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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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16.12.21

O Estranho Caso do Capote Alentejano


The Travellight World

fullsizeoutput_61feFoto: Artidina

Por entre notícias do ex-banqueiro foragido, do ministro que era “só o passageiro” e de processos que levam mais de 10 anos a chegar a tribunal e entretanto já prescreveram, achava que era difícil algo ainda me surpreender, mas eis que, como sempre, a realidade é mais estranha do que a ficção, e deparo-me com a notícia de que o capote alentejano, esse artigo tão português e tão tradicional, que apesar das suas origens humildes já vestiu reis, foi agora patenteado por um particular, que imediatamente começou a exigir, por carta registada, aos produtores alentejanos deste tipo de vestuário, que parem com as vendas ou em alternativa paguem a licença.

A carta começou por ser encarada como uma brincadeira de mau gosto, mas provou-se que afinal era verdadeira. Aparentemente o Instituto Nacional de Propriedade Industrial registou de facto a patente dos desenhos e modelo (requerida por alguém que nem alentejano é) porque não existia nenhuma antes e ninguém contestou esse pedido no prazo oficial (provavelmente porque ninguém sabia do pedido?)

Várias coisas me causaram admiração nesta notícia. Em primeiro lugar a coragem… ou devo dizer “chico-espertismo” e ganância de alguém que se aproveita de uma omissão para se apropriar de algo que é uma marca cultural de uma região. Depois, a atuação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, que confrontado com este pedido, não o questionou, passando-o à frente como se de um novo casaco se tratasse.

Mas não há nenhum tipo de proteção para o património artesanal neste país? Não consigo compreender este descaso com o que é nosso….

É claro que a Câmara Municipal de Évora e depois o Estado, através da Direção Regional de Cultura do Alentejo, vieram logo a correr exigir a anulação do registo do capote e da samarra alentejanas, mas o triste é a situação ter sequer chegado a este ponto.

Daqui a pouco um francês lembra-se de patentear o bacalhau cozido e lá temos nós todos que pagar royalties para o servir na consoada…

 

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