Não conto ao vento;
Com medo do vento contar;
Contando por um momento,
Contando sem parar...
Cada imagem deste sentimento;
Que sentindo quero gritar,
Gritando com alento,
Este meu imenso amar..
Este imenso amor;
Que um dia foi só teu.
Foto: Travellight | Ilha do Príncipe Ilha do Príncipe «Suave, doce, lânguida ilha De transparências súbitas» A ilha do príncipe que o Ruy Cinatti amou Surgia devagar E ele debruçado na amurada do navio A viu emergir dos longes da distância No lento aproximar Flor que desabrocha à flor do mar Entre alísios vidros e neblinas Na salgada respiração da vastidão marinha Na transparência súbita Eu cheguei mais tarde no ronco do avião Na bruta rapidez Porém também eu me (...)
Foto: The Travellight World | Convento de Cristo, Tomar Não basta abrir a janela Para ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego Para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. — Fernando Pessoa —
Foto: Travellight | Burano, Itália Gato na janela Da janela vê o mundo Que se permite mostrar Fica horas só olhando O dia que vai passando Tranquilo, observando O vai e vem sem cessar. Logo cedo ele se aloja Depois de se espreguiçar Primeiro quer um afago Em seguida, sem embargo Começa a me rodear Para que eu abra a janela E espreita, através dela, Do alto do sexto andar A vida que vai passando E ele ali, só olhando Nem percebe ela passar. Daqui de dentro, pensando Meu gato analisando Sozinha fico a cismar
Foto: Travellight | Borba, Alentejo A um gato Não são mais silenciosos os espelhos Nem mais furtiva a aurora aventureira; Tu és, sob a lua, essa pantera que divisam ao longe nossos olhos. Por obra indecifrável de um decreto Divino, buscamos-te inutilmente; Mais remoto que o Ganges e o poente, É tua a solidão, teu o segredo. O teu dorso condescende à morosa Carícia da minha mão. Sem um ruído Da eternidade que ora é olvido. Aceitaste o amor desta mão receosa. Em outro tempo (...)