O que querem as mulheres? E porquê?
JB
Sou do sexo masculino. Não sou propriamente uma criança e considero-me hoje uma pessoa com mais sabedoria e experiência do que alguma vez tive (como a grande maioria das pessoas de resto). Infelizmente (e precisamente pelo facto de ter nascido e crescido como homem) isso de nada serve quando o tema é o sexo oposto.
Não pretendo com isto dar uma de falso feminista e estar aqui a defender que apenas as mulheres podem falar de assuntos de mulheres (aborto, pílula, etc). Tenho opinião sobre todos esses temas e não acho que seja menos válida porque sou homem. Quero com isto apenas reconhecer a imensidão que nos separa e propôr, como tese, que apesar de sermos claramente todos da mesma espécie, as nossas semelhanças (mulheres e homens) resumem-se a isso, tudo o resto é diferente.
Usamos palavras semelhantes para comunicar é certo, mas mesmo o entendimento dessas palavras é completamente diferente caso sejam ditas por um homem ou por uma mulher. Em baixo deixo alguns exemplos para tentar clarificar o que afirmo:
*legenda para alguns dos desentendimentos típicos, coisas que para um homem (H) tem um significado literal (SL) e que para uma mulher (M), tem um significado figurado (SF); ou vice-versa.
"São só mais 5 minutos" - H-SL , M-SF
"Isso são pelo menos 20cm" - M-SL, H-SF
"Está tudo bem" - H-SL, M-SF
"Faz o que achares melhor que por mim é igual" - H-SL, M-SF
"Claro que sei o caminho" - M-SL, H-SF
etc...
Acredito que estes estereótipos de pequenas diferenças são apenas sintomas da diferença maior: somos de facto da mesma espécie, mas de planetas diferentes, Marte e Vénus possivelmente.
Os homens crescem num planeta simples, explicam-lhes a maioria das coisas, as outras eles vão descobrindo. Se houver algum problema, ele vem de fora.
As mulheres pensam inicialmente que vivem no mesmo planeta, simples. Nessa altura inocente e emocionante (em que sonham ser astronautas, princesas ou o sempre popular biólogas marinhas) o mundo complica-se. Ainda por cima, o 'problema' vem de dentro. Aparece sem aviso e de forma inesperada. Um desconforto interno, perto do estômago, que se transforma numa mancha de sangue, no momento em que a menina começa involuntariamente a dar lugar à mulher que há de vir.
Os homens não fazem ideia do que isto é. Não podem conceber os efeitos que isto provoca.
É inimaginável.
Posso supôr:
Imagino que seja assustador antes de mais nada. Vergonhoso até em muitos casos, dependendo se houve ou não alguma preparação para isso. É um assunto relativamente tabú e a não ser que exista um cuidador especialmente atento ou apto que esteja presente na vida dessa hipotética menina que eu tento imaginar, não vejo forma da experiência não ser profundamente traumática.
Esse confronto primitivo e sanguinário com o real é um corte abrupto com a própria identidade.
Acontece normalmente numa idade em que já se começa a ter uma ideia mais ou menos concreta de quem se é (10-15 anos), que efeitos provoca?
Freud disse uma vez qualquer coisa parecida com isto: "Com todas as minhas descobertas e pesquisas, até hoje não consegui responder à pergunta: O que querem as mulheres?"
Uma psicanalista brasileira a Selma Calasan Rodrigues, do alto da sua provecta idade e com uma vasta experiência com pacientes predominantemente femininas, num almoço entre amigos e tentando responder ao desafio de Freud disse-me: "O que a mulher quer é ser querida" .
Será que é isso? Interrogo-me.
Penso que a maioria dos homens não diria isso, diriam certamente muitas coisas diferentes mas provavelmente mais ambiciosas do que simplesmente "ser querido". Agora se esses homens crescessem nas mesmas circunstâncias, se numa fase crucial do seu crescimento começassem a acreditar que tinham algo vergonhoso dentro deles, um sangue que mancha tudo o que toca, que choca e impressiona alguém tão pequeno, um tema que torna as pessoas desconfortáveis e por isso não se fala, o que diriam? Especialmente depois de perceber, que iria ser sempre assim, por muito muito tempo. "Agora tens que lidar com isto, para sempre e uma vez por mês. Podes tomar coisas é certo, que te fazem x ou y como efeito secundário. Mas NUNCA te esqueças, ah e sim também é para sempre" (sendo que 40 ou 50 anos, naquela idade, é para sempre). Se os homens crescessem com este peso todo tão cedo, tão súbito e inesperado, como seriam? Diferentes certamente.
É inimaginável para um homem. Uma rotina para as mulheres.
Ainda assim, tento:
Imagino que todas as mulheres, mais cedo ou mais tarde compreendam o que passaram e vejam que não existe absolutamente nada de errado com elas, nada que necessitem disfarçar ou esconder. Que enquanto esse momento de compreensão não chega, as inseguranças ganhem raízes e se confirme o sentimento (tão comum na idade) que o problema está nelas.
Tudo isto provoca efeitos profundos certamente. Nalguns casos auto-conhecimento, uma maior dimensão emocional e maturidade, noutros casos traumas, vergonhas e um sentimento de inferioridade. Uma mistura de tudo isto e muito mais na maioria das situações certamente.
Só esta diferença biológica justificaria o facto de muitas vezes parecermos aliens aos olhos uns dos outros. Mas há muito mais diferenças e porventura ainda mais impactantes. Sobre essas ainda não me atrevo a escrever...
JB