Tudo quanto ali está, quebrado mas vivo…
The Travellight World
Foto: Travellight | Partenon, Atenas
“De manhã voltei à Acrópole sozinha e escrevi “Sophia Setembro de 1963” numa parede do Partenon, na frontaria à direita, numa reentrância: coisa bárbara e selvagem mas que tive de fazer.
Estive sentada no templo da Atena Niké.
A impressão de religiosidade é a mais forte que tenho visto. É a impressão dominante do Partenon e de toda a Acrópole e de toda a Grécia. Este país deslumbrante é um lugar de exaltação e não de gozo.
Mas está tudo quebrado. E as ruínas que vemos são a imagem justa desta exaltação do Homem em frente do Universo, exaltação que se quebrou. Só aqui e além a recuperamos: em frente do mar, nalgumas praias.
Tornei a ver o Museu da Acrópole sobretudo as duas Korés que estão na sala do fundo. Estive muito tempo sentada em frente delas.
Felizmente também desta vez fui sozinha.
Entre as pessoas que estavam na Acrópole esta manhã havia turistas em rebanho e curiosos apressados. Mas havia também pessoas que estavam cheias de uma infinita liberdade, sentadas à sombra de uma coluna, atentas, caladas, quietas, deslumbradas, vivendo um momento por que tinham esperado e sonhado, vivendo tudo quanto ali está, quebrado mas vivo…”
Sophia de Mello Breyner Andresen,
(Fragmentos do diário manuscrito na primeira viagem à Grécia em 1963)