Presidentes made in comunicação social
Sarin
O meu Presidente nem sempre é aquele em quem voto. Mas, a partir do momento em que o candidato mais votado é investido, passa a ser meu e de todos os meus concidadãos. Para o bem e para o mal, uma figura que nos representa a todos.
E que é quase decorativa. Quase, não fossem o poder constitucional de nomear o Primeiro-Ministro e de dissolver a Assembleia da República, e o poder mediático de cada indivíduo que desempenha a função.
Deste último poder, ou capacidade, depende a maior visibilidade do nosso Presidente. As acções políticas para as quais está investido pouco contam, por discretas - um veto aqui, uma aprovação ali, a muito importante função de nos representar junto de outros Estados... e tudo o mais será ingerência, mesmo que travestida de boa intenção. Como o foi a muito mediática reunião do actual PR com o Director Nacional da PSP para falar sobre um assunto que envolveu o SEF, entre várias, demasiadas, outras, estas também acções políticas mas à revelia dos seus deveres.
São estas atitudes indeterminadas que nos deveriam preocupar: porque dependem inteiramente da personalidade do indivíduo, as suas simpatias político-partidárias e religiosas pesando menos do que a sua fotogenia mas ajudando a virar o sol para o ângulo que lhe será mais doce. E a Comunicação Social faz a fotografia com tal produção e aparato que se diria preparado para a audiência. Por vezes é e disso não passa. Mas vende, e perpetua um vício do nacional sistema eleitoral, pois que vende por na CS quererem vender, caíssem sobre o PR quando se desvia das suas funções, apontando-lhe as falhas e indicando as limitações, e atentassem os cidadãos nestes desvios, e outro vício haveria, talvez, mas não este, tão reles, tão redutor da tão importante figura presidencial.
Que nos desvia do essencial: a personalidade do candidato deveria importar, sim, mas para projectarmos a maior ou menor dignidade que dará às suas acções enquanto nosso representante, por dignidade cada um cidadão entendendo o que quiser.
Para aquilatarmos a maior ou menor facilidade, o maior ou menor rigor com que o futuro incumbente desempenhará os seus deveres, avaliemos a preparação ou impreparação para o cargo, e por preparação leia-se o conhecimento da Constituição e a compreensão da relação entre Poderes. Que, julgando pelas entrevistas a que tenho assistido, é afinal é o que menos importa. Só assim consigo perceber os entrevistadores confrontando os entrevistados com algumas perguntas, até questões, que ultrapassam as competências de um PR, enquanto escrutinam algumas opções políticas elevadas a uma importância desmedida - pelo menos, não certamente medida como etapa de um percurso.
Esta mesma comunicação social que marca entrevistas com seis dos oito candidatos, dos quais três apresentaram agora irregularidades na candidatura, mas que não explica porque deixou os outros dois de fora.
O tempo de antena falseia-se assim. O que, somado ao tal poder mediático de cada um, desvirtua toda a análise que queiramos fazer.
Bem sei que é fim de ano e deveria talvez ter feito um balanço de 2020. Mas não me apeteceu, as retrospectivas servem para melhorar o futuro e esta pandemia ainda vai a meio do adro, como a procissão de crises que nos surgem por todo o mundo, em catadupa. E faltam 25 dias para as eleições, é mais do que tempo de atentarmos na máquina de fazer e desfazer presidentes que é a nossa Comunicação Social. É mais do que tempo, também, de deixarmos de aplaudir as manobras populistas de alguns candidatos.
Voltaremos a falar sobre estes. Mas, antes disso, boa viragem de página no calendário, e que 2021 vos comece risonho.
E fiquem muito bem. Com muita Lena D'Água e muito pouca demagogia.
Lamentando ter-vos falhado na semana passada, desejo que tenham tido o melhor Natal possível. E, desta vez mais do que nunca, que possamos celebrar o Natal quando quisermos e com quem pudermos.