O Espelho E O Tempo...
Filipe Vaz Correia
O tempo...
Gostaria de vos pedir uma coisa:
Vão para perto de um espelho e olhem fixamente para ele...
Olhem para essa pessoa que vos aparece reflectida.
Agora...
Fechem os olhos e iniciem a viagem...
Quantas memórias e perdas segredadas?
Quantas paragens para saídas e entradas?
Encontros, reencontros, desencontros...
Ontem soube, por acaso, da morte de alguém que cumpriu comigo, esta viagem, durante os primeiros anos de minha vida.
Um amigo que se perdeu no tempo e que já não via há quase 25 anos.
Nesse misto de sentimentos, olhando para o espelho, fixamente, busquei reencontrar pequenos pedaços de memória que me havia esquecido, que se haviam entrelaçado com o desgaste deste turbulento quotidiano.
E então me apercebi que somos isso, apenas isso...
Uma mistura de tudos e nadas, de agoras e outroras, de vazios que se aglomeram partida após partida, restando apenas pequenas memórias de sentidos momentos que se esfumam nesse tempo intemporal.
Estranha forma de correria esta, numa maratona contra o tempo que nos molda a viagem.
E pensar que nestes 25 anos que se passaram, poucas foram as vezes que busquei tais memórias, sabendo que poderiam, provavelmente, passar outros 25 anos sem que nos voltássemos a encontrar.
Alguém que passou, partiu, mas ficou...
Mas a tristeza se apodera na mesma, talvez porque diante daquele espelho, desse meu envelhecer, sobra essa triste noticia, a assustadora sensação de sombra e pó.
Quantas pessoas que passaram por mim, me marcaram em determinado momento, desapareceram na injusta fracção de tempo, partiram ou se esfumaram por entre as histórias de vida de cada um?
O espelho...
O tempo...
Até sempre, Bruno.
Filipe Vaz Correia