi em protesto ao ministro do ambiente Duarte Cordeiro, mais especificamente ao facto deste ter ido a uma palestra patrocinada pela Galp e pela EDP. Algumas jovens que estavam na audiência decidiram interromper o Sr. Ministro e atirar-lhe tinta verde enquanto gritavam algumas palavras de ordem e manifestavam o seu desagrado por este, de alguma forma, estar a compactuar com essas grandes empresas que tanto prejudicam o nosso planeta.
O outro protesto foi a propósito do lançamento do livro "no meu bairro", algumas pessoas chegaram com palavras de ordem manifestar o seu desagrado com o facto desse livro usar linguagem inclusiva e falar sobre a disforia de género em menores de idade.
Ambos protestaram, ambos foram noticia, mas os casos são diferentes.
As diferenças que eu identifico são as seguintes:
1- Na manifestação das activistas do ambiente foi usada violência, elas agrediram o ministro e os palestrantes. Bem sei que ninguém esteve em risco de se ferir gravamente e até se pode argumentar que o ministro saiu beneficiado disto tudo, mas foi, quanto a mim, ultrapassada uma linha de civismo. Na manifestação das "pessoas de bem" foram usados megafones, ninguém ultrapassou essa linha imaginária do civismo que eu falei há pouco. Um ponto para eles.
2 - Na manifestação das activistas o protesto era acerca de um problema grave e real. Para quem acredita que o aquecimento global pode provocar danos irreversíveis e irreparáveis este tema é urgente e da maior importância. Bem mais grave e perigoso que o lançamento de um livro que só compra quem quer. Um ponto para as activistas mas 3 pontos para Duarte Cordeiro que reagiu com classe, elegância e compreensão de uma situação desconfortável.
3 - Uma nota pessoal: Simpatizo bem mais com as activistas. Compreendo e respeito as suas motivações. Admiro e invejo o brio com que lutam por aquilo que acreditam, infelizmente neste caso concreto fica muito difícil conseguir sair em sua defesa. É aquele velho adágio que tantas vezes se fala do 'perder a razão.' Até podemos estar carregados de razão numa determinada discussão, se passamos aquela linha imaginária, seja do insulto, da agressão ou do que for, o que está para tás não interessa e a sua importância é reduzida. Foi isto que aconteceu a estas jovens. Quanto aos outros, aos "portugueses de bem", a esses gabo-lhes o civismo mas mais nada. Não perderam a razão porque foram civilizados mas também porque nunca a tiveram. Quem é que no seu perfeito juízo vai reclamar contra a publicação de um livro? Por muito que não concorde com ele. Existem muitos livros com os quais todos nós não concordamos, passa na cabeça de algum de nós ir manifestar-se contra a sua publicação?
Só os livros com os quais concordamos é que têm o direito de existir?
Ridículos.
JB