Os eucaliptos e o blá, blá, blá
The Travellight World
Li esta semana que o Governo português está a preparar a publicação de um diploma que prevê a plantação de mais de 36 mil hectares de eucalipto, distribuídos por 126 concelhos, sendo o Alentejo a região onde serão plantadas mais áreas.
Como se justifica ou sequer se explica isto?
Há décadas que se sabe que quando há um incêndio, o eucalipto é mais perigoso do que as outras árvores — As folhas e a casca são extremamente inflamáveis e as tiras de casca que pendem dos troncos são facilmente levadas pelo vento, ajudando a espalhar as chamas.
Como se estes factos não bastassem para limitar a plantação desta árvore originária da Austrália, vários estudos mostram que o eucalipto suga a (já escassa) água subterrânea, esgota os nutrientes do solo, elimina espécies nativas concorrentes e destrói o habitat da vida animal nativa (este efeito alelopático resulta dos produtos químicos libertados pelas folhas do eucalipto após a sua desintegração. O produto químico inibe o crescimento da vegetação terrestre circundante e afeta a a biodiversidade).
No século XVIII, o eucalipto foi introduzido pela primeira vez na Europa como planta ornamental. Devido ao seu rápido crescimento, prosperou em Portugal e foi muito utilizado na reflorestação e na prevenção da erosão. A partir de meados do século XX porém, começou a ser usado para fornecer matéria-prima à indústria do papel e da celulose e hoje a importação australiana é a árvore mais comum de Portugal, roubando lugar a carvalhos, loureiros, pinheiros, castanheiros e outras árvores nativas.
Os esforços para conter o seu crescimento encontram sempre oposição do poderoso lobby da indústria do papel que alega que tal proibição destruiria milhares de empregos e afetaria dramaticamente a competitividade da indústria portuguesa do papel e a balança comercial do país.
Alega também que a proibição de novas plantações levaria ao abandono de mais terras rurais o que igualmente aumenta o risco de incêndios.
Os ambientalistas concordam com a importância de reverter o despovoamento rural e melhorar o manejo florestal para ajudar a reduzir o risco de incêndios florestais. No entanto, dizem eles, medidas como a limpeza obrigatória da matéria morta da vegetação rasteira, a criação de zonas de segurança ao longo das estradas e ao redor de casas, devem ser combinadas com restrições ao eucalipto.
Os ativistas defendem a “substituição de espécies” — o plantio de barreiras de espécies nativas para servir como “árvores bombeiro” que são mais resistentes ao fogo (como carvalhos e castanheiros, por exemplo).
Em 2017, depois do incêndio florestal de Pedrogão Grande, que custou a vida a 66 pessoas e deixou mais de 250 feridas, a Assembleia da República proibiu a criação de novas áreas de eucalipto e a meta fixada pela Estratégia Nacional para as Florestas 2030, definiu que a espécie não pode ocupar mais do que 812 mil hectares de terreno em Portugal. Ainda assim, o mais recente levantamento já apontava para os 845 mil hectares e agora as notícias dizem que vão ser plantadas ainda mais!
… Como sempre, parece que fica tudo pelo blá, blá, blá. Já diziam os Gato Fedorento, falam, falam, falam, falam, mas depois não os vemos a fazer nada.
É como na cimeira COP26 (da qual António Costa esteve ausente) — o ambiente, a saúde e até a segurança das pessoas, acabam sempre por ficar atrás dos interesses económicos.