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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

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07.09.23

O Lobo das Estepes


The Travellight World

fullsizeoutput_7719Foto: Travellight | Parque do Fontelo, Viseu

 

Eu, lobo das estepes, corro, corro,

a neve cobre o mundo,

da bétula levanta voo o corvo,

mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.

E como eu amo os cervos!

Se acaso encontrasse algum,

prendia-o com garras e dentes:

é a coisa mais bela em que penso.

Com os sensíveis seria também sensível,

devorava-os todos de extremo a extremo,

bebia-lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso,

e solitariamente uivava pela noite dentro.

Contentava-me com uma lebre.

É tão doce à noite o sabor da sua carne quente.

Porventura foi-me negado tudo quanto possa, um pouco,

alegrar a vida, um pouco apenas?

A minha companheira, há muito que não a tenho,

o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,

e só quando há bastante luz é que vejo.

Agora corro e sonho com cervos,

ouço o vento soprar nas grandes noites de inverno,

e a minha alma dolorosa, entrego-a eu ao demónio.

 

Hermann Hesse (tradução de Herberto Helder)

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