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sardinhaSemlata

Um espaço de pensamento livre.

sardinhaSemlata

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16.12.20

Se o SEF o dá, o MAI o leve


Sarin

Somos um país de emigrantes.

Aparentemente, recusamos ser um país de imigrantes.

 

Não, não me refiro aos xenófobos cuja mente nunca foi além da Taprobana, o eterno tasco com sandes de rissol e combinados nas raianas cercanias. Menos falo dos que, mais viajados, glorificam um passado que nunca foi nosso. É ao Estado que quero invectivar, o meu Estado, que recebe os imigrantes com uma polícia a que chama Serviço de Estrangeiros. E Fronteiras, o fosso instalado entre quem chega e quem recebe.

Ihor Homeniuk morreu às mãos desta polícia. Foi torturado, morreu à guarda do Estado e teria ficado guardado como morrido de morte natural em vez de por morte matada se não fosse a insistência de algum jornalismo.

Tudo nesta história é mau e está mal contado, desde o motivo do interrogatório a Ihor até à aparente omissão do Ministro. Mas há mais história para lá desta história.

 

Não são recentes os relatos de abusos e maus tratos a imigrantes, revistas sem motivo, isolamentos para interrogatório, constrangimentos à presença de advogados. São conhecidas as exigências absurdas de documentos, como o atestado de residência que não é passado sem trabalho que não é dado sem atestado de residência. Ressoa arbitrariedade nos pedidos de apresentação perante balcões diversos, hoje em Lisboa daqui a 3 meses em Braga, num turismo absurdo imposto a quem trabalha para comer num país onde não nasceu nem se sabe bem-vindo.

Muitas são as vítimas às mãos desta polícia que é Serviço de Estrangeiros mas que, assim, mal os serve e não nos serve. Vítimas humilhadas, amedrontadas, abusadas por estes servidores dos Estrangeiros e do Estado. Vítimas humilhadas, amedrontadas, abusadas por esta polícia mas, acima de todos, pelo meu Estado, descoordenado nas actividades inspectivas dos seus servidores, negligente na sua selecção, preparação e acompanhamento, modesto na sua retribuição, omisso na sua responsabilização.

São todos maus, os polícias desta polícia? Não, claro que não, e muitos haverá tão chocados como eu. Espero eu. Polícias que, como muitos outros servidores do Estado, trabalharão com as condições possíveis, não com as desejáveis, a sua carreira menos reconhecida e a sua segurança menos garantida do que o merecido.

Mas ninguém merece morrer.

E quando num serviço ocorre uma morte, e se encobre a sua causa, e o tempo se arrasta sem consequências...

... quando sobre um serviço se ouvem queixas, se vêem abusos, se lêem zero reclamações...

... somos obrigados a parar e a pensar no muito errado que está o desenho de tal polícia que faz um serviço destes. Forçosamente, temos de parar esta polícia.

 

O Ministro...

... que leu os relatórios e os alertas sobre a infiltração da extrema-direita nas forças policiais portuguesas...

... que sabe ter o Movimento Zero na PSP e na GNR...

... que considerou medida suficiente a Direcção Nacional da PSP mandar os seus elementos retirarem as tatuagens racistas visíveis...

... que não estranha ter 0 reclamações no livro de reclamações do SEF enquanto tem conhecimento das inúmeros queixas noutras plataformas, que deliberadamente ignora...

.... que esperou 9 meses para ter notícias da Inspecção-Geral da Administração Interna, as quais, por sua vez, não encaixam nas notícias que chegam de outras entidades...

Eduardo Cabrita já anunciou a reestruturação do SEF a partir de Janeiro.

Desconfio que se manterá em funções até então. O que apenas me fará sentido quando ler nos jornais sobre uma qualquer muito longa e muito secreta operação de identificação e purga dos elementos que ameaçam a segurança dos cidadãos que deviam proteger.

Suponho que terei de aguardar para ver.

Entretanto, sentem-se também e sintam-se à vontade para regurgitar indignação, que o caso não é para menos mas durará mais, muito mais.

E fiquem tão bem quanto puderem. Por aqui, ao som de... talvez mais logo. Por agora, Silêncio por Ihor e por todas as vítimas da violência policial do nosso Estado.

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