Sobre o Governo, as Vagas, os Médicos e os Cursos de Medicina...
Triptofano!
O Governo dá ordem para aumentar o número de vagas nos cursos de medicina mas a Ordem dos Médicos defende que é praticamente impossível acomodar no ensino teórico e clínico mais 15% de estudantes.
Afinal, existe falta de médicos em Portugal ou não?
A carência recorrente de médicos de família e a contratação de profissionais de saúde estrangeiros diria que sim, que existe falta de médicos em Portugal, mas há quem defenda que o problema é o diminuto número de vagas para especialidade, que deixam os médicos acabados de formar numa espécie de terra de ninguém.
Talvez mais importante do que aumentar o número de vagas nos cursos de Medicina, amontoando estudantes e dando-lhes uma educação de menor qualidade, faria sentido perceber porque é que certas medidas ainda não foram corajosamente tomadas por qualquer Governo, muito talvez com medo de enfrentar o Lobby associado à medicina.
Será normal que o curso de Medicina, sendo tão atractivo, seja por questões de status ou de vocação, não tenha ainda sido disponibilizado na oferta das universidades privadas? Será mais importante limitar a oferta de forma a ter mais poder negocial com o Governo do que garantir o acesso igualitário de todos os cidadãos à saúde? Estamos perante um novo negócio de diamantes, onde se controla a entrada no mercado do produto de forma a conseguir manter os preços elevados do mesmo?
É aceitável que um estudante de Medicina, após completar o seu percurso académico, grande parte financiado pelos impostos de todos nós, vá trabalhar em exclusividade para o sistema privado ou decida sair do país? Estamos então a pagar duplamente pela nossa saúde? Pelos que formamos em Portugal e pelos que vamos buscar lá fora, muitas vezes com uma formação muito mais débil do que aquela que é ministrada no nosso país? Fará sentido assim continuar com cursos de Medicina públicos que não resultam em mais valias para o público em geral?
Se existem concursos de professores, onde os mesmos são colocados onde há necessidade, porque não os há para os médicos? Ou é apenas louvável ser-se médico num grande centro urbano, a trabalhar num hospital ou numa clínica fina, deixando os mais vulneráveis e com menos recursos abandonados a uma oferta de saúde muito mais parca?
Não se deseja que um licenciado em Medicina seja considerado carne para canhão, nem explorado ou degradado, mas na nossa vida pessoal, quando fazemos um investimento esperamos colher dividendos. Porque raio é que achamos que o Estado tem de fazer investimentos no vazio?