Reflexões Cá Da Terra
Filipe Vaz Correia
Das Jornadas Mundiais da Juventude ou de algo que ainda ninguém não percebeu bem… Ou não quis perceber…
Os últimos dias surpreenderam-me pela apologia da juventude no espaço da nossa sociedade. Surpreenderam-me pela positiva, no sentido em que vi (e não foram poucos) muitos daqueles que a desprezam em privado, acenarem a paixão pela mesma em tudo o que era publicações, comentários e entrevistas. Temo que um país que justifica um “investimento”, para já de 35 milhões de euros por parte dos seus cidadãos, para ter durante uma semana as ruas cheias de jovens esteja, de facto, a passar um péssimo momento. É uma espécie de pagar para ter outras coisas quando em casa não se faz.
Foram últimos dias em que, mais uma vez, a pedofilia parece ser uma coisa perfeitamente aceite por nós, onde um presidente que obrigou ao gasto de milhões por capricho e até fanatismo religioso e que vive de e faz favores à igreja (até a avisa que a Polícia e o Ministério Público lhe vão bater à porta), onde uma classe política e não só se associou para com isso colher popularidade, e onde um povo mais uma vez se volta para onde lhe dizem que tem de ir sem sequer perguntar “e se?”. Na verdade, há muito que sabemos que a proximidade com estas e outras instituições aumenta o orçamento ao final do mês, sobretudo quando se trata de ascender a esta ou àquela posição – há coisas que nunca mudam.
Não obstante, espero que agora, após da histeria mediática e de muitos de nós nos termos transformado em poucos dias (inclusive sermos católicos nem que seja para a foto e porque fica bem), possamos finalmente permitir e promover que as nossas crianças e jovens possam ocupar o espaço público em todas as suas formas. Que possam brincar nas ruas, que se possam sujar e correr, usufruir das cidades e da natureza sem necessidade de um slot de ATL específico para aquele dia da semana. Esperemos agora que todos, entretanto estamos tão mudados, possamos promover a ocupação do centro das cidades pelos nossos jovens, que lhes possamos dar condições para, em idade laboral, poderem trabalhar e ter uma vida estável e com objetivos minimamente realistas em Portugal. Que possamos ouvir os jovens e as suas ideias, sem serem jovens com nome pomposo e ligados a interesses partidários que são promovidos a vozes da juventude na comunicação social. Vamos apostar mais nos jovens e na interação que estes têm com os mais velhos - é importante não esquecer os mais velhos que estão a ficar bem lá para trás e a cair no mundo moderno de Houellebecq onde “era permitido trocar a toda a hora, ser bi, trans, zoófilo, sadomaso, mas era proibido ser velho”. É fundamental deixar fluir trocas de experiências únicas e enriquecedoras para a sociedade, para o trabalho e para um outro sem número de desafios que o mundo nos coloca. Afinal, este ano os velhos foram colocados no velhão no que concerne a atividades de verão – muitos só colocavam o pé na areia e sentiam o aroma da brisa marítima nesta altura. Varreram-se os velhos que este ano não tiveram direito. Dessa parte falou-se pouco ou os velhos (os maus) que pululam pela nossa política e comunicação social provavelmente vivem num outro mundo onde ser velho até traz vantagens, nem que seja para fugir aos crimes do passado.
Mas é agora que vamos deixar espaço para que aquele grupo de jovens possa ocupar o jardim lá do bairro e até (sem rótulos associativos e dependência de…) trazer brilhantes ideias, afinal o "act local thinkglobally" não sai de moda. Vamos deixar esses jovens pensar por si sem que a escola se torne um veículo de imposições comportamentais, mas de desenvolver crianças, jovens e adultos responsáveis e capazes de exercer a cidadania.
Vamos permitir que os jovens tenham espaço para desenvolver as suas competências e não serem obrigados a imigrar enquanto lá bem longe assistem a notícias de Portugal onde se lamenta a falta de mão-de-obra e a necessidade de promover condições excecionais para que outros venham ocupar os lugares vagos. E no entretanto, continuamos à espera do balanço (que nunca virá) e de perceber porque é que se gastaram milhões com uma equipa comandada por alguém de nome “Zé” (pelo menos enquanto em tempos foi candidato a um município, depois já exigia ser tratado por engenheiro) que, à semelhança de tantos outros, inclusive o atual presidente, e num país digno desse nome, ou já estariam afastados de tudo o que era cargo público ou a responder em tribunal.
Num país que gasta milhões para ficar espantado e feliz por ver jovens ocuparem as ruas durante cinco dias, não tenho dúvidas que alguns dos melhores KPIs passarão pela aferição de muitos dos fatores que descrevi acima. Caso contrário, é mais um “andrà tutto bene” que sabemos sempre como acaba... Ou nem começa.
Bruno ( Robinson )