Os espertos e os tontos
marta-omeucanto
"Quando os espertos só veem lucro e os tontos só veem preços baixos, eles ganham e nós só temos a perder."
Li isto a propósito de uma das marcas de moda mais populares de 2022, sucesso para o qual todos nós, consumidores, contribuímos, apesar da controvérsia, e de toda a informação que nos chega regularmente, sobre a exploração laboral e impacto ambiental negativo.
Sejamos honestos: apesar de, eventualmente, até tentarmos adquirir bens e produtos nacionais, que respeitem o ambiente, que tenham boa qualidade, de marcas e empresas que tratam os seus funcionários como colaboradores, e não como escravos, a verdade é que, quando olhamos para a discrepância entre os preços, nem sempre o bom senso leva a melhor.
Sobretudo, nos tempos que correm, com a crise que o mundo atravessa.
Se somos nós, consumidores, os únicos que podemos mudar isso?
Acredito que sim.
Se ninguém comprar, ninguém vende.
Mas é difícil dizer a alguém para não comprar determinado produto (com tudo o que de mau, directa ou indirectamente, o envolve) por cerca de 20 euros, para comprar antes outro, muito mais sustentável, amigo do ambiente e respeitador dos direitos humanos, por cerca de 70 euros.
Isso seria bom para quem pode.
Para quem tem poder de compra.
Não para o público-alvo destas marcas, que nos colocam à frente produtos que, fazendo basicamente o mesmo efeito, são pechinchas a que não conseguimos resistir.
E se, até mesmo quem tem dinheiro para outro tipo de produtos, faz questão de publicitar e comprar nestas marcas...
Como é óbvio, sabemos bem que, à custa de disso, são as marcas, "os espertos", que enriquecem cada vez mais.
Já nós, "os tontos", ficamos todos contentes com os produtos adquiridos, porque o que conta é o prazer e a poupança imediata.
A verdadeira factura, essa pagaremos mais tarde.
E, se calhar, só então perceberemos se, realmente, ficámos a ganhar, ou a perder.
Mas talvez já não estejamos cá nessa altura, e sejam os nossos descendentes a herdar a dívida, e a sofrer as consequências.