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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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23.05.22

O Confronto Dos Meus Preconceitos


Filipe Vaz Correia



 

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Ontem caminhava pela Av. da República, no meu exercício diário, quando me deparei com uma cena que me deixou a pensar...

Aviso de antemão que este texto contém juízos de valor e talvez algum preconceito.

Quando me aproximava da Pastelaria Versailles observo um jovem com um certo ar de maltrapilho, meio palhaço pobre, sendo abordado por uma jovem Romena que agitava uma lata de moedas e um cartaz a falar dos filhos doentes e dos pais ausentes.

Depois de um instante de conversa percebo que o dito jovem colocou a mão no bolso e cedeu ao pedido da pedinte "profissional".

Avisei que continha preconceitos e juízos de valor.

Continuei a minha caminhada sem mais pensar no assunto...

Passado algum tempo, depois de almoço, passei novamente pela Av. da República, desta vez de carro com a minha mulher e qual não é o meu espanto quando encontro o dito palhaço pobre, de aspecto maltrapilho a fazer malabarismos num semáforo.

Olhei e não quis acreditar...

Como é que aquele jovem, sobrevivente de semáforos, decidiu abrir mão de uma moeda pela qual à chuva ou ao sol deve, malabarismo atrás malabarismo, lutar arduamente, desprovido destes meus juízos de valor ou preconceitos, preferindo se perder naquela história que me parece lhe foi vendida?

Ali estava ele, não a pedir, mas a servir-nos de arte, nos poucos segundos entre um encarnado e um verde.

Resolvi dar-lhe uma moeda, parte de mim quis acreditar que pela sua arte, outra parte de mim sabendo que talvez premiando a sua ingenuidade ou a sua crença no outro.

Continuo a olhar para isto como um lado ingénuo que não percebeu que lidava com uma pedinte "profissional" que dia após dia percorre esta avenida de Lisboa, por entre, a sua quadrilha tentando pela compaixão ganhar a vida.

No entanto, não pude deixar de olhar com alguma inveja e beleza este comportamento, esta vontade de partilhar.

Talvez ele esteja certo...

Talvez não.

Mas foi essencialmente bonito.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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