Portugal: Ser Racista Tornou-se FIXE?
Filipe Vaz Correia
Deparei-me nesta semana com a noticia da operação da PSP no Martim Moniz e com aquela triste imagem de uma quantidade indescritível de pessoas, rua acima, na Rua do Benformoso, encostadas à parede num cenário que poderia ter saído de um qualquer gueto de Varsóvia em plena Alemanha nazi.
Dir-me-ão que estou a exagerar, pois julgo que talvez não, não só pelos números pífios da dita operação, assim como pela postura do actual Governo, assim como, pelo seu discurso oficial.
Montenegro e o PSD disseram Não ao Chega, mas pelos vistos não o disseram aos seus princípios e valores, tentando a todo o custo captar um eleitorado extremista e populista...
E se para isso tiverem de adoptar um discurso securitário, desfasado da realidade, carregado de preconceito e discriminação, tanto melhor.
A utilização da PSP para este tipo de acções, carregadas de intenções políticas, incorre num perigo que muitos não entendem, é que aquilo que Pedro Nuno Santos disse, é mesmo verdade:
"Primeiro fazem aos imigrantes e depois será aos Portugueses."
Este momento levou-me a um poema de Martin Niemoller, no tempo da Alemanha Nazi:
" Primeiro eles vieram buscar os socialistas, e eu fiquei calado;
porque não era socialista.
Então, vieram buscar os sindicalistas, e eu fiquei calado;
porque não era sindicalista.
Em seguida, vieram buscar os judeus, e eu fiquei calado;
porque não era judeu.
Foi então que me vieram buscar, e já não havia ninguém para me defender."
Neste momento, este tipo de acções policiais reside em cidadãos estrangeiros, de etnia diferente, sobretudo do Industão, no entanto, mais tarde e limpa deste tipo de "escumalha", certamente se erguerão vozes de bem a apontar outros focos da impureza em Portugal.
Porque não os Maricas?
E depois a esquerdalha?
E os pretos?
E os ciganos?
Esses serão certamente lembrados.
Na Alemanha Nazi este fervor terminou nos deficientes, pois mesmo que estes tivessem nascido Arianos não representavam a raça perfeita do III Reich.
E pensar em Goebells...
Esta operação policial, feita com braço político e com intuito racista e xenófobo, leva-nos a questionar até que ponto não estamos a assistir a uma perigosa deriva autoritária que poderá corroer o regime democrático...
Não nos insurgirmos contra este tipo de actos, sejamos de esquerda ou de direita, é demitir-mo-nos da nossa obrigação de lutar pelos valores democráticos que nos deveriam guiar como Pátria.
Ao ouvir o regozijo de alguns trolls da extrema direita Portuguesa em relação a estes actos, com apelos quase Nazis, persiste em mim uma questão:
O que pensariam os Arianos do III Reich ao olhar para os puros Machados ou Venturas?
Que, certamente, seriam Marroquinos, pela tez ou a barba mal amanhada.
Traje às riscas e comboio marcado rumo à Polónia.
Mas explicar isto a quem vergonhosamente não sabe, ou se calhar sabendo opta por desconhecer.
Filipe Vaz Correia