“Um Companheiro Chamado Alzheimer”
Filipe Vaz Correia
Um dia claro, num outro dia tudo escuro...
Num momento o mundo meu, num outro momento o mundo desconhecido, sem rostos, sem afagos ou abraços.
Num instante aquele olhar, num outro instante o vazio...
Uma palavra que chega e sossega o coração, num singelo pestanejar a mesma voz inquietando a alma.
Tanta certeza, numa incerta vontade que não controlo, nesse descontrolado destino que se assemelha ao destemperado querer pueril.
Num momento um velho, num outro um recém-nascido, sem forças para expressar tudo o que um dia foi aprendido, num ápice desaprendido.
Estou aprisionado dentro do incógnito esquecimento de mim mesmo, dos meus, de tudo e de todos...
E a cada assomo de recordação, em cada pedaço do que outrora foi construído, um sorriso vitorioso, para em seguida tudo se desvanecer numas trevas infinitas, infinitamente desperançadas.
Alguns chama-lhe Alzheimer, outros despedida...
Eu apenas lhe chamo realidade.
Filipe Vaz Correia